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Estado de Minas

Paralisia e mudança na vacina contra pólio reacendem polêmica sobre imunização

Alteração na administração da vacina contra a pólio, de gotas para injeção, e caso de criança que desenvolveu doença mesmo sendo protegida trazem à tona polêmicas em torno do processo de imunização no Brasil


09/09/2011 06:00 - atualizado 09/09/2011 13:32

Mascote contra a paralisia infantil, Zé Gotinha deve sair de cena em 2012. Brasil segue tendência mundial de troca da forma de vacinar a população. Meta é erradicar doença com segurança
Mascote contra a paralisia infantil, Zé Gotinha deve sair de cena em 2012. Brasil segue tendência mundial de troca da forma de vacinar a população. Meta é erradicar doença com segurança (foto: Juliana Flister/Esp. EM/D.A Press %u2013 14/08/10 )


A suspeita de que um menino de 1 ano e 4 meses tenha desenvolvido paralisia pós-vacinal em Pouso Alegre, no Sul de Minas, e a mudança da vacina Sabin oral para a injetável, anunciada pelo Ministério da Saúde, reacendem a polêmica em torno da vacinação. O Zé Gotinha, que virou símbolo das campanhas contra a poliomielite no Brasil, está com os dias contados. Para o próximo ano, haverá a combinação da pólio oral com imunizante injetável e a tendência é a total substituição das gotas. O adeus ao Zé Gotinha serve de alerta para quem está com o calendário de imunização atrasado, até mesmos adultos que pensam que tomar vacina é coisa de criança. Embora a imunização esteja relacionada à infância, em diferentes épocas da vida as pessoas precisam se proteger, mas muita gente sequer tem o cartão para saber quais reforços deve tomar.

Além disso, a proteção vem acompanhada de mitos disseminados na sociedade, como o de que as doses encontradas nas redes particular e pública são diferentes, uma é mais potente ou melhor que a outra, e ainda casos de pais que optam por não vacinar a prole. “A redução na mortalidade infantil passa pela vacinação”, lembra o diretor da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP) e integrante do Comitê de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria, Leonardo Mourão. Com 38 anos de existência, o Plano Nacional de Imunização (PNI) oferece 12 vacinas para a população – da infância à terceira idade. Para este ano, o Ministério da Saúde gastará R$ 1,6 bilhão no programa. Por muito tempo, as pessoas recorreram à rede privada para ter acesso às vacinas contra a meningite a meningocócica C, a pneumocócica 10 e a hepatite B. “O PNI é um dos melhores do mundo”, reforça Mourão. Desde 2009, as vacinas pneumocócica 10 e meningocócica C (conjugada) foram adotadas na rede pública, aproximando-se cada vez mais dos serviços prestados pela rede privada. Até o ano que vem, a dose da tetravalente (que protege contra difteria, tétano, coqueluche e hemófilos) será acrescida da vacina contra a hepatite B. A combinação já foi desenvolvida e aguarda apenas a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

As vacinas BCG (contra tuberculose), hepatite B, tríplice viral (para evitar caxumba, sarampo e rubéola) e meningite meningocócica adotadas pela rede pública e privada são absolutamente iguais, segundo Mourão. A tetravalente da rede particular causa reações mais brandas do que a ofertada na rede pública, mas ambas têm a mesma capacidade de proteção. Isso pode ocorrer porque os antígenos das vacinas são diferentes. Tanto a rede pública quanto a privada só disponibilizam vacinas de laboratórios idôneos, particulares ou públicos, a exemplo dos localizados na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e na mineira Fundação Ezequiel Dias (Funed), que precisam preencher uma extensa lista de critérios exigidos pela Anvisa.

Segundo o infectologista José Geraldo Ribeiro Leite, professor na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), a inclusão da vacina injetável da poliomielite está sendo feita para não haver aumento no número de injeções que a criança recebe. A medida foi determinada pelo comitê técnico assessor do Ministério da Saúde, órgão composto por representantes das sociedades brasileiras de Pediatria, Imunizações e Infectologia, Associação Brasileira de Saúde Coletiva, entre outros especialistas. Outra razão para a mudança é reduzir a quantidade de vírus circulando no mundo. A vacina injetável já foi adotada pelos Estados Unidos e Canadá e, até o ano que vem, será pelo Brasil.

Futuramente, ainda sem prazo determinado, a tendência é de que haja uma vacina hexa, disponível pelo SUS, para evitar difteria, tétano, coqueluche, hemófilos, hepatite B e poliomielite. A Sociedade Brasileira de Imunizações e a Sociedade Brasileira de Pediatria criaram calendários ideais de vacinação, com a indicação de todas as vacinas disponíveis, mas que nem sempre foram adotadas no PNI, não só devido aos custos, mas também por critérios de prioridade epidemiológicos.

Homeopatia

Entre as práticas adotadas pela população na hora de imunizar o filho ou a si mesmo, está a de optar por caminhos alternativos. A comunicóloga Cristina (nome fictício) escolheu não vacinar o filho de 4 anos contra a poliomielite. Adepta de práticas naturais, ela vacinou a criança até os seis meses e não deixava aplicar mais de uma dose no mesmo dia. Além disso, aguardava 40 dias entre uma vacina e outra. “Ele teve reações muito fortes, por isso busquei outros caminhos.” Desde então, Cristina passou a fortalecer o sistema imunológico do pequeno com medicamentos homeopáticos.

A decisão, ela mantém em sigilo, pois diz ter sofrido sanções por divulgar publicamente que não imunizava a criança. “A vacinação é compulsória”, diz ela. Juntamente com a homeopatia, a comunicóloga acredita que o fato de ter amamentado o garoto até os 3 anos e, depois dessa idade, ter dado alimentação à base de produtos sem agrotóxicos e suporte emocional, tenham sido suficientes para construir as defesas naturais da criança. “É uma decisão muito difícil de ser tomada”, admite, mas lembra que, até o momento, o filho não teve nenhuma das doenças da infância, nem se contaminou quando houve surto de catapora na escola que frequentava.

Apesar de muitos pais não adotarem o calendário de vacinação na vida do filho, o infectologista José Geraldo Ribeiro defende a segurança dos medicamentos. “Se muitos pais tomarem a decisão de não vacinar os filhos, as doenças reaparecerão. Isso está ocorrendo, no momento, em muitos países da Europa. A Associação Brasileira de Homeopatia recomenda que as crianças sejam vacinadas, de acordo com as orientações do PNI”, afirma.

Eficácia

Ele reforça ainda que o medo em relação à vacina oral contra a poliomielite não faz jus aos serviços prestados por ela à saúde pública no Brasil. “A poli oral é segura e eficaz”, diz, acrescentando que embora não haja laudo conclusivo sobre o que levou o bebê de 1 ano e 4 meses de Pouso Alegre a desenvolver a paralisia mesmo tendo sido vacinado, não é provável que tenha sido reação à dose oral.

“Se a doença tivesse surgido depois da primeira dose, a associação poderia ser feita, mas como eram doses de reforço, a possibilidade de a paralisia ter sido causada pela vacina é remota”, acredita. Só para dar um exemplo, ele diz que foi graças à vacinação em massa que os casos de poliomielite praticamente deixaram de ocorrer no país. “Não podemos falar de erradicação da doença, pois só poderíamos dizer isso se o poliovírus não circulasse mais no mundo”, acrescenta o infectologista. A doença ainda é uma preocupação em alguns países da África, Índia, no Paquistão e no Afeganistão, o que coloca em estado constante de alerta os locais onde a pólio está controlada.

 VACINAÇÃO INFANTIL
Até 10 anos de idade
Hepatite B    três doses (ao nascer, um mês e 6 meses)

Tetravalente      três doses (2, 4 e 6 meses)
(Difteria, têtano,coqueluche, meningite e hemófilos)

Oral poliomielite        três doses+reforço (2, 4, 6 e 15 meses)
(que será substituída por injetável)

Oral Rotavírus      duas doses (2 e 4 meses)

Meningocócica C (conjugada)       duas doses (3 e 5 meses)

Pneumocócica 10 (conjugada)       três doses+reforço  (2,4,6 meses, reforço)

Febre amarela       dose inicial aos 9 meses + reforço a cada 10 anos

Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)      duas doses (1 e  4 anos)

Tríplice bacteriana (difteria, têtano e coqueluche)      (1 ano e 3 meses e 4 anos)

VACINAÇÃO ADOLESCENTE
De 11 a 19 anos
Hepatite B     3 doses
Dupla tipo adulto     1 dose a cada 10 anos
(Difteria e tétano)
Febre amarela      1 dose a cada 10 anos
Tríplice viral      2 doses
(caxumba, sarampo, rubéola)


VACINAÇÃO ADULTO
20 a 59 anos
Dupla      1 dose a cada 10 anos
(difteria e tétano)
Tríplice viral      dose única
(sarampo, rubéola e caxumba)
Febre amarela      1 dose a cada 10 anos
Hepatite B*     3 doses
Hepatite A**   
HPV** (de 9 a 26 anos)
 *disponível na rede pública para
pessoas com até 24 anos
** Não está disponível na rede pública
 
MAIS DE 60 ANOS
 
Influenza sazonal     uma vez ao ano
Febre amarela     uma dose a cada 10 anos
Pneumocócica 23-valente     dose única
Dupla tipo adulto      1 dose a  cada 10 anos
(difteria e tétano)

Os calendários para cada faixa etária, bem como o número de doses e reforço, podem ser encontrados no endereço: https://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1448

Fonte: Programa Nacional de Imunizações/Ministério da Saúde


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