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Estado de Minas

Novos testes lançam luz contra o avanço do Alzheimer

Grupo da USP propõe bateria de exames sofisticados e mudança de hábitos para barrar avanço do Alzheimer. Análises de imagens cerebrais ajudam a identificar falhas nas funções cognitivas


postado em 13/07/2011 06:00 / atualizado em 13/07/2011 09:24

Entenda as mudanças sugeridas por pesquisadores para melhor a detecção do alzheimer
Entenda as mudanças sugeridas por pesquisadores para melhor a detecção do alzheimer
A sabedoria popular diz que prevenir é sempre melhor do que remediar. Mas como se lembrar disso diante de um mal que avança silenciosamente? É assim com o Alzheimer, doença que só é percebida quando os danos cerebrais já são irreversíveis. Responsável pela perda de funções cognitivas, o mal é ainda um mistério para a medicina. Sem saber explicar o que desencadeia a patologia, os médicos e cientistas tentam, agora, evitar que ela se desenvolva. No Laboratório de Neurociências da Universidade de São Paulo (USP), a sugestão é antecipar a realização dos exames clínicos, que hoje são feitos somente depois de um quadro psicológico claro da doença (veja arte). A ideia é que, com o diagnóstico precoce, os efeitos possam ser retardados de forma mais eficiente.

Para detectar qualquer mal, os médicos seguem protocolos internacionais, definidos após a realização de muitos estudos. No caso do Alzheimer, o principal teste é neuropsicológico, que avalia como estão a percepção, a memória e a fala do paciente. “O problema é que o comprometimento dessas funções só é percebido quando a doença já está muito avançada e não há mais como se fazer um tratamento efetivo”, afirma o psiquiatra Breno Satler, da USP. Satler e os colegas do Instituto de Psiquiatria da universidade são autores de um artigo que aponta a análise dos biomarcadores do Alzheimer como necessária a partir das primeiras queixas de falta de memória.

Os biomarcadores são como a assinatura das doenças: alterações nos órgãos, no metabolismo e nas enzimas que indicam alguma falha no funcionamento do organismo. São eles que provocam as perdas cognitivas no Alzheimer. Para percebê-los, os médicos solicitam exames de neuroimagem e de análise do liquor, o líquido que banha o cérebro e a medula espinhal. “Com uma ressonância magnética, é possível verificar o tamanho do cérebro. Se ele estiver menor do que o normal, provavelmente é um indício do Alzheimer”, detalha Satler. Outro exame de imagem é o PET SCAN, que verifica como está o metabolismo na região do crânio.

Depois desses dois testes, os médicos pedem a análise do liquor. Com uma amostra desse material, é possível verificar se as proteínas presentes no cérebro estão funcionando da maneira correta. A coleta é feita por meio de punção lombar, mais ou menos como ocorre em um exame de sangue, mas na região das costas. No laboratório, os técnicos verificam, basicamente, a situação de duas substâncias, as proteínas tau e a beta-amiloide. “Nossa proposta é pedir esses exames clínicos com antecedência, mesmo que a pessoa tenha somente queixas leves de perda de memória”, diz o psiquiatra da USP. “Hoje, como não há o diagnóstico precoce estabelecido, corremos o risco de ver o paciente com um comprometimento grave antes de começar qualquer intervenção”, lamenta o especialista.

Foi o que ocorreu com Iva Evangelista, de 73 anos, irmã da artesã Lúcia Amâncio da Costa, de 56. “Há cerca de seis anos, ela começou a se esquecer coisas do dia a dia. Mas foi tudo muito lento, é algo que acontece com todo mundo de vez em quando, não dava para perceber”, conta Lúcia. O estopim veio quando a mãe delas morreu. “Depois disso, minha irmã ficou ainda mais esquecida. Fomos ao médico e ele disse que ela tinha Alzheimer e demência”, lembra a artesã.

A ideia dos pesquisadores do Laboratório de Neurociências da USP é dar mais atenção aos primeiros esquecimentos dos pacientes, tal como ocorreu com Iva Evangelista. “É normal que uma pessoa superativa esqueça um item do supermercado, por exemplo. Mas se esse tipo de situação fica frequente, se a pessoa começa a ter que anotar tudo na agenda, é melhor procurar um médico”, aconselha Breno Satler. Esses sintomas, no entanto, não devem ser confundidos com a falta de atenção, comum em jovens e que também provoca os lapsos de memória.

Intervenções
Breno afirma que a doença pode ser controlada se for descoberta em estágios iniciais (foto: Arquivo Pessoal )
Breno afirma que a doença pode ser controlada se for descoberta em estágios iniciais (foto: Arquivo Pessoal )
Caso o Alzheimer seja confirmado, o médico pode instituir mudanças de comportamento e estilo de vida que retardam a evolução da doença. A tarefa do paciente será, basicamente, exercitar o cérebro para evitar que ele se atrofie. Leitura, idas ao cinema, ao teatro, aprendizado de um novo idioma, fazer palavras cruzadas, tudo que exija atividade cerebral pode fortalecer a região. Além disso, o profissional vai monitorar condições de saúde que aumentam as alterações degenerativas. Hipertensão e diabetes, por exemplo, são fatores de risco para essas pessoas.

A atividade em um grupo de Alzheimer ajudou Francisco de Almeida, de 74 anos, a conviver com a doença. O diagnóstico veio aos 65, ainda no primeiro estágio da enfermidade. Durante cerca de um ano, Francisco participou de reuniões com outros portadores do Alzheimer e seus cuidadores, praticando a biodança, uma espécie de terapia que estimula o contato social e corporal dos pacientes por meio de música e movimentos. Como o hábito veio tardiamente, a doença de Almeida acabou evoluindo muito nos últimos meses. “Hoje, ele está com dificuldade de locomoção, já não fala quase nada, tem problemas para engolir os alimentos”, conta a filha, a aposentada Ana Cleide de Almeida, de 42.

O tratamento do Alzheimer em estágios avançados é outro desafio dos médicos e cientistas. Atualmente, entre 24 milhões e 37 milhões de pessoas vivem com o mal e estimativas da associação Alzheimer's Disease International mostram que esse número pode chegar a 115 milhões em 2050. Em um congresso no fim de junho, a presidente da entidade, Daisy Acosta, disse que a doença “é a mais grave crise sanitária e social do século 21.”

De qualquer forma, a antecipação do diagnóstico já seria uma forma de começar a resolver o problema. “O estudo do pessoal da USP é promissor. Ainda precisamos pesquisar novas formas de tratamento que andem aliadas ao diagnóstico precoce. Mas isso tudo ocorre passo a passo, com um estudo de cada vez”, diz Sílvia Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

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