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Estado de Minas

Estrogênio é muito melhor do que se pensava para as mulheres na menopausa

Pesquisa desenvolvida na UFMG demonstra os efeitos vasodilatadores do estrogênio na artéria central da retina em mulheres na menopausa


postado em 10/07/2011 13:24 / atualizado em 10/07/2011 13:34

A pele muda, chegam as ondas de calor e suor incontroláveis, surtos de mau humor e dificuldade para dormir. Fase única na vida de uma mulher que cruza a linha dos 40 anos, a menopausa, vivência marcada pela diferença e individualidade de sintomas e consequências, é, muitas vezes, domada por médicos com hormônios, que aliviam a maioria desses efeitos. Mas uma nova descoberta revela que o estrogênio, principal hormônio feminino e um dos mais indicados às mulheres durante o fim da menstruação, vai muito além do que amenizar esses males da menopausa: é um excelente dilatador de artéria e faz bem à vascularização cerebral feminina. Em outras palavras, ajuda a melhorar o fluxo de sangue no cérebro.

Foi o que apontou a pesquisa de doutorado da ginecologista e obstetra Alice Melgaço, que contou com a colaboração de Marco Aurélio Martins e orientação do professor Selmo Geber, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Defendida em 2005, a tese, feita dentro do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Mulher da Faculdade de Medicina da UFMG, demostra, de forma inédita, os efeitos vasodilatadores do estrogênio na artéria central da retina em mulheres na menopausa.

O grande reconhecimento do trabalho virá em setembro, quando será publicado na revista norte-americana Menopause, uma das mais importantes revistas científicas de ginecologia do mundo e mais respeitada em climatério e menopausa.

É sabido que quando a mulher para de produzir hormônios, uma série de desconfortos a acomete, como as ondas de calor, problemas nas unhas, pele e memória. "A medicina, então, quer repor esses hormônios. O mais importante deles é o estrogênio, produzido pela mulher desde a adolescência, que sem ser induzido pelo organismo é reposto com comprimidos", conta o especialista. De acordo com ele, a intenção da pesquisa foi avaliar se o estrogênio fazia bem para a vascularização cerebral.

O primeiro passo para chegar à conclusão foi a aplicação do aparelho de ultrassom acoplado com sistema doppler – equipamento que mede a velocidade do fluxo sanguíneo dentro dos vasos –, nos olhos de 55 mulheres na menopausa. "Escolhemos, por ser mais fácil de ser monitorada, a artéria central da retina, que fica atrás dos olhos, uma das principais do órgão e que representa todas as outras. O que ocorre com ela, ocorre com todas do cérebro", explica Selmo, dizendo que uma veia mais resistente estaria mais fechada, enquanto aquela com menos resistência, mais aberta. "A abertura implica no fluxo de sangue e, quando a mulher está na menopausa, esse vaso não dilata tanto", diz.

Depois de conhecidas as artérias centrais de retina das 55 mulheres da pesquisa, que já não produziam mais o estrogênio, elas foram divididas em grupos. Vinte e oito delas receberam o comprimido de estrogênio para ser tomado durante um mês, enquanto 27 delas usaram placebo – remédio que não tinha nada, uma cápsula vazia. "Usamos a metodologia randomizado triplo-cego, placebo controlado. É uma experiência em que nem a paciente, nem o pesquisador e nem o responsável pela pesquisa sabe quais foram as mulheres que receberam determinado medicamento. Somente quem distribuiu sabia. Cientificamente falando, é o estudo ideal", afirma Selmo.

Depois de um mês, a artéria central da retina delas voltou a ser analisada. Daquelas que tinham recebido uma cápsula vazia, o vaso arterial se manteve o mesmo, resistente e mais fechado. "Já naquelas que tinham tomado o hormônio, a artéria estava menos resistente, com dilatação, e o fluxo de sangue tinha melhorado", conta Selmo, acrescentando que no organismo há muitas substâncias que fazem relaxar ou endurecer as artérias. "O óxido nítrico que age no músculos é o melhor para relaxar o vaso e o estrogênio aumenta a quantidade dessa substância no organismo", explica. Na opinião da autora da tese, Alice Melgaço, a comprovação clínica aponta que o estrogênio é um dilatador não só da grande circulação, mas das microartérias.

NOVAS POSSIBILIDADES
A constatação abre portas para outras possibilidades. "O estrogênio melhora o calor das mulheres na menopausa, a pele, o cabelo e até o apetite sexual. Saber que ele também é capaz de acentuar a circulação no cérebro pode ser a porta de entrada para a compreensão da origem de doenças como a enxaqueca, síndrome pré-mestrual, perdas de função cognitiva no climatério e até patologias graves, como acidente vascular cerebral (AVC) e mal de Alzheimer", aponta Selmo, dizendo que, no ano passado, foi publicada em revista europeia dissertação de mestrado, também orientada por ele, em que foi constatado, depois de avaliação em 30 mulheres, que é no período de ovulação que a mulher produz mais estrogênio.

Segundo explica Alice Melgaço, como o hormônio se mostrou um bom dilatador, inclusive em artérias menores, talvez possa melhorar aspectos cognitivos de outros órgãos. "Mas não há respaldo para falar sobre isso, temos indícios importantes. Essas outras constatações podem ser um segundo passo para novas descobertas."

 


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