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Estado de Minas

Expectativa, dificuldade e medo ajudam a dar a impressão de que o tempo é relativo

O que afeta a percepção das pessoas sobre a duração de uma tarefa? Diferentes estudos mostram que vários fatores podem alterar a percepção do tempo


postado em 14/08/2012 08:53 / atualizado em 14/08/2012 09:45

O último mês que antecede as férias parece uma eternidade. Quando o período de descanso chega, porém, mal se tira o terno e já está na hora do retorno. Se, nas reuniões entediantes, os ponteiros do relógio demoram mais a passar, no fim de semana, eles voam. Mas são implacáveis quando se trata de vigiar o leite, que parece demorar horas para ferver. Do ponto de vista da física, não existe diferença entre um dia na praia e um no escritório. Ambos terão 24 horas; cada uma delas, com 60 minutos, que, por sua vez, dividem-se em 60 segundos. Na cabeça das pessoas, porém, o tempo é abstrato.

De acordo com Dan Zakay, professor de psicologia cognitiva da Universidade de Telavive, em Israel, diversos fatores influenciam na percepção psicológica do tempo, sendo que o contexto desempenha um papel fundamental. Por exemplo, a recordação de um evento provavelmente será interpretada, em termos de duração, de maneira diferente da percepção que se tem de uma atividade que está acontecendo no presente. Ao se lembrar de um acontecimento, as pessoas evocam a quantidade de informação recebida naquele momento para avaliar se foi longo ou curto — quanto mais dados armazenados, maior parecerá o intervalo. Porém, quando está desempenhando uma tarefa tediosa, provavelmente alguém vai achar que as horas estão se arrastando mais do que, de fato, registra o relógio.

Zakay, que participou de uma edição especial da revista The Psychologist sobre o tema, explica que, quando se trata de rememorar eventos e tentar estimar o tempo despendido, as pessoas tendem a associar a duração à quantidade de memória armazenada. Por exemplo, ao se recordar de uma palestra em que o orador falou demais, bombardeando a plateia com informações, o indivíduo, provavelmente, vai achar que ela durou mais tempo do que na realidade.

“Durante um intervalo idêntico de tempo, mais ou menos informações podem ser estocadas, e isso terá influência na nossa percepção”, diz. Quando se pede para alguém resolver um problema difícil de aritmética, como uma multiplicação complexa, mais dados serão processados e armazenados do que durante uma operação simples, como a adição. “Mais tarde, se perguntarmos à pessoa que fez as contas qual das duas parece ter tomado mais tempo, mesmo quando foram resolvidas exatamente no mesmo intervalo, ela vai eleger a multiplicação”, afirma Zakay, baseado em testes que simularam situações semelhantes.

O psicólogo conta que um desses estudos sobre o que ele chama de tempo retrospectivo consistiu em mostrar aos participantes duas figuras: um círculo (simples) e um polígono irregular (complexo). Depois, os voluntários tinham de estimar o tempo de exposição aos objetos, que, sem que soubessem, tinha sido idêntico. “Os participantes expostos à figura simples acreditaram que passaram um tempo muito menor diante delas comparando-se com os que viram o polígono complexo”, diz. Como, no primeiro caso, o nível de informação estocado na memória foi bem mais baixo, a impressão foi de que o tempo passou mais rápido.

Atenção

A coisa muda quando se trata de experimentar o tempo no presente. Nesse caso, quanto mais informações precisam ser processadas, mais rápida a tarefa parecerá. Outro experimento citado por Zakay consiste em recrutar três pessoas para fazerem contas matemáticas no mesmo intervalo de tempo. A primeira tem de executar um cálculo simples, a segunda resolve um problema complexo e a terceira não faz nada.

“Antes de a experiência começar, dizemos aos três que precisam estimar, da maneira mais precisa possível, o tempo que estão gastando. O que acontecerá? Diversos testes similares, usando diferentes tipos de atividades mentais, indicam que a pessoa que não fez nada pensará que se passou muito mais tempo. Já a que ficou com o exercício complexo é a que julgará o intervalo mais curto”, conta o psicólogo. Nesse caso, é a atenção, e não o armazenamento de informações, que exerce o principal papel na percepção do tempo. Ao saberem que terão de estimar os minutos ou as horas de uma tarefa que ainda vão desempenhar, as pessoas ficam atentas ao tempo, e isso terá influência na forma que a mente compreende a sua passagem.

O leite demora a ferver quando vigiado porque a atenção de quem acendeu o fogo está focada na leiteira. Assim como um terremoto parece ter durado muito mais tempo por quem o presencia, já que a vontade que passe logo é grande. “De forma similar, quando estamos esperando um amigo, aguardando que o sinal de trânsito abra ou que o operador de telemarketing nos atenda, nos focamos em quando isso vai acontecer. Há, portanto, uma alta relevância temporal”, diz Zakay. Por outro lado, em férias ou durante uma atividade prazerosa, o relógio é o último objeto a ser considerado. “Quando estamos descansando ou vendo um bom filme, podemos ter a impressão de que o tempo não está passando. Ma, se consultarmos as horas, ficaremos assustados ao ver quanto tempo se passou sem que tivéssemos percebido”, afirma o especialista.

Em vez de desejar mais ou menos tempo em suas vidas, as pessoas deveriam mudar sua percepção, diz o psicólogo Michael DeDono, que fez seu doutorado sobre este tema, na Universidade de Case Western Reserve, nos Estados Unidos. “Hoje em dia, uma das maiores reclamações que se ouvem é: ‘Não tenho tempo para nada’. O que afeta aqueles que se sentem assim não é o tempo propriamente dito, mas a percepção que eles têm sobre ele”, acredita. Em um dos estudos que realizou para a tese, DeDono dividiu 163 voluntários em dois grupos: o primeiro foi informado que o tempo para realizar a tarefa era insuficiente, enquanto, para o outro, o pesquisador afirmou que havia tempo de sobra. Na realidade, o intervalo para ambos era o mesmo, e todos sabiam quantas horas tinham para executar o trabalho.

O que importava não era o tempo real, mas a pressão exercida pelo pesquisador. De vez em quando, DeDono voltava a alertar o primeiro grupo de que o tempo era curto, ainda que o relógio mostrasse aos voluntários o contrário. Mesmo assim, o psicólogo percebeu que, quando dizia que eles não conseguiriam terminar a tarefa no prazo estipulado, o desempenho piorava muito. Por outro lado, o segundo grupo ouvia que o tempo era suficiente até quase o fim. Os ponteiros não intimidaram os participantes, que, ao serem informados que conseguiriam terminar o teste, se saíam muito bem. “Nós não controlamos o tempo, mas podemos controlar nossa própria percepção. É incrível o tanto que você pode fazer, mesmo com uma quantidade limitada de tempo, se você tem confiança de que é possível”, ensina.

Medo

Clique para entender melhor
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O professor de neurociência e psiquiatria David Eagleman, da Faculdade de Medicina Baylor, no Texas, ressalta que, assim como a pressão, o medo é um fator que influencia na percepção do tempo. Ele testou isso em voluntários que aceitaram participar de uma queda livre de 30 metros, protegidos por equipamentos de segurança. Primeiro, eles viam os outros descendo e tinham de estimar quantos segundos durou a aventura. Depois, ao pularem, precisavam dizer o tempo que acreditaram ter levado para chegar ao chão. Em média, cada participante achou que demorou 36% mais do que os outros. Todos, porém, alcançaram o solo em três segundos.

“Eventos assustadores estão associados a memórias mais ricas e densas. Quanto mais recordações você tem de um fato, mais tempo você vai atribuir a ele”, explica Eagleman. “É por isso que parece que o tempo voa à medida que você cresce. Quando criança, tudo é novidade, então as experiências ficam bem marcadas e ricas. Mais velhos, já vimos de tudo um pouco, e as memórias que guardamos de fatos e eventos do dia a dia vão encolhendo. No fim do verão, a criança olha para trás e parece que aquela estação durou para sempre. Para os adultos, a impressão é de não ter durado quase nada.”

 


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