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Estado de Minas

Físicos avaliam possível erro em estudo com neutrinos

Centro europeu admite possibilidade de problemas técnicos terem adulterado resultados de pesquisas que mediram partículas subatômicas viajando a uma velocidade maior que a da luz


postado em 24/02/2012 09:49

Brasília – O grande anúncio científico de 2011 pode ter sido, na verdade, um fiasco constrangedor. Sem confirmar que estavam equivocados, físicos do projeto Ópera, do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), afirmaram que dois problemas técnicos relacionados ao sinal do GPS usado na pesquisa, incluindo um cabo frouxo, podem ter levado a uma medição errada da velocidade em que os neutrinos, partículas subatômicas que interagem pouco com a matéria, cruzaram os Montes Apeninos, entre o centro, na Suíça, e o laboratório Gran Sasso, na Itália. Há cinco meses, os pesquisadores causaram alvoroço ao anunciar resultados que contradiTeoria Geral da Relatividade, de Albert Einstein, o que, se confirmado, mudará praticamente tudo o que se sabe sobre o funcionamento do universo.


No fim de setembro, os especialistas, que fazem parte de um consórcio internacional de cientistas, anunciaram que neutrinos percorreram os 730 quilômetros entre o Cern e o laboratório subterrâneo na Itália com uma vantagem de 60 nanossegundos em relação à luz, chegando 6 quilômetros antes. A maioria dos especialistas não acreditou que a partícula tivesse superado esse limite. Dois meses depois, contudo, o resultado de uma réplica do teste apontou a mesma velocidade, trazendo mais debates acalorados.


Desde a publicação do primeiro artigo científico, os integrantes do Ópera jamais haviam admitido problemas técnicos interferindo na extraordinária rapidez dos neutrinos. “Fomos capazes de medir com precisão o tempo de percurso dos neutrinos”, disse Darío Autiero, cientista do Instituto de Física Nuclear de Lyon (França) e responsável de análises de medidas da equipe, depois do segundo teste. Porém, graças a uma nota que saiu na noite da última quarta-feira no site da revista americana Science, os físicos tiveram de afirmar, pela primeira vez, que o experimento pode não ter sido tão preciso assim.


Citando “fontes de dentro do Cern”, a Science relatou que um cabo óptico do GPS estava por trás das medições erradas. De acordo com a nota, um ajuste no cabo óptico, descrito como um simples “aperto dos feixes”, fez com que o neutrino viajasse em velocidade normal, sem colocar em xeque as leis da física moderna. Ontem, diante da repercussão na internet, o Cern elaborou um curto comunicado oficial. O texto não confirma o que diz a revista Science, mas admite a possibilidade de erros técnicos terem alterado a contagem do tempo e antecipa que novos testes serão feitos em maio, para confirmar os dois primeiros estudos.


“O consórcio Ópera informou suas agências fianciadoras e os laboratórios parceiros de que identificou dois possíveis efeitos que poderiam ter uma influência na medição do tempo dos neutrinos. Ambos necessitam ser mais investigados com um feixe de luz pulsada”, diz o Cern. “Se confirmado, (um dos efeitos) poderia aumentar o tamanho do efeito medido, e o outro poderia diminuí-lo. O primeiro efeito possível diz respeito ao oscilador que faz as sincronizações dos GPS. Isso pode ter levado a uma superestimação do tempo de voo dos neutrinos”, continua o texto.


Finalizando, a nota o centro afirma que “o segundo (efeito) refere-se ao conector de fibra óptica que traz o sinal externo do GPS para o relógio principal do Ópera, que pode não ter funcionado corretamente quando as medições foram realizadas. Nesse caso, teria subestimado o tempo de voo dos neutrinos.” Caso algum erro tenha sido mesmo cometido, provavelmente seria esse, pois a experiência do Ópera registrou um tempo menor na viagem das partículas.

Incerteza

Caren Hagner, integrante do projeto Ópera e pesquisador da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, disse ao site que, “por enquanto, os colaboradores decidiram não comentar o caso, porque precisamos checar novamente e discutir essas questões com mais profundidade”. Nenhum astrofísico que trabalha diretamente no projeto fez declarações sobre o comunicado de imprensa. O porta-voz do Cern, James Gilllies, deu uma rápida entrevista ao site inglês ZDNet, dizendo que, se realmente há problemas com o oscilador ou o cabo conector, não se pode afirmar que os equipamentos estavam defeituosos em setembro. “Não podemos voltar no tempo e ver se eles estavam avariados quando foram feitas as medições. Enquanto não repetirmos o experimento, não saberemos nada com certeza”, declarou.


A admissão que problemas técnicos podem estar por trás do que chegou a ser proclamado uma possível revolução na física de partículas ocorre em um momento particularmente constrangedor. Na semana passada, durante o congresso da Academia Americana de Ciência, o experimento do Cern teve grande destaque, seja nos painéis, nos debates ou nas conversas de corredor. Um dos cientistas do projeto, o italiano Sergio Bertolucci, chegou a brincar, dizendo que tinha dúvidas se realmente os neutrinos teriam atravessado os Montes Apeninos tão rapidamente. “Não sei não, porque nada chega na Itália antes do tempo.”

 


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