
A descoberta, divulgada no jornal especializado Biology Letters, é fruto de um experimento no qual os cientistas puderam observar o comportamento dos bichos em ninhos artificiais construídos em laboratório. Os cientistas notaram também que as incursões em busca por novas casas ocorrem em grupo, o que acrescenta mais um dado à já famosa organização coletiva das formigas.
Carolina Doran, uma das autoras do estudo, explica que o hábito de esses animais se mudarem constantemente já era conhecido pelos cientistas. No entanto, a nova investigação mostrou que essa migração ocorre mesmo quando o endereço atual atende as necessidades básicas dos bichos. “Devido a esse resultado, podemos assumir que elas monitoram os seus arredores constantemente. E decidimos verificar como elas se comportam quando vivem em ‘casas’ de qualidades distintas”, detalha.
No experimento, os especialistas selecionaram uma colônia de formigas da espécie Albipennis temnothorax, a retiraram do campo onde ela vivia e a transferiram para o laboratório, onde havia cinco ninhos artificiais à disposição. Cada ambiente foi planejado para atender de forma “boa” ou “muito boa” as necessidades do grupo. Os cientistas notaram, então, que, à medida que o tempo passava, os animais seguiam mudando para as casas com mais vantagens – como pouca luz e entradas menores, por exemplo.
Esse movimento mostrou-se ligado a incursões feitas em grupo. “Depois de um período em que elas já tinham se adaptado em um ninho específico, algumas formigas continuavam à procura de um ambiente melhor. Contabilizamos esses grupos e vimos que o número de bichos que seguiam em busca de novos lares foi considerável”, conta Doran.
A autora explica a importância da alternância de endereço para a colônia: “Qualquer espécie age sempre de forma a maximizar seu bem-estar no ambiente em que vive. Para as formigas, é muito importante ter a rainha longe de perigos. Os melhores ninhos são os mais seguros. No entanto, emigrar também pode ser perigoso, por isso é preciso calcular para onde ir”, diz. “Essa estratégia de ajustar a coleta de informações de acordo com as reais necessidades e identificar o valor real das qualidades de uma ‘propriedade’ mostra que as formigas avaliam seu ‘mercado imobiliário’ de uma forma ponderada e completa”, completa.
Divisão de tarefas Pedro Ribeiro, pesquisador e pós-doutorando em fisiologia animal pela Universidade de São Paulo (USP), destaca que a pesquisa dos britânicos mostra um ponto muito interessante no comportamento das formigas: a capacidade de avaliar se algo é bom ou ruim para elas. “O interessante é que esses insetos são capazes de medir a qualidade do ninho onde vivem e agem de acordo com isso na busca de novos locais”, avalia o especialista brasileiro, que não participou do estudo.
O professor ressalta outro dado curioso mostrado pelo trabalho britânico: a diferenciação de tarefas. “Em espécies como essa, existem formigas responsáveis por buscar lugares melhores. Nesse experimento, é possível notar isso claramente: um pequeno grupo segue em busca de um local mais seguro para a rainha. É o pensamento individual e coletivo agindo juntos. Isso mostra que elas têm essa capacidade específica de adequar o comportamento ao contexto em que vivem”, detalha.
Carolina Doran acredita que novos estudo poderão revelar outros comportamentos surpreendentes nas colônias. “Existem muitos aspectos relativos à tomada de decisões que ainda podem ser esclarecidos, e experimentos com esses insetos sociais vão certamente contribuir para esse ramo. No nosso laboratório, em Bristol, estamos muito interessados nesses vários mecanismos e pretendemos nos aprofundar neles”, adianta.
“Qualquer espécie age sempre de forma a maximizar seu bem-estar no ambiente em que vive. Para as formigas, é muito importante ter a rainha longe de perigos. Os melhores ninhos são os mais seguros. No entanto, emigrar também pode ser perigoso, por isso é preciso calcular para onde ir” - Carolina Doran, coautora do estudo.
Repelente melhorado
Pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram os receptores olfativos que fazem com os mosquitos percebam o princípio ativo da maioria dos repelentes, o deet. Os resultados, que foram publicados na revista Nature, apresentam ainda três compostos seguros que poderiam, um dia, ser usados para prevenir a picada de insetos que transmitem doenças como a malária, a dengue e a febre amarela.
Anandasankar Ray, principal autor do estudo e especialista em entomologia, afirma que, até agora, ninguém tinha a menor ideia sobre os receptores olfativos usados pelos insetos para evitar o deet. Introduzido na década de 1940, esse composto químico utilizado nos repelentes manteve-se inalterado nos últimos 65 anos, em grande parte porque o receptor olfativo dos insetos era desconhecido. “Sem o conhecimento desses receptores é impossível aplicar a tecnologia moderna para conceber novos repelentes e aperfeiçoar o deet”, explica.
Os pesquisadores analisaram todos os neurônios sensoriais da Drosophila melanogaster, a mosca-da-fruta. Ela foi geneticamente modificada para que os neurônios ativados pelo deet apresentassem uma coloração verde fluorescente. Assim, foi possível identificar o Ir40a, receptor que reveste o interior de uma região pouco estudada da antena, o sáculo.
Essa descoberta permitiu que a equipe tentasse descobrir quais substâncias poderiam ser repelentes mais eficientes. “Nossas descobertas podem levar a uma nova geração de repelentes baratos e acessíveis que pode proteger humanos, animais e nossas plantações também”, acredita Ray.