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Estado de Minas

Célula regenerada cura o diabetes

Mal foi extinto em ratos com multiplicação da estrutura responsável por sintetizar a insulina


postado em 10/05/2012 09:04

Às vezes, o próprio organismo pode ser o pior inimigo de um ser humano. Por motivos ainda desconhecidos, as células de defesa passam a atacar estruturas sadias, como se fossem vírus, bactérias ou fungos, e o trabalho bem-sucedido desses “soldadinhos” resulta nas chamadas doenças autoimunes. Uma delas é o diabetes, para o qual só existe controle. Pesquisadores chineses e americanos anunciaram, porém, um importante passo na luta contra o mal. Na edição de hoje da revista Science Translational Medicine, eles relatam um experimento que, em ratos, resultou na cura total do tipo 1, que atinge principalmente crianças e adolescentes.

O sucesso da pesquisa consiste na adoção simultânea de três procedimentos já descritos anteriormente, mas de forma separada, pelos autores do estudo. Com técnicas de engenharia genética, eles conseguiram ensinar os linfócitos a não atacarem o pâncreas, além de induzir a produção e a multiplicação das células beta, responsáveis por sintetizar a insulina (veja infografia). A longo prazo, o organismo de mais da metade dos ratos com diabetes 1 em estágio avançado exibiu um comportamento normal, caracterizando a cura.

Defu Zeng, pesquisador do Departamento de Diabetes e Transplante de Células Hematopoéticas do Instituto Beckman, na Califórnia, conta que as opções para portadores de diabetes 1 ainda são muito restritas. Principal autor do estudo publicado hoje, Zeng lembra que a rotina dos pacientes pode ser estressante, pois eles precisam medir os níveis de glicose e tomar as injeções de insulina diariamente. “Se esses cuidados não forem estritamente seguidos, a pessoa pode entrar em coma e até mesmo morrer”, diz. A outra opção é fazer um transplante de ilhotas de Langerhans. Essas estruturas são conjuntos de células beta, as principais afetadas pelos linfócitos, localizadas no pâncreas. “O transplante é a única terapia capaz de reverter o estágio avançado do diabetes tipo 1”, conta o pesquisador.

O problema é que esse é um tratamento ainda bastante restrito. Primeiro, são necessárias ilhotas de dois a três doadores para apenas um receptor. “E, infelizmente, mesmo tomando imunossupressores para evitar a rejeição, os efeitos terapêuticos duram apenas por três anos. Isso porque esses medicamentos são bastante tóxicos e, com o tempo, o paciente desenvolve rejeição crônica”, acrescenta Jeremy Racine, também autor do estudo e pesquisador do Centro de Excelência da Universidade da Flórida. “Por isso, a necessidade de muitas ilhotas, combinada aos efeitos terapêuticos de curta duração, tem arrefecido o entusiasmo do transplante como método curativo de diabetes 1 avançado”, diz.

Os cientistas contam que, por outro lado, a regeneração das células beta do próprio paciente tem sido considerada uma abordagem atraente. Como, porém, doenças autoimunes são caracterizadas justamente pela destruição celular, no estudo foi preciso combinar diferentes terapias que visavam não apenas estimular a multiplicação dessas estruturas, mas evitar que os linfócitos a reconhecessem como corpo estranho e, dessa maneira, parassem de atacá-las.

Mistura de células

O primeiro passo da pesquisa foi administrar nos ratos uma terapia gênica que bloqueava a ação de anticorpos encontrados em dois tipos de linfócitos: CD3 e CD8. Em seguida, foi realizado o transplante de células beta. Para evitar a rejeição, os cientistas aplicaram uma técnica chamada quimerismo, que consiste na mistura de células de um doador compatível com estruturas do próprio paciente. Isso dificulta a expulsão do tecido transplantado. Depois de checar que os dois primeiros passos foram bem-sucedidos, os pesquisadores partiram para a terceira fase. Eles administraram um estimulante de crescimento celular que permitiu a regeneração e a multiplicação de células beta.

“Esse estudo revela que uma abordagem terapêutica que tenha como alvo pacientes com diabetes tipo 1 não pode se basear em apenas uma técnica, mas precisa agregar diversos métodos”, observa Anita S. Chong, pesquisadora da Universidade de Chicago que fez a revisão médica do artigo para a Science Translational Medicine. “Mas pesquisas adicionais são necessárias em ratos e primatas não humanos antes de os estudos clínicos começarem. Ainda não se sabe se, em humanos, a administração de anti-CD3 e anti-CD8 é segura. Além disso, em outros estudos, a replicação das células beta entrou em declínio com o passar dos anos, então, é preciso verificar se isso vai ocorrer também dentro desse protocolo, o que exige um período de observação maior”, acredita.

Defu Zeng concorda que são necessárias mais pesquisas até que os testes com humanos tenham início. “Primeiro, temos de verificar se não haverá rejeição em estudos com primatas, assim como ocorreu com os roedores. E, talvez, em modelos não roedores, a taxa de produção de células beta pode não ser igual.” Ele diz, porém, que os resultados obtidos pela equipe são bastante animadores e, se confirmado o sucesso em humanos, a abordagem poderá ser utilizada para outras doenças autoimunes, como lúpus e esclerose múltipla.

Doença cresce entre homens e já atinge 5,6% da população brasileira

O diabetes aumentou entre os homens e prevalece em 5,6% da população brasileira, indica a pesquisa Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel 2011), divulgada ontem pelo Ministério da Saúde. O percentual do problema aumentou nos homens, passando de 4,4% em 2006 para 5,2% no ano passado. Apesar disso, a prevalência naqueles que informam ter a doença continua sendo inferior à das mulheres (6%).

A doença atinge 5,5% da população total de Belo Horizonte – que tem 4,1% de homens com diabetes e 6,6% de mulheres com o problema. O índice geral da capital mineira é similar ao de Maceió (AL) e Salvador BA). São Paulo tem 5,9% de diabéticos em sua população e Rio de Janeiro, 6,2%. Fortaleza (CE) aparece como a capital com o maior percentual de diabéticos, com 7,3%, seguida por Vitória (ES), com 7,1%, e Porto Alegre (RS), com 6,3%. As capitais com os menores índices são Palmas (TO), com 2,7%, Goiânia (GO), com 4,1%, e Manaus (AM), com 4,2%. Os maiores índices de mulheres com a disfunção estão em Vitória (8,6%), Campo Grande (7,1%) e Porto Alegre (7%). Entre os homens, os maiores percentuais de diabéticos estão em Fortaleza (8,3%), Rio de Janeiro (7,3%) e São Luís (5,7%).

O levantamento foi feito em 26 capitais e no Distrito Federal e mostra que o diabetes é mais comum em pessoas que estudam menos – 3,7% dos brasileiros que têm mais de 12 anos de estudo declaram ser diabéticos, enquanto 7,5% dos que têm até oito anos de escolaridade dizem ter a doença. O diagnóstico da doença também aumenta conforme a idade da população, já que o diabetes chega a atingir 21,6% dos idosos (maiores de 65 anos) e apenas 0,6% das pessoas na faixa etária de 18 a 24 anos.

A diretora do Departamento de Análise de Situação de Saúde do Ministério da Saúde, Déborah Malta, lembra que a doença está fortemente associada ao excesso de peso. Dados do Vigitel indicam que, no período de 2006 a 2011, houve um crescimento de 28% na prevalência da obesidade no país. Apenas entre os homens, o percentual de excesso de peso passou de 47,2% para 52,6%.

A pesquisa aponta ainda que 22,7% da população adulta brasileira é hipertensa. O diagnóstico é mais comum entre mulheres (25,4%) do que entre homens (19,5%) e também preocupa entre os idosos (59,7%).

"O Brasil é um país que envelhece e de forma muito rápida. A população tende a viver cada vez mais, a ter maior expectativa de vida e um risco maior de doenças crônicas”, disse Déborah. O ministério informou que o número de internações por diabetes no Sistema Único de Saúde (SUS) aumentou 10% entre 2008 e 2011, passando de 131.734 para 145.869.

Mortes
Em 2009, foram notificadas 52.104 mortes pela doença em todo o país. No ano seguinte, os óbitos aumentaram para 54.542. "O grande problema das doenças crônicas é que elas agregam sofrimento, incapacidades e custos cada vez maiores para o sistema público”, acrescentou a diretora. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, lembrou que a oferta gratuita de medicamentos para combater o diabetes, iniciada no ano passado, ampliou em mais de 1 milhão o número de pessoas que usam o remédio. O orçamento do ministério para medicamentos correspondia a 5,8% do orçamento em 2003 e saltou para 12,5% a partir de 2010, segundo a pasta. Em 2012, o valor para compra desses produtos chega a R$ 7,7 bilhões.

Entenda
Além do tipo 1, o diabetes se manifesta de outras duas formas:

O tipo 2, chamado de diabetes não insulinodependente ou diabetes do adulto, corresponde a 90% dos casos de diabetes. Ocorre geralmente em pessoas obesas com mais de 40 anos, embora esteja sendo detectado atualmente entre jovens, em virtude de maus hábitos alimentares, sedentarismo e estresse. Há presença de insulina, porém sua ação é dificultada pela obesidade, o que é conhecido como resistência insulínica, uma das causas de hiperglicemia. Por ser pouco sintomático, o diabetes permanece por muitos anos sem diagnóstico e sem tratamento, favorecendo a ocorrência de suas complicações no coração e no cérebro.

A presença de glicose elevada no sangue durante a gravidez é denominada de diabetes gestacional. Geralmente a glicose no sangue se normaliza depois do parto. No entanto, as mulheres que apresentam ou apresentaram diabetes gestacional têm maior risco de desenvolverem diabetes tipo 2 tardiamente, o mesmo ocorrendo com os filhos.

Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes


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