
Relatado por Matthew M. Botvinick e Jonathan D. Cohen, ambos da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, o efeito ficou conhecido como “a ilusão da mão de borracha”. Contudo, o motivo pelo qual o cérebro humano era enganado dessa forma permaneceu um mistério. Agora, de acordo com um artigo publicado hoje na revista científica Pnas pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, a sensação de que algo artificial é uma extensão do corpo pode ser explicada por uma hipótese com a qual ele trabalha desde o início de suas pesquisas à frente do projeto Andar de Novo. Segundo o especialista, testes com macacos mostraram que um estímulo visual pode ativar a área tátil do cérebro, responsável pelas sensações motoras.
“Esse é um resultado muito importante do ponto de vista da ciência básica, porque muda o conceito de como a imagem corpórea é criada pelo cérebro. Ao mesmo tempo, sugere, do ponto de vista da ciência aplicada, que qualquer prótese usada por um paciente que tem lesões da medula, por exemplo, poderá ser assimilada pelo cérebro como se fosse uma extensão do corpo”, afirma Nicolelis ao Correio.
A confirmação terá um impacto importante no Andar de Novo, que tem como objetivo a construção de um exoesqueleto que pode ser comandado por comandos cerebrais. A ideia do brasileiro é fazer com que, usando o equipamento, um deficiente físico sem os movimentos dos membros superiores e inferiores dê o chute inicial da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Com o novo conhecimento, será possível fazer o usuário do dispositivo não só chutar a bola, mas também senti-la.
Monitoramento

O neurocientista detalha que o experimento funcionará de forma semelhante nos pacientes do projeto Andar De Novo, mesmo que eles não tenham a sensibilidade inicial utilizada para observar o fenômeno nos macacos. Para isso, o exoesqueleto terá um canal tátil artificial. “Cada vez que o paciente pisar no chão, ele terá um estímulo tátil entregue a uma porção da pele dele que ainda está enervada, que ainda tem sensibilidade. É aí que nós vamos reproduzir essa ilusão.”
A armadura que fará a sustentação do paciente e reproduzirá seus movimentos com base em estímulos neurológicos se encontra em processo de construção pela equipe internacional do Andar de Novo, que envolve profissionais de três continentes. Segundo Nicolelis, os trabalhos continuam dentro do cronograma previsto. “Agora, estamos montando o exoesqueleto e terminando de montar o nosso laboratório aqui na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) para realizar todos os estudos científicos que serão necessários.” Ele e sua equipe estão selecionando os voluntários para participar do projeto e, a partir do fim de setembro, devem começar a treiná-los. O exoesqueleto deve ficar pronto no fim do ano. Até lá, os pacientes selecionados começarão a trabalhar com a versão já existente de um andador robótico para se acostumar com o equipamento.
