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Estado de Minas

Pesquisador adapta método da biologia para entender como o violino se modificou

Quatro famílias de luthiers são responsáveis por avanços na técnica de fabricação


postado em 26/10/2014 08:27 / atualizado em 26/10/2014 08:58

Os aperfeiçoamentos pelos quais passou o violino foram resultado da troca de informação entre famílias de construtores(foto: Alessandro Bianchi/Reuters)
Os aperfeiçoamentos pelos quais passou o violino foram resultado da troca de informação entre famílias de construtores (foto: Alessandro Bianchi/Reuters)
Há mais de 400 anos, o violino seduz plateias com seu som inconfundível. O instrumento, que desempenha papel fundamental em uma orquestra, sofreu alterações ao longo do tempo e não pode ser atribuído a um único inventor. Sua história está profundamente associada a quatro famílias de luthiers, de acordo com pesquisa publicada na revista Plos One. Depois de analisar imagens de 9 mil violinos produzidos nos últimos quatro séculos, o pesquisador Daniel Chitwood, do Donald Danforth Plant Science Center, de St. Louis, no Missouri, concluiu que os clãs de fabricantes que mais contribuíram para o instrumento adquirir sua forma atual foram os dos Magginis, Stradivaris, Amatis e Stainers.


“O formato é a informação que nos fala sobre a história de uma peça. No caso dos violinos, sua arquitetura foi influenciada pela preferência dos consumidores e é fruto de imitações e cópias que foram sendo incorporadas por tradicionais famílias de luthiers”, diz Chitwood, que é geneticista e biólogo. Ele explica que há um paralelo entre gerações de pessoas e de violinos: “As pessoas se misturam, trocam material genético e isso será passado para as descendências. Com o violino aconteceu assim: o formato foi sendo misturado, e o resultado desse mimetismo foi sendo passado para gerações seguintes”, compara o pesquisador, apaixonado pelo instrumento de corda.

No laboratório Donald Danforth, Chitwood investiga a evolução morfológica das plantas, e o método aplicado no trabalho sobre a história do design do violino não foi muito diferente. Esse grande admirador de Bach selecionou imagens do site do Arquivo Cozio, a maior fonte de referência mundial sobre arcos e instrumentos de corda. Dos mais de 30 mil registros iconográficos disponíveis, o pesquisador escolheu uma amostra de 9.344 violinos, violas, violoncelos e contrabaixos e, com a ajuda de um software, comparou as características morfológicas dos instrumentos de diferentes fontes. O violino, claro, dominou o estudo: foram 7.614 modelos, produzidos dos anos 1600 aos 2000.

Ainda que aparentemente sutis, há alterações nos formatos dos instrumentos fabricados pelos 48 luthiers analisados por Chitwood. “Obviamente, o tempo é o fator mais importante quando nos questionamos sobre os elementos que mais influenciaram essas diferenças. Instrumentos feitos antes de 1650 são os que apresentam as maiores discrepâncias em relação aos demais, quando vemos os gráficos de análise discriminante linear”, diz o pesquisador, referindo-se à técnica estatística empregada, que é utilizada em diversos estudos, inclusive nos de comparação de características faciais.

Instrumento feito pelo clã Stradivari no fim do século 16: inimitável
Instrumento feito pelo clã Stradivari no fim do século 16: inimitável
Stradivari Em 1644, nasceu o homem que revolucionaria a fabricação de violinos, tornando-se um dos mais copiados. O italiano Antonio Stradivari, um mestre nessa arte, inspirou gerações de luthiers, deixando sua marca na maior parte dos instrumentos analisados por Chitwood. “Stradivari apresenta uma geometria e um design que se tornou um exemplo para os luthiers de todo o mundo. Sua habilidade ainda hoje é insuperável, e poucos, depois da morte dele, conseguiram produzir qualquer coisa que sequer se aproxime de seu melhor trabalho”, afirma Mats Tinnsten, pesquisador da Universidade de Mid Sweden, na Suécia. Ele estuda se, com a ajuda de tecnologia moderna e supercomputadores, é possível copiar fielmente os violinos do mestre italiano.

Fabricar um instrumento idêntico a um de Stravidari ainda é algo impossível, afirma Tinnsten. Principalmente agora, quando os materiais disponíveis são diferentes daqueles do século 17. “O que estamos tentando é descobrir um modelo que reproduza as mesmas propriedades acústicas de um violino Stradivari, mas, para isso, são necessários muitos cálculos. Os contemporâneos do luthier e as gerações seguintes tentaram fazer igual — Stradivari é o violino mais copiado de todos os tempos — mas, embora tenham conseguido assemelhar algumas características, ninguém jamais produziu um violino como esse”, assegura.

Outras três famílias de luthiers que mais influenciaram os fabricantes de instrumentos de cordas, segundo a pesquisa iconográfica e estatística de Daniel Chitwood, foram os Magginis, os Amatis e os Stainers, todos também do século 17. Interessante notar, diz o geneticista, que muitos integrantes desses quatro clãs de luthiers se associaram ao longo do tempo, cada um deles levando seu conhecimento próprio de fabricação e dando origem a outros grupos de fabricantes. É o que Chitwood chama de “mistura genética” nos modelos de violinos. “Acredito que podemos usar uma abordagem biológica para analisar a evolução dos instrumentos. O processo de criar um modelo de instrumento, seja copiando exatamente um preeexistente seja dando origem a um formato novo, não é diferente de uma herança ou mutação genética”, compara.

SAIBA MAIS

Ápice na Renascença

Não se sabe exatamente quando ou como o primeiro violino surgiu, mas instrumentos de corda que aparecem em ilustrações e esculturas do ano 900 d.C. indicam que sua origem é bastante antiga. Acredita-se que o violino moderno seja uma adaptação da lira da braccio, que surigu na Itália no século 15. Esse instrumento era tocado quase de forma idêntica à do violino e tinha uma aparência muito similar. As mais antigas ilustrações do violino como se conhece apareceram na arte italiana por volta de 1508. Instrumento de quatro cordas, o violino moderno é posicionado no ombro do instrumentista e tocado com o arco. Muitas pessoas o comparam a uma silhueta feminina, e a riqueza do som é atribuída à caixa sonora única dessa peça, que foi aperfeiçoada nos tempos dos luthiers Andrea Amati e Antonio Stradivari. No século 17, ele se tornou um importante instrumento de orquestra, sendo adotado por compositores famosos que começaram a escrever composições para serem executadas no violino. Por volta dessa época, no fim da Renascença, ele atingiu seu ápice. Ao longo dos anos, muitos luthiers constribuíram para o aperfeiçoamento do instrumento. Um dos primeiros fabricantes foi Andrea Amati (1505-1577), de Cremona, na Itália. É dele a mais antiga peça que sobrevive até hoje: um violino de 1560, feito pelas mãos do próprio Amati. Sua família de luthiers continuou por quatro gerações de artesãos incrivelmente talentosos. Andrea Amati foi sucedido por dois de seus filhos, Antonio e Hieronymo, que continuaram aperfeiçoando o design e a aparência da peça. A terceira geração incluiu Nicolo Amati (1596-1684), que acabou sendo o mais talentoso luthier do clã. Talvez o maior fabricante de violinos da história, Antonio Stradivari começou a confeccioná-los por volta de 1666. Ele usou as técnicas tradicionais dos Amanti e experimentou seu próprio design até aperfeiçoar a forma e o som do instrumento. Ele é mais famoso não só pelo desenho, que revolucionou a arte de fabricar violinos, mas por utilizar materiais de altíssima qualidade, que ajudavam a conferir um som extraordinário. 


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