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Assim como foi no Rio de Janeiro e em São Paulo, Lula chega a Minas rebocando as principais pastas de seu governo. Quer prestar contas nas capitais dos estados, que são os três maiores colégios eleitorais do país, governados por bolsonaristas.

Mais do que anunciar polpudos investimentos para Belo Horizonte, Lula inicia a costura política para a sucessão da Prefeitura de Belo Horizonte. Em São Paulo e no Rio, a disputa caminha para em boa medida reproduzir a polarização do cenário presidencial, entre, de um lado, bolsonaristas e antipetistas e, de outro, lulistas e antibolsonaristas.

Enquanto em São Paulo o PSD embarca como coadjuvante no barco de Ricardo Nunes (MDB) e de Bolsonaro, no Rio de Janeiro, por Eduardo Paes (PSD) e possível vice do PT será feito o enfrentamento político.

Se nas duas cidades Lula trabalhou na formatação da disputa, em Belo Horizonte, PSD, PT, PDT e Psol ainda batem cabeça. Todos lançaram candidaturas próprias. Mas de Lula, até agora, ouviram o silêncio.

O presidente já recebeu o deputado federal Rogério Correia, pré-candidato do PT, fala com simpatia da deputada federal Duda Salabert (PDT) e da deputada estadual Bella Gonçalves (Psol). De Fuad Noman (PSD), guarda o gesto de apoio nas eleições presidenciais.

Ainda sem se posicionar na disputa belo-horizontina, Lula, entretanto, já deixa claro para o que trabalha em 2026 na sucessão de Romeu Zema (Novo). O presidente alinhava a candidatura ao governo de Minas do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD), em aliança com o PT. Para chegar lá, tem de pagar pedágio na sucessão municipal de Belo Horizonte.

E nesta, o trabalho nem começou: é preciso unificar o PSD, trazer o ex-prefeito Alexandre Kalil – liderança influente da capital mineira –, e convencer o PDT de Duda, neste momento com maior tração na arrancada em primeiro turno. Alinhavar a candidatura de Rogério Correia a este projeto. Convencer também o Psol a retribuir a aliança de São Paulo com apoio em Belo Horizonte. E para o prefeito Fuad Noman, assinalar de forma mais incisiva o compromisso com esse projeto político.

Ao longo do último ano, em nome da governabilidade, Fuad Noman trouxe para o governo o secretário de Estado da Casa Civil, Marcelo Aro (PP), do núcleo duro do governo Zema. Esse gesto, se por um lado lhe garantiu uma base de apoio maior na Câmara Municipal, por outro trouxe ambiguidade e afastou adversários de Aro, que estão em seu próprio partido.

Lula está acostumado a andar em zonas de conflito. Por isso, quis ouvir ontem à noite, em jantar na casa de Walfrido dos Mares Guia, as muitas versões da política mineira. Lula em Minas está rouco de tanto ouvir. O cenário aqui, por ausência de lideranças expressivas, é marcado pela fragmentação. Sobre vidro espatifado, anda-se, em primeiro lugar, calçado. E em segundo, com prudência para não esmigalhar mais os cacos. Sapatos, o presidente tem. A cola, ainda não. Mas pelo histórico, convém não duvidar.

Zema e Lula

O governador Romeu Zema (Novo) vai participar, no Minascentro, do evento presidencial que vem sendo chamado de “prestação de contas”, no qual Lula também anunciará investimentos para BH e o estado. No acordo selado para a participação, está um encontro reservado ao final. Além da dívida de Minas com a União, Zema quer tratar sobre as estradas federais – algumas estadualizadas na época de Itamar Franco – e o pagamento de indenização pela tragédia de Mariana.


Mais ouvidos

Se Lula está mais disposto a ouvir do que a falar sobre a sucessão de Belo Horizonte, o prefeito Fuad Noman anda na mesma vibe. “Estou interessado em trazer investimentos e obras para Belo Horizonte. Mas se o presidente quiser conversar sobre política, converso! Há uma diferença abissal entre a experiência política de Lula e a do Fuad”, afirma o prefeito.

Com Pacheco

Se tiver oportunidade, Fuad Noman gostaria de se sentar nesta quinta-feira com o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD). O prefeito, que continua afirmando que ainda não decidiu se será candidato à reeleição, afirma que para este projeto, precisa ter o seu partido unido.

Convite recusado

O ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil agradeceu, mas não compareceu ao jantar na casa de Walfrido dos Mares Guia, que anfitrionou Lula e os ministros que o acompanharam a Minas, nesta quarta-feira.

Saúde financeira

A última atualização da análise da capacidade de pagamento (Capag) de Belo Horizonte, feita pelo Tesouro Nacional em novembro de 2023, rendeu nota B para a situação fiscal da capital mineira. São três indicadores avaliados. O primeiro, a dívida consolidada dividida pela receita corrente líquida: o endividamento. O segundo indicador, a receita corrente sobre a receita corrente ajustada, chamado poupança corrente. E o terceiro indicador diz respeito à liquidez, ou seja, o resultado das obrigações financeiras dividido pela disponibilidade de caixa. A Prefeitura de BH obteve, nessa ordem, notas A, B e A.

Risco de crédito

É objetivo da Capag demonstrar se um eventual endividamento contraído por qualquer unidade da federação representa risco de crédito para o Tesouro Nacional. Os três indicadores medem o grau de solvência, ou seja, a relação entre receitas e despesa correntes e a situação de caixa, a partir da qual se faz diagnóstico da saúde fiscal do estado ou município.

Nota D

Em conhecida situação crítica, o estado de Minas Gerais recebeu na análise da capacidade de pagamento nota D, a mais baixa, considerando os três critérios: endividamento, poupança corrente e liquidez. Segundo a análise Capag do Tesouro Nacional, o estado de Minas Gerais também gasta hoje, com pessoal, 51,37% de suas receitas líquidas, acima do limite prudencial definido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.