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Estado de Minas

Produção do vinho biodinâmico é focada na saúde do consumidor

Produção do vinho biodinâmico leva em conta os ciclos da natureza para garantir uma bebida não só livre de agrotóxicos, mas que está entre as melhores do mundo


postado em 11/09/2011 09:37 / atualizado em 11/09/2011 09:40

Astrólogo e chef de cozinha, Renato Quintino explica que a biodinâmica não se preocupa só com o vinhedo, mas com toda a fazenda e com tudo o que ela contém como sendo um único organismo vivo(foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)
Astrólogo e chef de cozinha, Renato Quintino explica que a biodinâmica não se preocupa só com o vinhedo, mas com toda a fazenda e com tudo o que ela contém como sendo um único organismo vivo (foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)

Vinho faz bem à saúde? Sim, ninguém mais contesta que os polifenóis contidos nas uvas são substâncias antioxidantes para o organismo, além do resveratrol. Mas é bom saber que, muito além das uvas fermentadas, alguns vinhos estão repletos de conservantes e agrotóxicos como qualquer outro alimento cultivado pela agricultura moderna. Ninguém imagina que enquanto se bebe uma taça de vinho uma boa dose de veneno também é sorvida.

Se os produtos orgânicos ganham, a cada dia, mais destaque na mesa dos brasileiros, o mundo do vinho mostra que não ficou para trás: “Questões ecológicas e éticas também entraram para a arena do vinho e, no futuro, vão influenciar na hora da compra”, confirma Renato Quintino, que dá cursos de vinho, gastronomia e é também estudioso da astrologia.

Mais do que os vinhos orgânicos que já se encontram no mercado, os biodinâmicos estão entre os considerados melhores do mundo. “O cultivo biodinâmico vai além do orgânico. Inspirado nas ideias do filósofo alemão Rudolf Steiner, criador da antroposofia, é um modo de pensar e de viver, que leva em conta os ciclos da natureza, como as fases da lua, o movimento dos planetas, usando conceitos de astronomia e astrologia”, explica.

Não é à toa que o estudioso em astrologia se aproximou tanto dos vinhos biodinâmicos. E não pensem que é cultivo alternativo, de alguns malucos que se reuniram para propor um vinho diferente. Segundo Renato Quintino, “esses vinhos são oficiais e considerados os melhores do mundo, reconhecidos por críticos e revistas especializadas. O L’Hermitage, do Vale do Rhône, na França, por exemplo, é um dos destaques. O produtor francês M. Chapoutier passou 10 anos limpando a terra dos pesticidas para começar a plantar. Antes de fazer seu vinho na célebre colina do Hermitage, ele expulsou qualquer resquício de agrotóxicos e, quando o lançou no mercado, bateu recordes de venda”.

Chapoutier respeita os ciclos da natureza desde a hora do plantio, colheita e engarrafamento. Algumas propriedades inclusive estão trocando os tratores por cavalos para não machucarem a terra, porque para fazer um vinho 100% syrah, com sabor condimentado de especiarias e frutas vermelhas, é preciso pensar que a terra está sofrendo e que um bom vinho tem que ser servido com a gratidão e a sintonia dos vinicultores, que respeitam a generosidade da natureza.

Segundo Quintino, um dos críticos de vinho mais respeitados do mundo, o americano Robert Parker coloca Chapoutier como um dos grandes produtores. Na Região da Borgonha, também na França, os vinhos orgânicos e biodinâmicos estão em alta. No rastro de Dominique Lafon, novos produtores chamam a atenção do mundo. Eles tiveram a coragem de fazer mudanças no pinot noir francês e abriram suas portas para um novo mundo.

O livro de vinhos da Larousse, de autoria de Matt Skinner, diz: “Se um dia você precisar conferir o conceito de biodinâmico, saiba que a lista de produtores em atividade é como uma lista de chamada dos melhores nomes do mundo do vinho. Produtores que, apesar de todas as diferenças, concordam de forma unânime que a agricultura biodinâmica não só melhora a saúde, a resistência a doenças e longevidade dos seus vinhedos, como também aumenta os níveis de açúcar das frutas sem perder a valiosa acidez”.

Em vez de simplesmente se dedicar a extrair o melhor dos vinhos, a biodinâmica não se preocupa só com o vinhedo, mas com toda a fazenda e com tudo o que ela contém como sendo um único organismo vivo. Uma entidade autossustentável que, quando cultivada com a aplicação de várias preparações ou esterco, opera alinhada aos ritmos lunares e cósmicos. O que não é novidade, pois ao longo do tempo muitos povos cultivaram suas plantações e coletaram seus produtos segundo o ciclo lunar.

Um amigo viticultor brasileiro, certa vez, fez uma comparação interessante sobre os vinhos elaborados pelos métodos tradicionais e os que respeitam os princípios do biodinamismo. “Experimente comprar um pote de iogurte industrial no supermercado e fazer um em casa. Qual deles é o mais saboroso, característico e mais autêntico, embora mais difícil de preparar? Com os vinhos biodinâmicos ocorre o mesmo. Uma planta equilibrada e saudável vai gerar frutas igualmente saudáveis, que, por sua vez, darão origem a bons vinhos. E, quando degustado, esse vinho vai transmitir o que leva consigo: saúde, energia e equilíbrio.”

POSTURA ÉTICA

Conversar sobre vinhos com Renato Quintino é uma oportunidade de repensar os novos rumos do planeta. Em seu espaço culinário, no Bairro Santo Antônio, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, ele ensina a cozinhar, a conhecer os vinhos biodinâmicos e a fazer viagens pelas viniculturas europeias. Ele leva grupos de alunos para as terras do vinho e dá lições sobre o comércio justo e solidário e os vinhos de carbono neutro. “Além das credenciais de vinho ecologicamente correto, há outras questões éticas fundamentais. O comércio justo e solidário é uma delas.”

Citando o livro do vinho da Larousse, Quintino conta: “No momento, a indústria do vinho está aderindo a qualquer maneira de economizar energia e reduzir o tamanho do rastro de carbono. No nível do solo, houve um aumento no número de vinícolas eficientes energeticamente, muitas delas incluem fábricas que tratam a água usada. Há planos, inclusive, de envasilhar os vinhos mais perto do local de venda, para reduzir a quantidade de energia usada durante o transporte”.

Além da degustação e da harmonização de pratos com os vinhos, Quintino ensina que “outra iniciativa para melhorar o caminho da sustentabilidade do vinho é usar o vidro mais leve e também as garrafas de plástico PET, que, juntos, podem reduzir a emissão de carbono em quase 35%. Muitos produtores, inclusive, já reciclam 80% de suas embalagens”.

No Espaço de Culinária Renato Quintino, toda a madeira usada na construção é de demolição, com detalhes arquitetônicos também ecologicamente corretos que sinalizam para um mundo melhor, com comida e vinho mais saudáveis.

A má notícia é que os vinhos biodinâmicos são caros. Em Belo Horizonte, há uma única importadora responsável pelo comércio desses vinhos. O preço médio de uma garrafa é R$ 200, mas um vinho de Chapoutie, por exemplo, pode custar mais de R$ 3 mil.

Serviço
Cursos de vinho e gastronomia
Todos os dias, das 11h às 13h30 e das 16h às 18h30, e à noite, das 19h às 22h30
Informações: www.renatoquintino.com.br


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