
O trabalho foi realizado por José Maurício Bento, professor de entomologia da Universidade de São Paulo (USP), e a aluna Ana Cristina Pellegrino. Ao observar o comportamento dos animais em laboratório, eles notaram mudanças no comportamento dos insetos conforme variações no tempo. “Quando realizamos estudos, temos que controlar as variáveis, como a temperatura e a luz. Durante as experiências, notávamos que tinha dias em que os testes funcionavam e outros que não. Para nossa surpresa, constatamos que as alterações na pressão atmosférica provocavam as mudanças dos bichos”, conta Bento.
Para comprovar as constatações, os cientistas realizaram um experimento com três insetos de características bem distintas: um pulgão, um besouro e uma mariposa. “Monitoramos as variações pelos dados fornecidos pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) e notamos que, assim que a pressão atmosférica baixava, com seis a 12 horas de antecedência das chuvas, os insetos interrompiam as atividades de reprodução, como os rituais para o acasalamento, e se abrigavam, mesmo estando em um lugar fechado, como o laboratório.”
O experimento foi repetido no Canadá, na Universidade de Ontário, com uma câmara barométrica, que permitiu o controle da pressão atmosférica. As mudanças no comportamento foram novamente constatadas. Segundo Bento, a pesquisa comprova observações anteriores no mesmo sentido. “Vimos algo parecido em um tsunami que atingiu a Malásia. Alguns bichos fugiram antes da tragédia e sobreviveram. Também temos casos isolados, como o comportamento dos cachorros que uivam quando vai chover. Nossa pesquisa reforça essa suspeita de mudança (de comportamento) com um experimento, que tem valor científico ”, diz.
Para o biólogo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Magno, que não participou do estudo, o resultado do trabalho mostra claramente umas das ferramentas utilizadas para a sobrevivência dos bichos e um comportamento evolutivo. “Os insetos estão na Terra há mais de 300 milhões de anos. Eles chegaram bem antes do homem e precisavam utilizar os recursos para se proteger até por conta da estrutura, que é pequena e frágil”, explica. De acordo com Bento, o próximo passo da pesquisa será descobrir como funciona esses mecanismos de preservação e quais os recursos utilizados por esses animais para agir dessa forma.
