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Estado de Minas

Pesquisa identifica os ingredientes da felicidade

Estudo feito em 123 países diz que em primeiro lugar, está a satisfação de necessidades básicas, como alimentação e moradia. Convívio social e segurança são outros fatores considerados fundamentais para o bem-estar


postado em 03/08/2011 08:24 / atualizado em 03/08/2011 08:56

(foto: Arte D.A Press)
(foto: Arte D.A Press)
 

Dorothy e Totó, Amélie Poulain, dr. House e todo o resto da humanidade, incluindo personagens fictícios e gente de carne e osso, têm em comum a busca obstinada pela felicidade. Seja atrás do arco-íris, nas ruas de Paris ou no hábito reprovável de infernizar a vida alheia, estão sempre procurando os ingredientes de um produto subjetivo e impossível de se achar nas prateleiras. Os psicólogos também se interessam pela fórmula e há décadas investigam a combinação certa dos elementos. Nos anos 1940, o cientista americano Abraham Maslow propôs uma pirâmide de necessidades que, pela ordem hierárquica, significariam o bem-estar da população em geral. Agora, a Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, resolveu checar se ele estava certo. E saiu pelo mundo atrás da receita.

Em parceria com o instituto de pesquisas Gallup, os psicólogos elaboraram perguntas sobre o preenchimento das necessidades básicas humanas, os fatores que desencadeiam sentimentos positivos, como o riso, e aqueles cuja falta levam a sentimentos negativos, como o desrespeito. Quase 61 mil pessoas de 123 países, incluindo o Brasil, responderam às questões. De acordo com os pesquisadores, a amostra representa 95% da população do planeta, pois investigou indivíduos de todos os continentes, moradores de áreas urbanas e rurais. Com poucas variações culturais, os psicólogos descobriram que é possível identificar os ingredientes universais da felicidade.

Além da pirâmide de Maslow, Louis Tay e Ed Diener basearam-se em teorias de outros cientistas sociais e construíram uma metodologia própria. Eles pesquisaram a importância do preenchimento de necessidades básicas, como alimentação e moradia, e de fatores subjetivos do bem-estar, como estima e respeito, sob três pontos de vista. Primeiro, pediram que os participantes do estudo escolhessem, pela ordem hierárquica, quais elementos mais pesavam na hora de avaliar suas vidas. Depois, perguntaram a importância de cada um deles na geração de sentimentos positivos ou negativos.
“Procuramos examinar a associação de seis elementos sob cada uma dessas três perspectivas, com o objetivo de responder a várias questões”, diz Louis Tay (leia entrevista). Os cientistas queriam saber, entre outras coisas, se o bem-estar geral estava associado ao preenchimento de todas as necessidades básicas e quais os fatores considerados mais importantes pela população.

Quando questionados sobre os principais ingredientes da felicidade na avaliação geral de suas vidas, os participantes do estudo elegeram a seguinte ordem: necessidades básicas, relacionamentos sociais, domínio (fazer alguma coisa melhor do que outros), autonomia, respeito e segurança. Mesmo em penúltimo lugar, o respeito é um fator importante. Perguntados sobre quais desses elementos haviam despertado sentimentos positivos, como riso, ou negativos, como tristeza, nos últimos dias, os respondentes apontaram o respeito – ou a falta dele – nos dois casos.

Alegria brasileira

Segundo Tay, entre 123 países, o Brasil ficou no 32º lugar no ranking, considerando a importância atribuída aos seis elementos avaliados. A nação se saiu bem quanto à satisfação dos sentimentos positivos: 14º. Já a falta de estima, segurança, respeito, relacionamentos e domínio não parece afetar tanto os brasileiros, pois o país alcançou a 89ª posição quando os participantes tiveram de apontar o quanto essas questões interferiam em suas vidas de forma negativa. Para 70% da população nacional, as necessidades básicas são preenchidas, o que deixou o país em 59º lugar nesse quesito. Mas os brasileiros estão se sentindo inseguros. “Trinta e cinco por cento disseram que estão satisfeitos quanto à segurança, colocando o Brasil na 109ª posição”, conta o psicólogo de Illinois.

De acordo com o cientista social Ed Diener, que também participou do estudo, na avaliação universal, quanto maior a satisfação dos elementos da base da pirâmide, considerados os mais importantes, mais o indivíduo é feliz. Além disso, o preenchimento do maior número possível de variáveis associadas às necessidades básicas – dinheiro, comida e moradia por exemplo – está relacionado a um nível maior de sentimentos positivos. Mas ele alerta que ter algo em demasia não significa ser feliz.


Mesmo que alguém tenha um salário milionário ou seja bastante respeitado, se os outros ingredientes estiverem fora da receita o bolo vai desmoronar. “Como vitaminas, cada um dos elementos é necessário de forma independente. Ter uma quantidade excessiva de determinada vitamina não tira a necessidade de o organismo ser suprido por outras. Todos os elementos devem contribuir para o bem-estar. Só porque alguém tem acesso a muita comida e segurança, isso não supre a importância do convívio social”, esclarece, lembrando que Maslow já fazia essa comparação entre as vitaminas e os fatores importantes para a felicidade.

AUTONOMIA
Os psicólogos Ronald Fischer e Diana Boer, da Universidade de Wellington, na Nova Zelândia, acreditam que a autonomia é um dos ingrediente mais expressivos na receita de uma sociedade feliz. Em uma análise dos dados de 420.599 pessoas provenientes de 63 países, eles investigaram se o dinheiro era mais importante que a liberdade individual para o bem-estar geral. A resposta é não.

“O dinheiro pode levar à autonomia, mas não acrescenta bem-estar ou felicidade a ninguém. Nos concentramos em três estudos, com números de quatro bancos de dados, e descobrimos que os valores sociais é que predizem o bem-estar”, diz Boer. “Fornecer mais liberdade às pessoas parece ser uma importante questão na redução de sintomas psicológicos como ansiedade e depressão, e isso está intimamente ligado ao conceito de felicidade”, acredita a cientista.

 

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Confira a entrevista com Louis Tay,  psicólogo da Universidade de Illinois, EUA

O bem de todos contagia

A pirâmide de Abraham Maslow, afinal, estava correta?
Descobrimos que o preenchimento de necessidades é universalmente relacionado ao bem-estar da população. Isso, de forma geral, está em conformidade com a hierarquia proposta por Maslow. Porém, uma diferença importante é que necessidades distintas correspondem a diferentes formas de bem-estar.

O senhor poderia dar um exemplo?
As necessidades básicas estão fortemente associadas à avaliação que a pessoa faz da vida em geral, enquanto as necessidades sociais estão mais associadas às emoções positivas. Outra coisa interessante é que o preenchimento de cada necessidade contribui, independentemente, para o bem-estar. Também descobrimos que quando as necessidades da sociedade como um todo são preenchidas, isso contribui para a felicidade individual acima de qualquer fator básico, especialmente quando consideramos a avaliação que a pessoa faz da própria vida. Uma ilustração disso seria uma pessoa rica que pode ter suas necessidades básicas atendidas, mas que fica ainda mais feliz quando sabe que a maioria dos indivíduos da sociedade onde se encontra estão na mesma situação. Outra questão chave em nosso estudo é que o nível de qualidade de um país contribui significativamente quando seus indivíduos sentem que todos têm suas necessidades básicas e de segurança preenchidas. Isso indica que quando um país faz algo para o bem de todos os cidadãos por exemplo investindo em infraestrutura e eliminando a pobreza, isso aumenta o bem-estar de todas as pessoas.

A segurança e as necessidades básicas, como abrigo e alimentação, dependem muito de fatores nacionais. Então, os governos precisam implementar políticas que atendam essas necessidades dos cidadãos. Em particular, mesmo quando um país atinge um alto PIB (produto interno bruto) per capita, a distribuição da renda costuma ser muito desigual. A corrupção também pode criar problemas para cidadãos comuns terem acesso a comida, água e moradia. Isso tudo vale para a avaliação geral que as pessoas fazem de suas vidas. Quanto à experiência baseada em emoções positivas e negativas, a maioria depende de circunstâncias pessoais, e não de ações nacionais. Por isso, acredito que as pessoas precisam perseguir suas necessidades individuais para ser mais bem-humoradas e menos carregadas de sentimentos negativos. 

 


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