Foi descoberto na região de Iturama e Campina Verde, no Triângulo Mineiro, o maior crocodilo fóssil em Minas Gerais do período cretáceo. Pesquisadores do Complexo Cultural e Científico de Peirópolis (CCCP), da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e do Museu de Paleontologia de Monte Alto (SP) acreditam se tratar de uma nova espécie da família do Crocodiliforme baurusuquideo – de hábito carnívoro, terrestre, mas que viveu em ambientes de rios e lagos há cerca de 90 milhões de anos. O crânio, de aproximadamente 30 centímetros, é um indicativo de que o animal media em torno de quatro metros.
O crocodilo, que tem crânio praticamente completo, além de vários elementos ósseos restantes de um crocodilomorfo, foi descoberto durante as expedições feitas entre 21 e 27 do mês passado. A equipe é composta por 10 pesquisadores, entre geólogos, paleontólogos e escavadores. O local da descoberta é distante 50 quilômetros do ponto onde foi encontrada outra espécie, a Campinasuchus dinizi, em 2010, e está sendo considerado um novo sítio arqueológico. O próximo passo é a retirada do crânio da rocha para identificação dos dados morfológicos e anatômicos para fazer comparação com os oito gêneros de baurusuquídeos.
Apenas depois de finalizada essa parte será possível ter certeza se o fóssil é ou não de uma nova espécie. Além do Campinasuchus, anteriormente também foi encontrado na região, por uma equipe da Universidade de São Paulo (USP), o Pissarrachampsa. “Pela robustez do crânio e o tamanho do fêmur, comparando ao mais próximo a ele, que é o Campinasuchus, esse é muito maior. O crocodilo descoberto anteriormente não passava de 2,5 metros de comprimento. Há algumas feições no topo do crânio que parecem distintas desses dois grupos”, afirma o geólogo da equipe e professor da UFTM Luiz Carlos Ribeiro.
Para o professor, esse é mais um elemento para reconstruir as formas de vida que estiveram num passado distante na região do Triângulo. Apenas a cidade de Uberaba registrou 17 espécies novas de animais pré-históricos no mundo, entre elas, o maior dinossauro do Brasil, o Uberabatitan ribeiroi, que passa dos 20 metros de altura e é considerado o maior bicho das terras brasileiras em 4,5 bilhões de anos.
O fóssil foi levado para o laboratório do complexo cultural e passará pela fase de preparação, que é a retirada do crânio. Depois dos estudos, ele será reinserido ao bloco de rocha. Se concluirem que se trata de nova espécie, será feito artigo científico para ser submetido à revista e publicado. Só a partir de então, haverá a reconstrução das réplicas do esqueleto para mostra pública no Museu dos Dinossauros do CCCP, o que deverá ocorrer daqui a dois anos.
EXPANSÃO
Luiz Carlos Ribeiro destaca que, à medida que Uberaba estende suas escavações para fora de seus limites geográficos, mais descobertas são feitas. “Isso mostra que Minas, no período compreendido entre 90 milhões e 65 milhões de anos, no cretáceo, tinha fauna diversificada, que envolveu crocodilos terrestres e alguns aquáticos”, relata. Viveram na região, ainda, conforme as pesquisas, vários grupos de dinossauros de grande porte, tanto herbívoros quanto carnívoros e bichos de menor porte, como peixes, rãs únicas no mundo e lagartos.
O pesquisador atribui os resultados ao trabalho sistemático de escavações feito pela UFTM nos últimos 23 anos. “Minas teve diversidade biótica enorme no passado biológico e temos que preservar esse patrimônio cultural paleontológico, pois não há legislações muito efetivas para isso”, ressalta. A universidade vai trabalhar agora junto do Ministério Público Estadual para desenvolver uma política pública de preservação desses sítios paleontológicos.