(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

Maior adesão é desafio para plataforma que possibilita mapear problemas urbanos

Canal também está aberto para a coleta de sugestões das comunidades. Interface faz cruzamento de iniciativas sociais


postado em 18/04/2013 10:00 / atualizado em 18/04/2013 10:05

Luiz Felipe de Souza é o criador do bairrocastelo.org, que já recebeu várias colaborações. Entre elas, está o uso do canteiro central da Avenida Altamiro Avelino Soares (foto abaixo)(foto: maria tereza correa/em/d.a press)
Luiz Felipe de Souza é o criador do bairrocastelo.org, que já recebeu várias colaborações. Entre elas, está o uso do canteiro central da Avenida Altamiro Avelino Soares (foto abaixo) (foto: maria tereza correa/em/d.a press)
“Hoje, este canteiro central está servindo apenas para acumular copos e cascos de garrafas dos bares agitadíssimos nos fins de semana. Poderíamos fazer uma pista de cooper e investir no paisagismo”, sugere Jorge. “Esse espaço é área de servidão da linha de transmissão da Cemig, não sendo permitido seu uso para lazer”, responde André Luiz. O debate sobre o que fazer com o canteiro central da Avenida Altamiro Avelino Soares, no Bairro Castelo teve a internet como cenário, mais precisamente a plataforma colaborativa bairrocastelo.org. O site foi criado em 2011, como trabalho de conclusão de curso do arquiteto e urbanista Luiz Felipe de Souza Quintão, de 30 anos. A ideia inicial era dar autonomia para que os moradores decidissem como ocupar a cidade.  

Segundo Quintão, o bairro foi escolhido por ser relativamente novo e ter a grande parte dos moradores com acesso à internet e, portanto, em condições de participar. Fundado na década de 1970, o Castelo teve o crescimento populacional acelerado pela construção de dezenas de prédios residenciais mas não houve melhorias em infraestrutura urbana e os espaços públicos foram deixados de lado. Há apenas o Parque Municipal Ursulina de Andrade, pouco utilizado, e a Praça Manoel de Souza Barros, recentemente reformada, mas também pouco convidativa.  

Em vez de esperar pelo poder público, a ferramenta permite que os moradores possam discutir e definir os rumos do bairro. No ponto no mapa em que se localiza o canteiro central há 22 comentários com sugestões de utilização do espaço vago. A interface recebeu ainda postagens sobre pontos de perigo para a proliferação do mosquito da dengue, lixo acumulado, falta de banco em pontos de ônibus e sugestões de melhorias na entrada do Parque Ursulina.

A interface foi baseada em iniciativas similares, como o site Cidade Democrática (www.cidadedemocratica.org.br) e Criticar Belo Horizonte (criticarbh.com.br), ambas plataformas de discussão, e os portais Voice of Kibera (voiceofkibera.org) e PortoAlegre.cc, que utilizam tópicos de discussão georreferenciados.

A plataforma é simples. Os dados são sobrepostos sobre o Google maps e, para visualizar informações sobre um determinado ponto, basta clicar sobre ele no mapa ou na lista de postagens. É possível adicionar comentários nessas sugestões, como é feito nos blogs.

Já para criar pontos, é preciso ser um usuário cadastrado: basta preencher um pequeno formulário e confirmar o cadastro no e-mail de verificação. Cada marco no mapa pode levar a um arquivo de imagem e texto, caracterizado como  residencial, comercial, espaço vazio e outros.
(foto: Google Street view/Reprodução da internet-15/04)
(foto: Google Street view/Reprodução da internet-15/04)

Conexões

Para o arquiteto, não há mais como discutir o espaço urbano sem a geolocalização. Por meio da cartografia é possível perceber conexões entre diferentes demandas populares. “Por exemplo, o bairrocastelo.org  poderia ser utilizado no Orçamento Participativo, que é um processo de proposição muito fechado, burocrático”, sugere. Para ele, a ferramenta poderia servir também como forma de criar uma comunidade mais forte e assim pressionar o poder público em busca de melhorias para o bairro. “Iniciativas da comunidade são mais ágeis e condizentes com as necessidades locais do que aquelas que são propostas pelo poder público. Afinal, ninguém melhor que os moradores para conhecer suas necessidades e decidir sobre o seu bairro”, diz.

A divulgação da interface foi feita com a distribuição de 6 mil panfletos informativos nas caixas de correios de mais de 80% das casas do bairro e pelas redes sociais. Normalmente, essa estratégia traz retorno de 2% a 5%, o que representaria entre 120 e 300 acessos ao site. O arquiteto conta que, infelizmente, a participação foi baixa, mas dentro da proporção esperada. “Há um estudo que diz que cerca de 90% dos usuários entram só para ver o que está acontecendo, 9% fazem comentários sobre sugestões de outro usuário e apenas 1% contribui com conteúdo novo”, explica. Houve propostas de melhorias reais, mas grande parte do conteúdo se limitou a reclamações e sugestões simplistas, nada que encorajasse um engajamento concreto. Quintão concluiu que é uma questão cultural – os moradores acreditam que o poder público é o único responsável por implementar as melhorias, enquanto o povo paga impostos e vota.

Ele acredita que a divulgação poderia ter sido diferente, com o apoio de alguma interface física. Ou, quem sabe, colocar placas em alguns pontos informando a sugestão de construção de uma pista de corrida, de um parque etc. “Essa relação do que está na rede com o real poderia aumentar os acessos”, prevê.

 

Crowdsourcing de ONGs

Maria é responsável por uma organização não-governamental que ensina dança para jovens no Aglomerado Alto Vera Cruz, na Região Leste de Belo Horizonte. No bairro ao lado – Taquaril – José está promovendo uma festa cultural e precisa de grupos para as apresentações. As duas fictícias iniciativas poderiam se encontrar e se ajudar por meio do MootiroMaps (maps.mootiro.org), plataforma de georreferenciamento que permite visualizar recursos, necessidades e organizações.


O nome vem do tupi e significa construção coletiva. O software, lançado no ano passado, tem atualmente 810 usuários e cerca de 150 acessos diários. São 60 novas informações postadas todos os dias. A interface é aberta e convida à participação de organizações da sociedade civil. A ideia é que essas entidades compartilhem informações para promover uma maior mobilização social. Por meio dela, os parceiros descobrem as esferas de atuação de uma entidade e conferem seu nível de articulação.

Entre as rotas de maior sucesso no MootiroMaps estão as ciclovias (inclusive com mapeamento de acidentes e pontos de bicicletários) e áreas de lazer, além de hortas comunitárias. É feito também o levantamento de obras para a Copa do Mundo.

A alemã Daniela Mattern, de 32 anos, coordenadora geral do projeto, conta que o objetivo é promover o cadastro de comunidades para que as pessoas possam ajudar. Além do diagnóstico das demandas, é possível fazer buscas temáticas, como, por exemplo, a quantidade de programas de turismo próximos à unidades de preservação. A interface também pode funcionar como um local para fazer uma espécie de tradução do conteúdo agora disponível com a Lei de Acesso à Informação. “Podemos informar onde ficam os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento, mandar fotos do andamento das obras, fazer um controle social”, sugere Mattern.

Os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco têm maior presença dentro da rede. Na favela de Heliópolis, em São Paulo, as crianças e adolescentes abraçaram o projeto e eles próprios mapearam quadras esportivas e telecentros. Em breve, Juiz de Fora fará parte do projeto Aldeias infantis, que cria um mapa de oportunidades, com potencialidades locais e coletivas nas áreas de política, cultura e economia.

O login na plataforma pode ser feito pelo Facebook. É possível assinar conteúdos e receber notificações quando alguém os edita. O grande desafio, segundo a coordenadora, é que as pessoas curtem os posts compartilhados na rede social, mas a equipe não consegue converter essas interações em contribuições ao sistema.

“O MootiroMaps tem vários impactos positivos, como a construção do conhecimento. Outro, ponto positivo, embora menos visível, é que ele funciona como uma agenda de contatos de organizações da sociedade civil e um guia da comunidade”, acrescenta a coordenadora. A iniciativa tem parceria com a Rede Andi Brasil, agência de notícias dos direitos da infância e da adolescência, e recebeu o apoio do Instituto C&A.

 

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)