(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

No ritmo da tecnologia

Com tantos recursos, mídia digital influencia cada vez mais o trabalho de músicos e DJs


postado em 03/05/2012 09:22

Cabos, microfones, remixes, amplificadores, fones de ouvido... Enfim, é enorme a lista de dispositivos do universo musical e que não para de crescer com tantas possibilidades abertas pela tecnologia. “É uma revolução”, comenta o professor de música e compositor de trilhas sonoras José Eugênio Feitosa. “E ninguém arrisca uma previsão de onde isso vai dar”, completa.

Ele sabe que esses dois aspectos (música e informatização) estão mais unidos do que nunca. Vejamos: um musicista consegue estudar pelos dados que encontra na internet, dar aulas por vídeos em tempo real, usar aplicativos que afinam os instrumentos e identificam notas, conectar o teclado e o violão direto no computador, compartilhar partituras… E, com o aumento do número de softwares, o de equipamentos de som diminuiu e os torna cada vez mais virtuais e baratos.

O lado ruim da história é que isso pode significar uma grande perda de qualidade, ressalta. Ele diz que o fato de qualquer pessoa sem conhecimento poder produzir música atrapalha o mercado. Um profissional, lembra ele, fará a composição de forma criteriosa, estudada, consciente. “Antigamente, tinha que ter talento; hoje, bastam alguns comandos no PC para fazer algo parecido e sem cuidado. Isso envolve a questão do que é, realmente, arte”, desabafa.

O que não há dúvida é que, com o advento da tecnologia, as pessoas têm acesso a mais artistas, estilos, canções alternativas e, claro, informações sobre o assunto. E que tal esta? O professor diz que a música pode fazer bem fisicamente ao ser humano se estiver equilibrada em três pontos: harmonia, melodia e ritmo, ligados respectivamente à cabeça, ao coração e aos instintos primitivos.

Embalados nesse conceito, saiba racionalmente pelos números como a música digital cresceu no mundo (cabeça), a volta do disco de vinil e o amor de uma senhora, Janete das Graças, de 61 anos, pelos LPs (coração) e o que é preciso para ser um DJ e manipular as batidas eletrônicas (instintos).

(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press - 26/3/07)
(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press - 26/3/07)
HARMONIA – cabeça
Há cinco anos ainda era comum dar um CD de presente para alguém. De lá para cá, os downloads, o serviço de streaming e a compra de músicas pelo iTunes mudaram esse cenário. Agora, os mais saudosistas ainda mantêm a tradição, mas a tendência é a digitalização. As vendas de álbuns digitais tiveram aumento de quase 20%, com 103,1 milhões de unidades vendidas em 2011 – comparando-se aos 86,3 milhões em 2010, segundo pesquisa da Nielsen em parceria com a Billboard.

O estudo mostra que, pela primeira vez, uma música digital teve mais de cinco milhões de downloads em um ano: o sucesso da cantora britânica Adele com a canção Rolling in the deep, com 5,8 milhões de downloads.

Ao todo, foram vendidas 1,6 bilhão de músicas entre 3 de janeiro de 2011 e 1º de janeiro de 2012, compondo o conjunto de formatos físico e on-line. E mais pessoas compraram CDs pela internet. Houve um crescimento de 17,7% nas vendas – de 24,3 milhões em 2010 para 29,9 milhões em 2011. A quantidade dos que preferem ter a música apenas no computador (álbuns digitais) também aumentou: 19,5%. Assim, entende-se a queda no número de quem vai até a loja para comprar um CD: 5,7% pontos negativos no mercado.

Em parceria com empresas telefônicas, o streaming ganha ainda mais espaço no Brasil. A Oi oferecerá aos clientes acesso a um portfólio de 15 milhões de músicas no serviço Oi Radio. A GVT tem o Power Music Club com 700 mil canções para os assinantes.

Paradoxalmente, outro formato musical parece ressurgir das cinzas. A procura pelos LPs, os tradicionais long plays, cresceu 36,3%: de 2,8 milhões em 2010 para 3,9 milhões em 2011. E saiba que quase três em cada quatro discos comprados em 2011 foram de rock.

(foto: Elio Rizzo/Esp. CB/D.A Press)
(foto: Elio Rizzo/Esp. CB/D.A Press)
MELODIA – coração

Diferentemente do que aponta a pesquisa, rock n’ roll não é o estilo preferido de Janete das Graças (foto). Mas com certeza o ritmo está incluso na sua coleção de 15 mil CDs e 5 mil LPs. Há 20 anos, ela dirige uma loja que trabalha com esses formatos. Primeiro, eram só CDs, depois viu notícias de que as pessoas jogavam discos de vinil no lixo. “Precisava fazer algo para preservá-los. Comprei mais, montei um acervo e comecei a locar para as poucas pessoas que tinham interesse”, conta.

Hoje, ela mantém um espaço cultural com uma biblioteca com 300 livros musicais e vitrolas espalhadas por todos os cantos. Essa paixão por esse jeito de ouvir música é, digamos assim, antiga. “Tinha cinco anos quando meu pai, que era dono de um bar, tocava os discos por lá. Era a época em que um disco tinha uma única música, uma caixinha com 100 agulhas e era reproduzido à base de uma manivela”, conta. Aos 19, ela se casou e como o marido gostava muito de Nelson Gonçalves, foram os discos do cantor que mais marcaram sua juventude.

Janete diz ouvir de tudo – até no formato MP3. “Mas o som do LP é mais puro, mesmo com o chiado”, explica. Saudosista, ela acha que a tecnologia estragou o momento ritualístico da música, porque tudo está mais rápido. “Prefiro voltar no tempo, ouvir um vinil, admirar uma capa”, suspira. Mas não se desliga totalmente da tecnologia. Tanto que seu estabelecimento – que oferece todos os estilos, do brega ao clássico – recebe até encomendas pela internet. Há lá, inclusive, uma lan house para os visitantes pesquisarem mais sobre o assunto. Ela faz o balanço: “A tecnologia é fundamental pela rapidez da informação. Mas o ruim é ficar sozinho de frente para o computador e esquecer de às vezes se reunir com os amigos para escutar aquela canção. Essa facilidade atrapalhou a parte romântica da coisa.”

(foto: Victoria Haus/Divulgação)
(foto: Victoria Haus/Divulgação)
RITIMO - instintos primitivos

Pode-se dizer que as batidas musicais vieram dos índios. O bater de pés e cajados no chão faz uma marcação sonora que inspira o corpo a seguir os movimentos que são dados pelo barulho. Exageradamente, claro, esses tons frequentes feitos eletronicamente podem explicar o efeito do trabalho dos DJs.

Quem na balada pode escapar de um mínimo balanço do corpo? Então, para manipular todos os equipamentos, esse profissional precisa de alguns pontos básicos. Primeiro, ter bom gosto e saber divertir o público e, depois, os apetrechos eletrônicos. Tem os decks de iPod e aplicativos para tablets e celulares. Os softwares usados, logicamente, ajudam. Basta procurar pelo Virtual DJ e pelo Traktor, por exemplo.

Felipe Mutti (foto), de 22 anos, trabalha em uma empresa de consultoria, mas também se diverte como DJ. Tudo começou quando trabalhava em um lounge bar e gravava CDs para o lugar. Um dia, um dos donos o convidou para tocar em uma festa. Logo foram mais duas festas e ele tomou gosto pelo trabalho. Hoje, toca em oito por mês, em média. Para isso, usa um computador interligado a uma caixa de som para treinar em casa e na balada utiliza aparelhos como o CDJ e o mixer. Todo o equipamento custa mais de R$ 5 mil.

Claro que não basta pagar por isso. Felipe  acredita que, para ser um bom DJ, é preciso estar ligado nas tecnologias, já que o mercado de eletrônicos cresce muito. “Estar antenado nas rádios e internet para ter um bom repertório e saber o que está bombando na pista é essencial”, explica. “A música eletrônica mexe com os instintos humanos. Vejo que as pessoas têm reações imediatas com a música: euforia, emoção e até romantismo – a depender do hit.”


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)