Uma pesquisa realizada conjuntamente por cientistas da Alemanha e da Suíça identificou na medula óssea de ratos um grupo de células-tronco "adormecidas", cujo uso pode ser mais eficiente no tratamento do câncer.
Em artigos publicados na revista científica Cell, os pesquisadores do Centro Alemão de Pesquisa do Câncer em Heidelberg e da Escola Politécnica Federal e do Instituto Ludwig para a Pesquisa do Câncer, ambos em Lausanne (Suíça), afirmam que esse tipo de células-tronco pode ficar "adormecido" durante toda a vida, sendo "despertado" apenas em caso de um ferimento ou de hemorragia, se dividindo imediatamente para repor as células perdidas.
Os cientistas "marcaram" o material genético de todas as células sanguíneas de ratos e, em seguida, investigaram por quanto tempo essas marcas perduraram. A cada divisão celular, o material genético se reparte entre as células-filhas e, portanto, as marcas se diluem.
Durante essas experiências, os pesquisadores descobriram essas células-tronco adormecidas, que se dividem apenas cerca de cinco vezes ao longo da vida do rato – o que, em termos de seres humanos, corresponderia a apenas uma divisão celular em 18 anos. As células-tronco ativas se dividem continuamente cerca de uma vez por mês.
Emergência
Na maior parte do tempo, essas células, que constituem cerca de 15% de todas as células-tronco, se mantêm nesse estado de "adormecimento", com um metabolismo muito baixo.
Mas, segundo os cientitas, em uma emergência como um ferimento na medula, a população de células adormecidas "desperta". Uma vez "acordadas", elas apresentam o potencial mais alto de se auto-renovar já visto em células-tronco.
"Acreditamos que essas células adormecidas não têm um papel em um organismo saudável", disse Andreas Trumpp, chefe da pesquisa.
"O corpo mantém suas células-tronco mais potentes como uma reserva secreta para emergências e as esconde em 'cavernas' da medula óssea, também chamadas de nichos", acrescentou.
"Se a medula é danificada, elas começam imediatamente a se multiplicar diariamente, porque o organismo precisa de novas células."
Resistência
Segundo o cientista, uma vez que o número original de células é atingido, as células-tronco voltam a "adormecer".
Trumpp espera que a descoberta ajude a entender melhor as células-tronco cancerígenas. "Essas células provavelmente também ficam em estado dormente na maior parte do tempo", afirmou. "Acreditamos que é por isso que muitas são resistentes aos vários tipos de quimioterapia."
"Se conseguíssemos 'acordar' essas células antes de um paciente receber tratamento, seria possível eliminá-las e, assim, tratar o câncer de maneira muito mais eficaz", concluiu o cientista.