Suelen Silva já passou aperto por ter esquecido a senha do cartão de crédito

Suelen Silva já passou aperto por ter esquecido a senha do cartão de crédito

(Letícia Mouhamad/CB/D.A Press)

Em tempos de biometria e reconhecimento facial, criar senhas alfanuméricas parece, cada vez mais, um hábito do passado. Porém, com a grande quantidade de serviços disponíveis em aplicativos — do banco ao streaming — nem sempre é possível optar por esses recursos de segurança digital mais "modernos" e, então, haja memória para lembrar de tantas senhas.

Assim, há quem escolha o caminho mais fácil: usar o mesmo código para todos os serviços. De preferência, um que seja familiar, para evitar qualquer risco de esquecimento. Mas nem todo mundo confia nessa tática. O aposentado Hélio Tremendani, 70 anos, por exemplo, possui 35 senhas e, sempre que possível, tenta fazer uma combinação diferente, a qual deixa anotada para não esquecer. "Mas, obviamente, sempre esqueço", assumiu, aos risos.

"Às vezes, me esqueço de anotar para não esquecer e, agora, aliás, esqueci a senha que uso para acessar o plano de saúde", disse, com o celular na mão. A responsabilidade de recuperar a conta nos aplicativos sobra para a filha, que se desdobra para tentar descobrir misteriosas senhas dele. "Quando posso, prefiro usar a biometria ou passar o cartão de crédito por aproximação; é muita informação para lembrar", ressaltou o aposentado.

Há alguns anos, quando a possibilidade de fazer pagamentos por aproximação ainda era remota, o jeito era gravar as senhas dos cartões. A estudante de pedagogia Suelen Silva, 40, sabia de cor, por isso, nunca se preocupou em anotar. Certa vez, foi ao mercado fazer compras e, empolgada, encheu o carrinho. Na hora de pagar, deu branco.

"Tentei uma, duas, três vezes. Cartão bloqueado ", contou. Atrás dela, havia uma fila enorme de pessoas descontentes com a espera. "Morri de vergonha, porque tive que devolver tudo e ir embora de mãos vazias". Chegando em casa, para a própria surpresa, lembrou-se da senha. "Foi a minha memória pregando peças. Nunca mais voltei àquele mercado", relatou. 

Mil e um cadastros

Segundo Lucas Karam, 29, professor e advogado especialista em privacidade e proteção de dados, é praticamente impossível aliar uma segurança eficaz com a nossa memória. "Isso se deve à grande quantidade de cadastros necessários para obter acesso a serviços que facilitam a nossa vida", comenta. No entanto, ele sugere ferramentas de gerenciamento de senhas — também chamadas de cofres de senhas ou geradores de senhas — que auxiliam na gestão dessas credenciais.

Funciona assim: conforme critérios de segurança da informação, o aplicativo cria uma senha forte e única, atualizada constantemente. Esta é armazenada em um cofre com criptografia militar e pode ser consultada pelo nome do site ou do programa desejado. Assim, não é necessário gravar as credenciais, que estão guardadas em um ambiente seguro, e estas serão únicas, não coincidindo com outras senhas que possam ter vazado anteriormente. "É necessário memorizar apenas uma senha, a credencial para abrir o cofre", explica Karam.

Ciladas da tecnologia

Assim como o aposentado Hélio Tremendani, o publicitário Gabriel Porfírio, 27, conta com a biometria e o pagamento por aproximação sempre que pode. "Não lembraria de todas as senhas se não houvesse essa facilidade", pontua. Porém, quando emprestou o cartão de crédito para a amiga usar no mercado, a inovação de concluir as compras em segundos, quem diria, falhou.

E, para piorar, por ter usado tanto a opção da aproximação, ele sequer lembrava a senha numérica do cartão. Foi preciso ligar no banco para impedir qualquer bloqueio em sua conta. Agora, registra todas as credenciais alfanuméricas no bloco de notas do celular. Questionado sobre o que aconteceria se, por acaso, perdesse o aparelho com esses dados, ele foi enfático: "Aí já era, 'ferrou'".

Quem vivenciou uma situação semelhante foi o funcionário público aposentado Narciso Mori, 67. Acostumado a guardar as senhas no bloco de notas do celular, esqueceu-se, certo dia, dos seis dígitos que usa para acessar o aparelho. Por sorte, pode contar com o sistema de reconhecimento facial. Temporariamente. "Quando o dispositivo solicitou novamente a credencial dos seis dígitos, tentei três senhas diferentes e todas estavam erradas. Meu celular foi bloqueado", desabafou.

Há 45 dias, Narciso tenta resolver o problema com a empresa do aparelho, sem êxito. "Primeiro, eles (a empresa) insistiram para que eu provasse que o celular era meu, sendo que tenho todos os registros da compra. Agora, disseram que a solução será resetar os dados do dispositivo, algo que não concordo, pois todas as minhas senhas importantes estão lá", explicou. A lição aprendida, segundo ele, é encontrar locais mais seguros para guardar essas credenciais.

Senhas seguras

Lucas Karam, destaca que, independentemente do recurso utilizado para a criação e a manutenção de senhas, é necessário atenção aos seguintes critérios:

-Comprimento: a senha deve ter pelo menos 12 caracteres.
-Complexidade: combine letras maiúsculas e minúsculas, números e símbolos.
-Evite informações pessoais: não use nomes, datas de nascimento ou palavras comuns.
-Palavras inusitadas e frases: use palavras que não estejam no dicionário ou faça combinações. Uma sequência de palavras aleatórias ou uma frase única são boas escolhas.
-Atualize regularmente: mude suas senhas a cada três meses.
-Evite reutilização: não use a mesma senha em múltiplas contas.
-Geradores de senha: use aplicativos ou ferramentas confiáveis, como Dashlane, 1Password ou LastPass, para gerar senhas fortes e armazená-las de forma segura.

Vale lembrar que senhas fracas podem levar a invasões de contas, roubo de identidade, fraudes, perda financeira e acesso não autorizado a informações pessoais e confidenciais.