
"Como é uma experiência nova e confiamos muito nela, temos de ter cautela”, pondera o professor Marco Aurélio Crocco Afonso, presidente da fundação. A expectativa dele é de expansão dos recursos logo depois que instituições públicas, como bancos e agências de fomento, com os quais já vem negociando, decidirem investir no projeto. No primeiro momento, o Programa de Investimento Fundep vai privilegiar entre quatro e cinco empresas das áreas de biotecnologia, nanotubos de carbono, fármacos, vacinas, tecnologia de informação e comunicação, engenharias e medicina veterinária entre as quais a UFMG mais distribui patentes. O programa, no entanto, não cria restrição setorial. O aporte será de, no máximo, R$ 500 mil, por empresa.
Trabalhando para que possam receber as primeiras propostas de criação de empresas neste início de ano, Marco Aurélio Crocco diz que além de formatar a equipe de trabalho eles estão criando a Fundep Participações S.A., empresa privada que receberá os recursos a serem aportados às candidatas ao posto de empresas emergentes inovadoras. "Nossa expectativa é que no prazo de três anos possamos captar novos parceiros, que investiriam cerca de R$ 25 milhões, totalizando R$ 30 milhões de recursos, por meio dos quais conseguiríamos aprovar até 3 mil novos projetos de empresas", avalia Crocco.
Para o presidente da Fundep, incorporar conhecimento em produtos e processos pode gerar vantagens fundamentais para o processo de desenvolvimento. “Não diria que o conhecimento é um negócio, mas ele é fundamental para o desenvolvimento”, avalia ele, lembrando que a Região Metropolitana de Belo Horizonte é hoje destaque nacional nas áreas de biotecnologia e tecnologia da informação. "Somos a cidade com maior concentração de empresas de biotecnologia”, garante Crocco, reforçando o potencial de investimento na capital mineira. Como há um conceito por trás do programa criado pela fundação, o presidente da Fundep lembra que ele não é um fundo de investimento tradicional, cujo principal compromisso é com investidores.
“Nossa ideia é dar um passo além na relação universidade-empresa, que é algo difícil", afirma. Para o professor, normalmente o pesquisador sabe fazer ciência. “A dificuldade dele reside no entendimento da linguagem do mercado”, diz, salientando que a Fundep, por gerenciar todos os projetos de pesquisa dentro da UFMG, tem know-how próprio no setor. “A vantagem é que nós já conhecemos os pesquisadores há muito tempo”, acrescenta. E admite que o compromisso da fundação não é com a rentabilidade do negócio. “Nós apenas entramos com o capital e a gestão.”
Sociedade será beneficiada
O objetivo do projeto é facilitar a transmissão para a sociedade do conhecimento produzido na universidade, por intermédio de uma empresa que vai cuidar da fabricação de algo. “Não estamos inventando um modelo. Trata-se de algo já existente nas principais universidades britânicas, que têm um braço comercial para investir em empresas emergentes. Estamos apenas adaptando modelos europeus à realidade brasileira", reconhece Marco Aurélio Crocco. Daí o pioneirismo do projeto no Brasil, onde até agora há apenas agências de investimento que servem de ponte entre investidores e professores/pesquisadores em instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Campinas (Unicamp), para ficar em dois exemplos.

Saiba mais: A Fundep
Responsável por projetos de ensino, pesquisa e extensão em várias áreas da UFMG, a Fundep tem atualmente, em sua sede no câmpus Pampulha, 280 funcionários, tendo gerenciado R$ 550 milhões em projetos novos apenas no ano passado. Além da sede, a fundação administra obras da UFMG e o Hospital Risoleta Neves, por acordo firmado com o município, contabilizando, portanto, cerca de 5 mil pessoas sob o CNPJ da instituição. Só na UFMG são cerca de 3,5 mil projetos, além de mais de 500 em escolas como a Universidade do ABC, Instituto Nacional de Tecnologia e Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Com o governo do estado a Fundep desenvolve projetos como o Projovem e o Fica Vivo. Em 38 anos de atividades, a serem completados no mês que vem, a fundação atendeu prioritariamente a UFMG, como ocorre agora com o novo projeto, cuja estrutura inicial, enxuta, envolve o trabalho de quatro funcionários da própria Fundep.
Como se candidatar
Veja o perfil inicial do projeto
-R$ 5 milhões de capital inicial (recursos próprios)
-Modalidade: venture capital (seed money)
-Prazo médio de maturação estimado: de 2 a 5 anos/projeto/empresa
-Prazo de duração do programa: indeterminado (mínimo de 10 anos)
-A seleção de projetos será por meio de edital, com aporte inicial de até R$ 500 mil, por empresa
-Aporte total: limitado por empresa/projeto a 20% do capital disponível para investimento
-Limite por CPF: investimentos limitados a 20% do patrimônio líquido do CPF
-A captação de recursos será feita por meio de emissão de debêntures pela Fundep Participações S. A. ou emissão de ações em holdings, em sociedade com parceiros institucionais
-Captação junto a parceiros: até R$ 50 milhões
