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Estado de Minas

Mariposas têm sistema visual capaz de se adaptar a diferentes condições de luz

Além de visão especializada, inseto condiciona cérebro para rastrear flores das quais se alimentam


postado em 24/06/2015 11:58 / atualizado em 24/06/2015 12:04

Mariposa sobre flor artificial: capaz de se adaptar aos diferentes movimentos de sua fonte de alimento (foto: (Rob Felt/Georgia Tech))
Mariposa sobre flor artificial: capaz de se adaptar aos diferentes movimentos de sua fonte de alimento (foto: (Rob Felt/Georgia Tech))
 

Brasília – Basta acender uma lâmpada que logo uma delas aparece. As mariposas parecem sentir uma atração irresistível pela luminosidade, mas isso não significa uma dependência da luz. Pelo contrário. Algo que há tempos chama a atenção de especialistas é como os insetos conseguem, seja no claro, seja no breu, encontrar as flores das quais se alimentam. Um estudo publicado na revista Science parece ter desvendado o mistério, ao concluir que esses bichos não só contam com um sistema visual especializado para se adaptar a diferentes intensidades de luz, como parecem diminuir a atividade cerebral para se adaptar às várias condições do ambiente.

“Os cientistas sabem há muito tempo que esses insetos noturnos podem ver mesmo quando a luz está extremamente baixa. Já sabíamos que eles têm adaptações em seus olhos para aumentar a sensibilidade à luz, mas essas adaptações não são suficientes para explicar o quão bem as mariposas podem ver. Algum outro mecanismo deveria ser importante”, conta ao Estado de Minas Simon Sponberg, professor assistente na Escola de Física do Instituto de Tecnologia da Geórgia e um dos autores da pesquisa.


A hipótese de Sponberg e colegas era que esse fator extra seria a capacidade de ajustar o funcionamento cerebral. Para verificá-la, eles construíram flores robóticas que dispensavam pólen e se moviam em diferentes direções e velocidades. Com a ajuda de câmeras de infravermelho, os cientistas monitoravam se mariposas da espécie Manduca sexta conseguiam manter suas línguas (conhecidas como trombas) nas flores conforme as peças ficavam mais rápidas e a intensidade da luz no laboratório diminuía. “Nós usamos a flor robótica para entender como a mariposa respondia a diferentes movimentos em luz forte ou fraca. Descobrimos que elas ficam ainda mais atrás das flores durante os movimentos rápidos e isso ocorre mesmo com pouca luz”, explica Sponberg.

A análise do tempo de resposta dos bichos às diferentes condições permitiu, segundo os autores, confirmar a hipótese inicial. “Fomos capazes de mostrar que a mariposa não desacelera seu cérebro profundamente, mas retarda somente até o ponto em que ele ainda pode acompanhar os movimentos das flores”, diz o cientista. “Esse é um exemplo interessante de como um organismo pode sintonizar seu cérebro para manter a capacidade de recolher alimentos”, acrescenta.

Para Marcelo Duarte da Silva, professor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em lepidoptera (ordem de insetos diversificada), a pesquisa conseguiu identificar como o sistema de visão das mariposas funciona. “Os autores observaram que os sensores visuais desses animais têm sensibilidade aumentada em intensidades de luz mais baixas. A transmissão de impulsos nervosos parece ter uma queda, mas não tão significativa a ponto de interferir na habilidade do inseto em rastrear os movimentos das flores”, avalia Silva, que não participou do estudo.
Miriam David Marques, professora associada do Museu de Zoologia da USP, também destaca que o artigo traz novas informações quanto ao comportamento das mariposas, como a importância da movimentação das flores para que os animais possam se alimentar. “Uma parte importante desse trabalho é mostrar que o grau de movimentação da fonte de alimento, que é a flor, também está ligada ao disparar do desaceleramento da parte do cérebro desses animais, e que essa adaptação pode ser feita de acordo com a intensidade de luz que o animal encontra”, complementa.

Coevolução
Com o resultado do experimento, os cientistas acreditam que existem evidências suficientes de que o desaceleramento do cérebro das mariposas ajuda a controlar sua visão noturna, mas a causa dessa peculiaridade ainda precisa ser mais bem investigada. “Precisamos saber como o cérebro desacelera. Temos algumas ideias, mas só sabemos que o cérebro abranda sua atividade. Nós não sabemos como ela diminui ainda”, destaca Sponberg.

Para Miriam, a relação entre as flores e as mariposas necessita de mais estudos para que possa ser comprovada. “Os autores do artigo são prudentes em não ligar diretamente os movimentos das flores com o comportamento das mariposas. A coevolução (evolução simultânea de duas os mais espécies) é uma questão densa, pois envolve vários fatores de pesquisa de ambos os lados. Essa possibilidade pode render novos estudos”, acrescenta a brasileira.

Além de explicarem a fisiologia e o comportamento de insetos noturnos, Sponberg diz que os achados poderão ser usados na área de engenharia, ajudando na fabricação de robôs e veículos voadores inspirados no sistema visual das mariposas. “Esperamos que a compreensão de como os animais enxergam em uma luz muito fraca nos ajudará a melhorar os sistemas de engenharia que dependem de visão. Se queremos ter robôs ou sistemas de visão que trabalhem sob uma ampla gama de condições, compreender como essas mariposas funcionam é algo muito útil.”

 


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