Mesmo na metade do segundo mandato como governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) não demonstrava apreço pelas articulações políticas. Empresário de origem, preferiu investir na imagem de gestor e deixar a costura dos bastidores para Mateus Simões (Novo) e outros secretários. Com essa decisão, fortaleceu o discurso do “não político” que o elegeu em 2018 e o reelegeu, com folga, em 2022.

 

Mas o relógio corre e o chefe do Executivo mineiro parece ter percebido que, para tentar voos maiores, não basta apenas cuidar da administração do estado.

 



 


Na última semana, Zema protagonizou um embate de repercussão nacional. O palco? As redes sociais. O adversário? Fernando Haddad, ministro da Fazenda. O motivo? O Propag, programa de recuperação fiscal sancionado parcialmente pelo presidente Lula (PT).

 

 

Minutos após o anúncio dos vetos, Zema convocou uma coletiva de imprensa. Disparou críticas ao governo federal e anunciou que Minas Gerais não iria aderir ao programa caso os vetos não sejam derrubados pelo Congresso. A ofensiva do governador causou certa surpresa e não foi bem-recebida por alguns integrantes da equipe econômica do governo mineiro. As falas foram consideradas precipitadas, já que Minas deve aderir ao programa ainda neste ano.

 


O Propag tem sido celebrado como a principal aposta para equilibrar as contas de Minas Gerais. Por isso, é tratado como trunfo político por algumas autoridades que podem ser opções para a sucessão do próprio Zema, a exemplo de Tadeu Martins Leite (MDB), presidente da Assembleia Legislativa, e Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Congresso Nacional e autor do programa. Ambos comemoraram a sanção como uma conquista histórica para o estado.

 

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O tom ácido de Zema, ao acusar o governo federal de “só pensar em si mesmo e querer regalias”, irritou Fernando Haddad. O ministro da Fazenda viu na crítica uma ressonância do bolsonarismo e acusou o governador de adotar métodos semelhantes aos de antecessores polêmicos. Mais tarde, Haddad voltou às redes sociais para afirmar que a gestão de Zema “deu calote” em mais de R$ 30 bilhões devidos à União e cerca de R$ 12 bilhões a instituições financeiras. Segundo o ministro, a dívida de Minas, que era de R$ 119 bilhões em 2018, chegou a R$ 185 bilhões no ano passado.

 


O que Haddad talvez ignore é que o governador mineiro busca se posicionar como protagonista de um novo modelo político — embora, para muitos, sua atuação pareça apenas uma releitura do velho script.

 


O movimento de Zema não é aleatório. Com 2026 no horizonte, ele sabe que o tempo de governar Minas está acabando. A saída antecipada do cargo, para abrir espaço ao vice Mateus Simões e projetá-lo como sucessor, continua nos planos. O mineiro quer se posicionar como um nome forte para a Presidência – ou, ao menos, para uma vice em uma chapa à direita. E, para isso, precisa construir um destaque que vá além das montanhas de Minas.

 


O afastamento estratégico do bolsonarismo é peça-chave nesse cálculo. Zema tem se distanciado pragmática e publicamente. Não compareceu às últimas manifestações promovidas pela extrema direita. Desde as eleições municipais de Belo Horizonte, em 2024, tem evitado figuras como Bruno Engler (PL) e Nikolas Ferreira (PL).

 

Recusou-se a apoiar a candidatura de Engler no primeiro turno e embarcou no segundo turno apenas após a derrota de Mauro Tramonte (Republicanos) e de sua vice, Luísa Barreto (Novo). Nos bastidores, bolsonaristas afirmam que Zema já não faz mais parte dessa ala política. Ele está construindo, aos poucos, uma base sólida e independente. Fato é que Zema quer ser o líder – não mais um seguidor.

 


O distanciamento se reflete até nas disputas internas. Na última sexta-feira (17/1), Zema protagonizou um embate inesperado com o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), outro nome forte da direita em Minas e provável concorrente ao governo estadual em 2026.

 

Em off, fontes ligadas ao senador afirmam que ele se sentiu desamparado pelo governador e revidaria publicamente, declarando que “nunca foi ajudado por Zema”. A briga escancara a tensão entre os dois e reforça a disputa pelo espaço que o governador tenta consolidar para Mateus Simões, seu aliado e pré-candidato ao governo.

 


Daqui em diante, os mineiros acompanharão um governador mais ativo no debate público por meio de entrevistas e de suas redes sociais. Ainda que isso não necessariamente signifique um Zema mais à vontade nesse papel.

 

A grande questão é se ele conseguirá equilibrar o perfil de gestor que consolidou sua popularidade com as demandas de um cenário nacional competitivo e implacável. Com a disparada do cronômetro de 2026, Zema sabe que, para entrar de vez e permanecer no jogo, será preciso aprender a jogar.

 


NIKOLAS PRESIDENCIÁVEL?

 

Uma proposta de emenda à Constituição (PEC) do deputado federal Eros Biondini (PL-MG) quer reduzir a idade mínima para candidatura à Presidência da República de 35 para 30 anos. A medida pode abrir caminho para Nikolas Ferreira (PL-MG) disputar o Planalto já em 2026, quando completará 30 anos. Atualmente, Nikolas só poderia concorrer em 2034. A ideia é alterar um marco constitucional vigente desde 1891.

 


TROCA NA PBH

 

Guilherme Daltro, chefe de gabinete do prefeito em exercício, Álvaro Damião (União), foi nomeado interinamente para a Secretaria Municipal de Governo. A indicação foi publicada no Diário Oficial de sexta-feira (17). Daltro, nome de confiança de Damião, foi assessor próximo durante os mandatos de vereador e assumiu o cargo de chefe de gabinete em janeiro.

 


MUDANÇA

 


Após perder a 1ª Secretaria da Mesa Diretora para 2025 e 2026, o deputado Antonio Carlos Arantes (PL) será o novo líder do bloco Avança Minas na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

 


FAKE NEWS

 

O vereador Pedro Rousseff (PT) propôs um projeto de lei para instituir o ensino de “antifake news” nas escolas municipais de Belo Horizonte. O objetivo é promover a alfabetização midiática e capacitar os estudantes a identificar e combater desinformação. A proposta surge após o vídeo de Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre a fiscalização do Pix, que alcançou 150 milhões de visualizações no Instagram antes de ser revogado.

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