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Estado de Minas

Peça Argonautas retrata do uso excessivo da internet na vida cotidiana


postado em 17/01/2013 07:00 / atualizado em 17/01/2013 11:30

Em Argonautas de um mundo só há uma mesclagem das linguagens teatral e tecnológica. Os atores contracenam usando aparelhos (foto: Ludmila Loureiro/Divulgação)
Em Argonautas de um mundo só há uma mesclagem das linguagens teatral e tecnológica. Os atores contracenam usando aparelhos (foto: Ludmila Loureiro/Divulgação)
Em grupos, as pessoas vão se ajeitando nas cadeiras dispostas de forma confusa na sala escura. Ops... Faltaram assentos para todo mundo. E agora? O jeito é sentar no chão. Uma, duas, três vezes e o projetor brinca de não funcionar. Alguns percebem que estão ao lado da tela e não verão absolutamente nada, o que os obriga a se movimentar pelo espaço. Enfim, o vídeo se inicia, e na projeção aparecem os usuários P, X, F e G, conversando entre si, como se fosse uma conferência do Hangout, do Google Plus. “Entrei? Entrei?”, questiona uma das atrizes em cena. Depois de todos se apresentarem, o usuário G avisa que o espetáculo pode durar de 30 a 60 minutos, dependendo da conexão.

A peça Argonautas de um mundo só, realizada pelo agrupamento O Coletivo, com direção de Júlio Vianna, estreou em dezembro e fez parte da 39ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, em Belo Horizonte. No próximo fim de semana, a população de Juiz de Fora, na Zona da Mata, poderá conferir a produção. E de 25 a 27 o espetáculo cumprirá temporada em Uberlândia, no Teatro Rondon Pacheco. Em cena: as relações humanas marcadas pela virtualização das práticas cotidianas. Os personagens navegam em mares bravios da internet, como na mitologia grega que inspira o título – sobre a saga de heróis que rumam em uma perigosa expedição em busca do Velocino de Ouro.

“Perfis” (sejam eles virtuais ou não), conforme sugere o enredo, coabitantes de um espaço físico qualquer, são vivenciados pelos atores Alexandre Vasconcelos, Flávia Fernandes, Priscilla D’Agostini e Glauco Mattos. Enquanto o usuário X não comparece aos encontros marcados via um site de relacionamentos, P afirma não buscar fama, mas expõe toda a sua vida na rede. G procura eternamente a casa perfeita e negocia com agentes imobiliários só para ter com quem conversar. F, por sua vez, mantém um relacionamento – e mente – via chat. Em comum: a solidão. Todos os personagens buscam por outros e por si mesmos.

Interação hi-tech A peça mescla a linguagem teatral à tecnologia. Os atores contracenam entre si, a todo momento, por meio de algum aparelho. Seja um celular, um projetor de vídeos ou um notebook. Com todo esse aparato em cena, imprevistos ocorrem, é claro. Projetores já caíram e desligaram, som falhou... Muitos desafios tecnológicos também se impuseram e foi preciso desistir de algumas ideias iniciais. Segundo Vianna, a abertura da peça, com a espécie de conferência entre os atores, seria transmitida ao vivo. “Mas, para isso, precisaríamos de uma banda dedicada, que custaria cerca de R$ 10 mil por mês”, explica. Assim, optou-se pela gravação.

Nas cenas feitas a partir de projeções sobre seus próprios corpos, os atores tiveram que ensaiar o tempo da gravação para dar respostas ao seu interlocutor no momento exato. Ao todo, a equipe tem nove pessoas em cena, entre atores, técnicos de som, de luz, cinegrafista e videomaker. Segundo o diretor, apesar do excesso de tecnologia em Argonautas, os comandos ocorrem da maneira mais simples possível. Os atores, por exemplo, são os próprios contrarregras.

A peça foi planejada para ser interativa desde antes mesmo de o espetáculo se iniciar. No hall de espera, o público tem um computador à disposição para sugerir links de vídeos que lhe interessam do YouTube. As sugestões integram o espetáculo. Em um dia, pode ser que a produção escolhida seja o caso da jovem que teve a galinha de estimação roubada e, em outro, uma minipalestra sobre reciclagem. Toda noite os atores têm que improvisar, pois o vídeo é sempre uma surpresa para eles.

Outra grande oportunidade, não muito aproveitada pela plateia, é a permissão para deixar os celulares ligados – em modo silencioso, claro – durante a peça. Assim, fotografar e filmar são atividades liberadas, além de postar comentários no blog do Argonautas (espetaculoclique.blogspot.com.br). “Não teria lógica seguir a regra do teatro convencional. Para gente, toda interação é bem-vinda”, diz Júlio Vianna. Apesar da liberação, tirar um celular da bolsa emanando todo o brilho da tela em meio ao breu do ambiente pode ser uma tarefa perigosa. O público simplesmente não o faz. E quem se arrisca pode ser tachado, em pensamentos alheios, de viciado em internet ou sem noção. Vai entender...

Pelo blog Espetáculo clique, é possível ver a peça on-line ao vivo. O recurso tem feito sucesso entre os internautas até mesmo de Portugal. Há um cinegrafista acompanhando cada detalhe da encenação. A câmera não é parada, há um dinamismo que torna a sessão virtual uma experiência bastante interessante. Ao fim de Argonautas, o destino de um dos personagens pode ser conferido em um vídeo na página virtual.


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