
O que é videogame para você? Uma história com belos gráficos coberta por excelente jogabilidade ou uma narrativa coerente e imersiva que lhe apresenta um universo em questão de segundos? Esse questionamento não é exclusividade dos games. Até hoje, inclusive, há quem pergunte o significado de qualquer outra arte, como o cinema e a música. Às vezes, em raros momentos, surgem obras que vão além das palavras e conseguem explicar o conceito daquela mídia em apenas três horas, como ocorreu em O poderoso chefão no cinema, ou em minutos, como qualquer sinfonia de Beethoven.
Nos jogos digitais, também são raras as vezes em que algo desse tipo aparece, pois ao mesmo tempo em que devem apresentar características únicas têm de fugir de elementos comuns. Gone home se passa em 1995, e você assume o papel de Kaitlin Greenbriar, uma jovem que está de volta para casa após um ano na Europa. Nesse meio -tempo, os pais dela se mudaram para uma mansão que era do tio. Porém, algo intriga já no início do jogo: a casa está totalmente vazia. Aliás, logo no começo da história fica evidente o quão a Fullbright Company acertou em confiar na inteligência do jogador em vez de simplesmente guiá-lo pela mão – o que tiraria quase toda a graça do game.
A visão é em primeira pessoa, outro elemento bem escolhido pelos desenvolvedores, que, além de imergir o jogador à primeira vista, é uma boa alternativa para criar o clima de suspense que percorre toda a experiência do título. Apesar de você não tomar sustos absurdos, como é comum em Amnesia e Outlast, por exemplo, o cenário de filme de terror está sempre presente. Todo o jogo ocorre nas horas seguintes à sua chegada de viagem, durante a madrugada e uma forte tempestade.
Objetos
Assim como o visual nas cenas dos filmes ajudam o diretor com o encaminhamento da narrativa, o mesmo ocorre com a jogabilidade de Gone home. Não há um objeto espalhado no game que não seja relevante para a história. São vários itens pela casa, como anotações, ingressos e livros, que não fazem apenas o papel ilustrativo no cenário e tornam-se essenciais para o entendimento dos “personagens secundários” da trama.É por meio desses papéis, cadernos, ingressos de cinema e até mesmo livros que você vai entendendo quem é quem. Discorrer mais sobre isso seria spoiler, mas cabe reforçar que, se você encontra um objeto que parece não fazer sentido dentro da história, lá para frente vai entender o motivo.
Além disso, o design do jogo é impecável. Basta entrar em um quarto para se ambientar na década de 1990. Estantes com fitas VHS dispostas no quarto da tevê, gravadores e tocadores de fitas cassete ou até mesmo um ingresso de cinema do clássico de Tarantino, Pulp fiction. Outro aspecto muito importante para a continuidade da narrativa são os áudios deixados pela irmã de Kaitlin, Samantha. Aliás, gravações de uma banda amadora – as quais você descobre do meio para o fim do game – presentes em fitas cassete trabalham perfeitamente como a trilha sonora do jogo em certos momentos e também funcionam como quebra do clima de tensão.
Desenvolver várias tramas já é muito difícil. Fazê-lo sem utilizar muitos diálogos e dar a responsabilidade da descoberta para o jogador é o que Gone home realiza com maestria. Gone home não é sobre os gráficos perfeitos, estética ou identidade visual única, jogabilidade fluida e responsiva, progressão de personagem efetiva ou confluência ludonarrativa. É um verdadeiro marco na história dos videogames, do momento em que você o inicia até os créditos finais. É a total união de todos os elementos que formam um bom jogo, e se limita a contar uma história um tanto quanto simples, que poderia ter sido vivida por você ou qualquer outra pessoa. E são essas histórias que realmente marcam a vida de alguém.
Também vale a pena Semelhante a Gone home, o game Actual sunlight é outro título (independente) que traz questionamentos não muito abordados dentro da indústria. Nele, você é um jovem com obesidade que sofre de depressão. Ao interagir com objetos da casa, do trabalho ou da rua, pensamentos do seu personagem são mostrados e conseguem representar muito bem a visão dele do mundo. É uma excelente obra para se ver no papel de outra pessoa. O jogo está listado para votação no serviço Steam Greenlight.
Produção
The Fullbright Company
Desenvolvimento
The Fullbright Company
Plataforma
PC
Preço
R$ 34,99
Número de jogadores
1 (single-player)
Classificação
indicativa Livre
Avaliação
Gráficos 2,5
Jogabilidade 2,5
Sons 2,5
Entretenimento 2,5
Total 10
