Da entrevista exclusiva concedida pelo presidente Lula ao Estado de Minas/TV Alterosa, extrai-se a nítida impressão de que ele está convicto de que será reeleito. Talvez não tanto pelo desempenho que ostenta hoje o seu governo: a mais recente pesquisa DataFolha realizada entre 2 e 4 de dezembro, aponta para um índice de 32% de avaliação positiva, associada aos conceitos ótimo e bom e 37% avaliam-no negativamente, atribuindo-lhe conceitos ruim ou péssimo.

O presidente talvez mire o seu antecessor e compare: em momento similar do mandato, Jair Bolsonaro exibia 22% de avaliação positiva e 53% de avaliação negativa. Perdeu o pleito, inaugurando a era dos presidentes não reeleitos no Brasil. Mas foi uma derrota por um triz.

Entendendo ter sido Bolsonaro um governo antissistêmico e disruptivo, que carregou o ônus de uma desastrosa – senão criminosa – gestão da Covid-19, talvez Lula prefira comparar-se a si próprio. Em dezembro de 2005, no auge da crise do Mensalão, contava com 28% de aprovação e 29% de reprovação. No ano seguinte, foi reeleito.

Entre 2025 e 2005 se vão duas décadas. Inaugura-se uma nova era, da tecnopolítica. A centralidade dos fluxos planetários de informações foi transferida para as mídias digitais, controlada por algoritmos, que tendem a cristalizar afetos e desafetos em bolhas de narrativas, que pouca conexão guardam com os fatos.

Lula demonstra grande lucidez e agilidade mental ao longo da entrevista, deixando evidente que se reeleger do alto de seus 83 anos não será por falta de capacidade cognitiva que irá fracassar. Supõe-se, portanto, que tenha perfeita dimensão dos desafios de comunicação que um governo como o seu enfrenta. Se assim é, a convicção de que será reeleito, venha, talvez, da bateria de obras e programas sociais que está espalhando pelo país.

 

Para Minas, nesta entrevista, Lula salientou investimentos de R$ 14 bilhões em leilão que será aberto na BR 381; plano de reforma em 95% das estradas federais no estado; o programa “Mais Especialistas”, rodando o país em caminhões itinerantes para atendimentos no âmbito do SUS; ambulâncias odontológicas com igual propósito; o programa social Pé de Meia voltado para o incentivo de jovens vulneráveis para completar o Ensino Médio; a contratação de dois milhões de moradias no programa “Minha Casa, Minha Vida”; e mencionou a Caravana Federativa, lançada em Belo Horizonte nesta quinta, que abre interlocução direta entre governo federal e prefeituras municipais para a solução de demandas diversas das cidades, rompendo o bloqueio político que lhe impõe o governo Zema no estado.

Além disso, no contexto macroeconômico, Lula desfia os indicadores mais baixos da série histórica de desemprego, que estão acompanhados do aumento real da massa salarial média do brasileiro. Ele lembra que, em 2026, a população que ganha até R$ 5 mil terá isenção do Imposto de Renda. E não deixa de reconhecer o machismo e a culpa masculina nos indicadores de violência contra a mulher. Será que daí vem a convicção de Lula sobre sua reeleição?

Em momento de descontração, Lula chama ao debate o governador Romeu Zema (Novo), áspero crítico do governo federal e candidato ao Palácio do Planalto. O presidente enfia os dedos na ferida: diz que Zema não pagou as parcelas da dívida do estado com a União em “oito anos” de governo – e aí vai uma imprecisão, pois foram seis anos.

O presidente acrescentou que, em seu governo, pela intervenção do senador Rodrigo Pacheco (PSD), foi negociada e articulada a boia de salvação para que Minas solucione este problema estrutural pelo Programa de Pleno Pagamento das Dívidas de Estados (Propag).

Lula pinçou antigas postagens de Zema, em que ele come uma banana com casca quando criticava a inflação. Chamou o governador de “político que vive na gracinha da internet”, desafiando-o: “Ano que vem é o ano da verdade (...) Vamos ver quem fez o que em Minas Gerais”, sugeriu Lula.

O que Lula parece não considerar plenamente – ou se o faz evita admitir, porque não lhe convém – é que, nesta nova era, a política é mediada por algoritmos. Ao contrário de neutros, tendem a lhe ser hostis. Até por isso, aproximadamente um terço da população brasileira – talvez um pouco mais – têm sentimentos fortes e negativos em relação à sua pessoa e ao PT, o que tende a tornar qualquer eleição muito difícil.

Como indicam os cenários de simulação em segundo turno, seja Zema o adversário ou seja um dos Bolsonaros, o desafiante que alcançar o segundo turno para o confronto com o incumbente que concorre à reeleição vai convergir a massa da rejeição, o que tende a transformar qualquer segundo turno em um embate muito duro. Quem tem a máquina sai em vantagem. Mas, Bolsonaro, os democratas e os republicanos americanos que o digam, até que ponto a probabilidade de reeleição de um presidente alcança as urnas.

Dito tudo isso, e de volta a Minas Gerais, Lula teceu elogios – e fez merecida homenagem - ao senador Rodrigo Pacheco, liderança mineira com escopo de estadista, a quem segue em expectativa que concorra ao governo do estado.

“Ele pensa que eu desisti, eu não desisti. Eu não desisti (...) Nós temos todo o tempo do mundo ainda”, declarou o presidente, em referência à relutância do senador em entrar na disputa mineira, principalmente depois de ter ficado sem legenda. O vice-governador Mateus Simões deixou o Novo e filiou-se ao PSD.

Com a dimensão da importância desse estado pendular, que marca a fronteira Norte-Sul entre o lulismo e o antipetismo/bolsonarismo no país, Lula quis passar confiança. Diria Zygmunt Baumant, criador do conceito de modernidade líquida: “Vivemos tempos em que as certezas derretem mais rápido do que podemos reformá-las”.

Fato é que 2026 bate à porta. Para resolver Minas - estado pelo qual passará a vitória seja do incumbente ou do desafiante -, Lula não terá todo o tempo do mundo.

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