
Atrasos e cancelamento de voos pelo apagão cibernético global provocaram filas gigantes em muitos aeroportos, como neste, em Singapura
Em uma fria tarde de inverno, uma empresa de tecnologia desconhecida desenvolve um sistema e o vende como a solução para a segurança do mundo digital. Mas o sistema interpreta sua programação de maneira inesperada e passa a ameaçar a sobrevivência da humanidade.
O roteiro acima poderia ser facilmente adotado por um filme de Hollywood, mas, na realidade, é a expressão exata do apagão cibernético causado na madrugada desta sexta-feira (19) pelo sistema Falcon da desconhecida Crowdstrike.
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A Crowdstrike é uma empresa de segurança cibernética que, apesar de ter um valor de mercado de US$ 7 bilhões e prestar serviços de segurança para várias bigtechs (Microsoft e Google, por exemplo), é pouco conhecida do grande público.
A empresa tem no portfólio o sistema Falcon, uma plataforma unificada de segurança digital projetada para utilizar Inteligência Artificial (IA) e automação para prever e interromper ameaças de maneira automática. Ela monitora os computadores nos quais está instalada para detectar invasões e responder a elas.
Essa solução é muito utilizada em servidores, computadores poderosos que têm papel crucial na Internet, e em sistemas de nuvens como o Azure, da Microsoft. Eles armazenam, enviam e recebem dados na rede. Se um servidor para de funcionar os dados e sistemas alocados nele se tornam inacessíveis e interrompem o seu funcionamento correto.
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Pelo que a Microsoft e a Crowdstrike informaram, uma atualização do sistema Falcon que trabalha em servidores com Windows parou simultaneamente diversos servidores de empresas de aviação, bancos, mídia, serviços de comunicação, de emergência (como o 190) e de saúde, causando um caos em nível global ou para os mais espirituosos da Internet: o “Dia Internacional da Tela Azul”. A brincadeira faz referência ao fato dos servidores com Windows estarem apresentando a famigerada e desagradável tela de erro azul.
Embora as duas empresas afirmem que estão trabalhando para resolver o problema, os prejuízos já podem ser sentidos com voos cancelados, contas bancárias inacessíveis e até cirurgias adiadas. No mercado financeiro, as ações da Crowdstrike caíram mais de 12% antes da abertura do pregão das bolsas americanas.
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Como em boa parte dos filmes de Hollywood, este também deve ter um final feliz. Mas até quando? A estrutura tecnológica atual nos torna cada vez mais reféns de pessoas e empresas desconhecidas, nas quais somos obrigados a confiar por total falta de opção. Este incidente alerta para a importância da construção de estratégias paralelas que possibilitem um plano B.