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Estado de Minas

Estudo mostra que riscos de acidentes cardiovasculares aumentam aos 45 anos


postado em 11/05/2011 14:24 / atualizado em 11/05/2011 17:33

O Brasil feminino do século 21 está envelhecendo depressa e mal. Embora a expectativa de vida entre as mulheres tenha aumentado de 73,9 anos em 1999 para 77 anos em 2009, e a dos homens tenha passado de 66,3 para 69,4 no mesmo período, esse número deixa de ser uma grande vantagem se, na população de 21 milhões de idosos brasileiros, existe uma fatia de 63,2% com hipertensão e sob ameaça constante de doenças cardiovasculares (DCV). Desse bolo da terceira idade de hipertensos, mais da metade é de mulheres, pois elas levam a desvantagem de perder parte das defesas hormonais assim que entram na menopausa.

A hipertensão é um mal silencioso e muitas vezes não manda aviso — por ser assintomática — antes de abrir uma fenda de grande impacto na saúde humana com um enfarte ou um acidente vascular cardíaco ou cerebral. “É preciso fazer alguma coisa, agir rápido, com programas de prevenção e campanhas agressivas, porque a população está envelhecendo e está ficando cada vez mais doente”, reflete a professora de cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e diretora do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), Andrea Brandão. “O importante é começar cedo, com alimentação e vida saudáveis”, acrescenta. Para ela, em um país com 32% de hipertensos, todos têm responsabilidade e devem participar para que o quadro seja revertido. Ela se refere à necessidade de se criar campanhas e estabelecer programas nos níveis federal, estaduais e municipais.

Segundo a médica, é preciso que a população tenha uma alimentação equilibrada caloricamente e que faça um acompanhamento médico mais criterioso. “Existe necessidade de um programa mais agressivo para a reeducação alimentar do brasileiro”, adverte Andrea. Ela lembra ainda que a única conquista dos últimos 10 anos no Brasil nessa área de saúde pública que envolve os males do grupo das DCV foi a redução do universo de fumantes no país, de 22% para 15% — entre os anos 2000 e 2010. “A campanha do tabagismo mostra que esse tipo de ação funciona. Mas não adianta ficar na palavra, tem de agir”, acrescenta.

Dados preocupantes
Um estudo norte-americano recente, feito com cerca de 9 mil pacientes do sexo feminino de 11 países, inclusive do Brasil, mostra que as mulheres poderiam facilmente reduzir os níveis de pressão em 15mm/Hg para atingir marcas de 13,5 por 9 ou 13 por 8, em média, consideradas normais. Com a medida, conforme a pesquisa, elas adquirem mais qualidade de vida e se defendem melhor do assédio de doenças cardiovasculares. “Isso significa que as mulheres acima dos 40 anos estariam formando um aliado importante de prevenção de enfartos e outras doenças relacionadas à hipertensão”, observa a cirurgiã cardiovascular Maria Cristina Rezende, do Incor Taguatinga.

Para que esse grupo de hipertensos consiga diminuir a pressão arterial, é preciso mudar de vida. Maria Cristina recomenda — sobretudo para as que entram na idade da menopausa — não engordar, comer produtos com baixos teores de sal e sódio, fazer exercícios físicos e mudar de hábitos. “Também é importante medir a pressão com mais frequência e não se satisfazer com um simples checape. Nas consultas de rotina, é importante verificar se está tudo bem neste aspecto do controle, levar em conta a história familiar e discutir o uso oral de anticoncepcionais, que é prejudicial a partir de certa idade, entre outros detalhes”, orienta a médica.

Pelos dados do estudo publicado no Hypertension — Journal of the american heart, o público mais sensível feminino à hipertensão é o da faixa dos 40 aos 65 anos, quando as crises são mais frequentes nelas do que nos homens. “Acima dos 40 anos, vem a fase mais produtiva da mulher. Com ela, o aumento do estresse, o ganho de peso e, por isso, a atividade física e o controle hormonal são tão importantes”, explica. Já o médico nefrologista Osvaldo Kohlmann Júnior, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que, após entrar na menopausa, a mulher fica mais propensa a ter pressão alta porque perde as proteções hormonais. “Sem estrógeno e progesterona, o risco de doenças cardiovasculares aumenta”, alerta.

De acordo com as classificações estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Hipertensão, indicadores de pressão arterial a partir de 14 por 9 indicam hipertensão leve; em 15 por 10, moderada; e, quando as cifras chegam a 16 por 11, grave. “Quando se chega a esse ponto ou acima, não adianta tratar só com a mudança do estilo de vida, tem de entrar com medicamento, às vezes até a combinação de dois ou mais”, explica Andrea Brandão. “Só assim se controla a pressão e se reduz o risco de um enfarto ou de um AVC, por exemplo.”

“Tudo bem”
O caso da bancária aposentada Esperança Fonseca Silva, 65 anos, combina com a leitura dos dados do estudo. Ela teve a primeira crise grave de elevação de pressão arterial em 1990, aos 44 anos, e, oito anos depois, com o segundo pique de pressão, sofreu um enfarte. Esperança era fumante, gostava de exagerar no sal, no doce e na gordura e não se preocupava com a saúde, como tantos brasileiros e brasileiras. “Mas eu não sentia nada. Estava tudo bem comigo”, recorda-se. Hoje, porém, ela sabe que, em geral, essa é uma doença que não manda recado e age em silêncio. “Então, parei de fumar e comecei a me cuidar. Mas, em agosto de 1998, tive outro enfarto e quase morri.”

A aposentada fez duas delicadas cirurgias — uma em 1998 e outra em 2008, com a mesma cirurgiã, Maria Cristina Rezende. Ela estava com 95% de obstrução nas coronárias. Nesse nível de obstrução, o risco de morte súbita é muito maior, diz a médica. E se agrava ainda mais se o problema ocorrer logo na origem da artéria descendente anterior, a mais importante das três coronárias, e que irriga toda a parede anterior do coração. “Se a obstrução ocorrer na coronária direita, há risco de arritmia, parada cardíaca e morte súbita”, explica Maria Cristina. O caso da bancária se encaixa na primeira situação.

Esperança é daquelas pacientes que até seguem a dieta e as recomendações médicas, mas não de forma rigorosa — de vez em quando, saem da linha. Na semana passada, a pressão foi a 16 por 9 e ela teve de procurar ajuda médica. Agora, promete voltar à dieta e fazer exercícios. “Eu acho que escapar do último enfarte (em 2008) foi um milagre”, desabafa. Ela conta que, um dia antes da cirurgia, resolveu, por acaso, fazer um cateterismo pedido havia um ano por um cardiologista. “Acordei e decidi: vou fazer.” Quando terminou o exame, já ficou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com 95% de obstrução nas artérias. “Por isso, digo que foi milagre. Só Deus tem essa força”, comenta, em seu apartamento na Asa Norte, cercada pelo carinho das filhas Ivana e Meilane.

Estima-se que os homens sofram mais acidentes vasculares do que as mulheres, ainda jovens. “Até os 45 anos, os homens já tiveram muitos problemas relacionados com a hipertensão. Depois, dos 45 aos 65 anos, a incidência entre homens e mulheres se iguala e, após os 65, elas passam a ter mais acidentes vasculares”, explica Andrea Brandão, da SBH. Sedentarismo, sal e sódio, ficar parado, beber e fumar aumentam as chances de AVCs em mais de 50%. Após os 55 anos, mesmo quem possui pressão arterial normal tem 50% a mais de chances de se tornar hipertenso.

Principais alvos
O grupo de doenças das artérias coronárias ou cardiovasculares vai de um ataque cardíaco a um aneurisma da aorta. Figuram nessa extensa lista de males relacionados à hipertensão e a doenças cardíacas como a angina, a síndrome coronariana aguda, as arritmias e a doença cardíaca reumática, entre outras. Todas elas estão de uma maneira ou de outra vinculadas ao estilo de vida e a fatores genéticos ou ambientais. A hipertensão arterial é mais elevada entre 20% e 40% nos obesos, de 30 a 60% entre os diabéticos, de 20% a 30% em negros e de 30% a 50% entre os idosos.

Mudança de hábitos

Peso regular, atividade física e uma dieta de modo geral saudável podem ajudar a diminuir a pressão sanguínea e o colesterol, assim como prevenir obesidade, diabetes, doenças cardíacas e derrames. Ter uma dieta saudável inclui comer muitas frutas e vegetais frescos, diminuir a ingestão de sal e sódio, e ingerir menos gordura saturada e colesterol. É recomendável às mulheres em menopausa não usar anticoncepcionais orais e adotar outros meios preventivos.

 


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