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Estado de Minas

Pesquisadores relacionam consumo de carne vermelha a riscos altos de surgimento do diabetes tipo 2

Presunto, bacon ou salsicha aumentam a possibilidade de aparecimento da doença


postado em 20/09/2011 06:00 / atualizado em 20/09/2011 11:42


Para quem é diabético, doces, biscoitos e refrigerantes são itens proibidos no carrinho do supermercado – pelo menos, os tradicionais. Não é só com o açúcar, entretanto, que essas pessoas precisam se preocupar. De acordo com um estudo feito pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, o alto consumo de carne vermelha – especialmente a processada, como bacon, salsicha, linguiça ou presunto – aumenta a probabilidade de também desenvolver diabetes tipo 2. Como era de se esperar, a pesquisa apontou que a diminuição ou a substituição desse tipo de alimento por opções mais saudáveis, com baixo teor de gordura, reduz significativamente esse risco. A versão on-line do trabalho foi divulgada no site da revista American Journal of Clinical Nutrition e sairá na edição impressa da publicação em outubro.

Depois de analisar os hábitos alimentares dos participantes, levando em consideração a idade, o índice de massa corporal (IMC) e o estilo de vida, os estudiosos chegaram à conclusão de que pessoas que costumam consumir uma porção diária de 100g de carne vermelha não processada têm 19% mais chances de ficarem diabéticas. A situação piora – e muito – para quem consome carnes processadas. Com apenas metade dessa porção – o equivalente a uma salsicha –, os riscos de os consumidores virarem portadores da doença sobem 51%. A melhor alternativa, segundo os pesquisadores, é reduzir ao máximo o consumo desses alimentos. Trocar a carne vermelha, embutidos e enlatados por nozes, grãos integrais, produtos com baixo teor de gordura, peixe ou feijão sempre que possível também ajuda a afastar o fantasma do diabetes.

An Pan, pesquisador do Departamento de Nutrição de Harvard e um dos autores do trabalho, explica que isso ocorre devido à grande quantidade de sódio e conservantes químicos presentes nesses alimentos, que acabam por danificar células do pâncreas envolvidas na produção de insulina. “A carne vermelha, em geral, tem altos níveis de um tipo de ferro chamado heme, que, quando consumido em quantidades elevadas, pode aumentar o estresse oxidativo e levar à inflamação crônica. Isso pode afetar a produção de insulina”, acrescenta.

Pan frisa ainda que outros estudos, feitos em 2010 na mesma Harvard, provaram que o consumo excessivo de carne vermelha também aumenta os riscos de doenças cardíacas, outro fator que pode desencadear o diabetes tipo 2. Além disso, exagerar na carne vermelha também pode fazer com que haja ganho de peso em excesso – um forte fator de risco para a doença. “Em nossa análise, descobrimos que os riscos relativos foram atenuados pela metade após o controle do IMC.” “Não dissemos na pesquisa que é preciso riscar totalmente a carne da dieta. Acredito que o consumo de, no máximo, três porções por semana de carne vermelha não processada é aceitável para a maioria das pessoas.”

Excessos

Jane Dullius, educadora física e coordenadora do programa de educação em diabetes Doce Desafio, da Universidade de Brasília (UnB), diz que, para quem já é diabético, o consumo de carne vermelha pode causar uma sobrecarga no organismo – que já precisa de um trabalho extra para manter-se saudável. “Embutidos não deveriam ser consumidos por niguém, diabéticos ou não”, defende. “A quantidade de sódio é muito grande, o que favorece hipertensão e também o diabetes”, resume. Jane, diabética e vegetariana há 30 anos, ensina que, para substituir a carne sem sofrer, basta fazer adaptações com valores nutricionais equivalentes ou parecidos. “A grande questão é de onde você pode tirar a proteína, encontrada em muitos outros alimentos, como no arroz e no feijão”, sugere. “Produtos industrializados trazem conforto em termos de acesso ao alimento, mas favorecem o ganho de peso e a intoxicação.”

Especialista em nutrição clínica, Guilherme Mendes diz que os efeitos da carne vermelha em diabéticos já são conhecidos. “O que é novo é essa relação, a porcentagem que os pesquisadores de Harvard encontraram”, comenta. Ele explica que a carne vermelha em excesso favorece o surgimento de fatores inflamatórios na corrente sanguínea — o que pode ocasionar doenças autoimunes, problemas gastrointestinais e câncer. “Esses fatores inflamatórios, associados à obesidade, desencadeiam resistência à insulina”, completa. “Com o tempo, em torno de 10 a 11 anos, os sintomas aparecem.” Para driblar a doença, o jeito, segundo Mendes, é mudar: trocar carne vermelha pela branca de vez em quando, ingerir frutas, legumes e hortaliças e, claro, praticar atividade física. “Quase 70% dos casos de doenças crônicas têm a ver com o estilo de vida e fatores ambientais”, diz.

Mudar alguns hábitos foi o caminho escolhido por Tânia Martins, de 61 anos. Mesmo antes de saber que era diabética, a pedagoga conta que trouxe o costume de comer verduras e legumes de casa. “Minha avó paterna tinha diabetes e morreu com a perna amputada. Por isso, lá em casa, minha mãe sempre incentivou que a gente comesse direito. Eu já sabia que tinha 50% de chance de ser diabética”, conta. Quando se casou, Tânia acostumou-se a ter sempre enlatados e alimentos embutidos na despensa – por conta do marido, ela garante. Depois que o companheiro faleceu, foi a hora de abolir de vez alimentos industrializados do cardápio. “Antes, eu fazia supermercado em uma hora, mas agora demoro três vezes mais, porque tenho que ler os rótulos e ver o que posso ou não comer.”

Hoje, Tânia pratica exercícios físicos cinco vezes por semana e evita ao máximo alimentos gordurosos. Além de controlar o diabetes e a hipertensão, ela conta que o novo estilo de vida só tem vantagens. “Não sinto mais cansaço, mal-estar. Antes, estava sempre ofegante”, compara. Ainda que não seja sua preocupação principal, ela garante que o ganho estético também compensa o esforço de trocar grandes quantidades de carne por grãos, salada e frutas. “Perdi mais ou menos 12kg depois que comecei a fazer a dieta, há três anos”, gaba-se.


(foto: Arte D.A Press)
(foto: Arte D.A Press)

 

Doença silenciosa

De acordo com dados da Federação Internacional de Diabetes (IDF), entidade vinculada à Organização Mundial de Saúde (OMS), o diabetes atinge cerca de 300 milhões de pessoas no mundo. E as expectativas não são das melhores: em 2030, a previsão é que esse número salte para 438 milhões. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, mais de 90% dos casos de diabetes correspondem ao tipo 2. Ao todo, 7,6 milhões de brasileiros estão com a doença — o equivalente a 5,8% da população com mais de 18 anos. A estimativa, contudo, pode estar fora da realidade. Para associações de portadores, por causa de pessoas que convivem com a doença sem saber, o número real está na casa dos 12 milhões de diabéticos.
Sintomas

 

Muitas vezes, os sinais do diabetes não são facilmente percebidos. Veja alguns indícios da doença:


Diabetes tipo 1

Ocorre quando o organismo produz pouca ou nenhuma insulina. Por ser uma doença autoimune, o corpo interpreta as células beta produtoras de insulina como corpos estranhos – e as destrói.

Os principais sinais

 Vontade de urinar diversas vezes
 Fome frequente
 Sede constante
 Perda de peso
 Fraqueza
 Fadiga
 Nervosismo
 Mudanças de humor
 Náusea
 Vômito

Diabetes tipo 2

Relacionado fortemente ao sedentarismo e à obesidade, esse tipo de diabetes acontece quando há uma contínua produção de insulina pelo pâncreas. As células, porém, não absorvem a glicose da corrente sanguínea.

Os principais sinais

 Infecções frequentes
 Alteração visual (visão embaçada)
 Dificuldade na cicatrização de feridas
 Formigamento nos pés
 Furunculose

 


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