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Estado de Minas

Cientista brasileiro cria software que torna os aspiradores mais inteligentes

Estudo pode originar outras engenhocas com senso de direção


postado em 30/10/2013 08:09 / atualizado em 30/10/2013 07:11

Gurgel e alguns dos equipamentos com os quais faz suas pesquisas: ampliando a inteligência dos robôs(foto: (Eric Rohmer/Divulgação))
Gurgel e alguns dos equipamentos com os quais faz suas pesquisas: ampliando a inteligência dos robôs (foto: (Eric Rohmer/Divulgação))
Brasília – Um dos maiores desafios na busca por equipamentos capazes de se locomover autonomamente é desenvolver confiáveis sistemas de orientação que permitam à máquina chegar ao destino sem se chocar com os obstáculos no caminho. Quando uma solução segura surgir, uma série de produtos devem ganhar mercado, como cadeiras de roda que levam o paciente do quarto para a cozinha e até os tão sonhados carros que dispensam motoristas.


Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, traz uma importante contribuição a essa linha de pesquisa. Trata-se de um software desenvolvido pelo cientista da computação Paulo Gurgel, como tese de doutorado, que torna robôs móveis mais inteligentes e com melhor capacidade de se orientar no ambiente.

Gurgel focou o estudo em um aparelho pouco conhecido no Brasil, mas muito usado nos EUA: os limpadores de casa automáticos. Esses equipamentos são como aspiradores de pó automáticos que percorrem o ambiente limpando o chão. Alguns modelos mais avançados passam até pano úmido. Para o pesquisador, no futuro, as máquinas devem estar mais presentes nos lares brasileiros. “Aqui, ainda não são tão populares. Mas acreditamos que isso seja só uma questão de tempo. Foi assim com as máquinas de lavar roupa”, lembra.

O cientista explica que seu trabalho consistia em melhorar o funcionamento dos aparelhos. “Tentamos aumentar ainda mais a eficiência dos que já eram top de linha. Uns são mais espertos que outros, ligando os motores de limpeza somente ao detectar sujeira ou dirigindo-se a uma tomada próxima para recarregar a bateria. No entanto, acreditamos que poderíamos ir além”, conta. “Assim, desenvolvemos um sistema em que o robô é capaz de planejar seus passos para, antes de tudo, se localizar no ambiente. Sabendo onde está, ele é capaz de agir de maneira muito mais inteligente. Ele pode, por exemplo, planejar um roteiro eficiente de limpeza, escolhendo a ordem dos cômodos, baseando-se no comportamento e costumes dos moradores ou funcionários de uma empresa”, destaca.

Clique e entenda o estudo do brasileiro(foto: Anderson Araújo/CB/D.A Press)
Clique e entenda o estudo do brasileiro (foto: Anderson Araújo/CB/D.A Press)
Personalização

O segredo da técnica está no software criado por Paulo Gurgel, que, depois de receber um mapa da casa onde o robô trabalhará, permite ao dono fazer uma série de programações (veja infografia). O pesquisador explica que o grande diferencial do software é poder personalizar a ação do limpador de acordo com o espaço. “O sistema de localização é a chave de tudo. Se o robô está seguindo um roteiro de limpeza, começando pela sala para depois ir para os quartos, mas uma criança ou um animal de estimação o desloca para o banheiro, ele será capaz de perceber, depois de poucos movimentos, que pode voltar para a sala no ponto em que parou ou planejar um novo roteiro mais eficiente.”

O especialista acredita que o projeto poderá ser usado em outros aparelhos futuramente. “Durante a temporada do doutorado fora, boa parte do foco foi em robôs comerciais de limpeza, mas o sistema de localização e navegação desenvolvido não se resume somente a esses aparelhos. Pelo contrário, o sistema foi aplicado em robôs que realizam entregas de pacotes e documentos dentro de uma empresa ou universidade”, destaca Gurgel.

Para Antonio Cordelo Espingardeiro, cientista inglês criador do P37, famoso robô criado nos EUA para auxiliar idosos em afazeres domésticos e membro do Institute of Electrical and Electronic Engineers (IEEE), o software pode ser realmente bastante útil para outros projetos. “Modularidade constitui um grande desafio na robótica hoje. Quase todos os fabricantes têm protocolos de software e hardware específicos. Isso torna extremamente difícil transferir módulos de hardware (por exemplo, sensores) ou software com outros robôs ou dispositivos”, destaca. “A motivação é ter plataformas robóticas genéricas que aceitam diferentes módulos e executem tarefas da forma mais rápida e eficiente possível. Pode-se imaginar um futuro em que as plataformas robóticas podem ser personalizadas e mantidas em áreas como transporte, saúde, meio ambiente e energia”, complementa.

Saúde

Professor de engenharia mecânica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Rogério Gonçalves também acredita que o novo software de Gurgel pode ser utilizado em outros aparelhos. “É uma ideia interessante, que pode ser adaptada para a locomoção de qualquer tipo de robô móvel. Temos hoje também os carros dotados de inteligência, na navegação autônoma, para determinar a trajetória interior, que poderiam se beneficiar desse sistema”, destaca. Ele acrescenta que esse tipo de trabalho tem despontado cada vez mais no cenário atual tecnológico do país, que cresce a cada dia e está mais voltado a equipamentos robotizados. “O Brasil está desenvolvendo boas pesquisas, tanto de robôs autônomos quanto na parte de medicina e reabilitação”, destaca.

Paulo Gurgel adianta que o projeto será aperfeiçoado para ser utilizado também na área da saúde. “Vamos dedicar as pesquisas para adaptar o sistema de localização em uma cadeira robótica inteligente que possa ser utilizada por pacientes com traumas neurológicos que tiveram perda parcial ou total de suas habilidades motoras. Como o robô é capaz de se localizar sem a ajuda externa, a cadeira de rodas robótica poderá navegar sozinha pela casa”, destaca. A pesquisa prevê ainda uma forma de controlar a cadeira com o movimento dos olhos. “Utilizando eletrodos capazes de captar a atividade cerebral e uma câmera para ler o movimento dos olhos, o paciente poderá ‘pensar’ no movimento e olhar para onde deseja ir, e, então, a cadeira fará o resto”, completa.


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