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Estado de Minas

Pesquisa amplia compreensão da Psicologia sobre os sonhos de deficientes visuais


29/10/2008 16:50 - atualizado 08/01/2010 04:08


A falta de visão impede que os cegos tenham sonhos? De que forma um psicanalista pode analisar a psique de um cego que se manifesta através de um sonho? Questões como esta nortearam a pesquisa “A psicanálise do olhar: do ver ao perder de vista nos sonhos, na pulsão escópica e na técnica psicanalítica” defendida na dissertação de mestrado da psicóloga Liliane Camargos na UFMG.

Alguns dos conceitos principais da psicanálise foram desenvolvidos a partir do livro “A interpretação dos sonhos”, de Sigmund Freud. Ela explica que os sonhos analisados pela teoria freudiana se baseavam em dados visuais. Sendo assim, ela se perguntou se os conceitos da psicanálise poderiam ser aplicados a quem não tem visão.

A resposta à questão é interessante porque deixa claro que a percepção não visual do mundo é rica em interpretação o suficiente para que os cegos tenham sonhos, inclusive com imagens.

Cegos têm sonhos com imagens, mas não imagens visuais. Quando chegam a um lugar novo, identificam os objetos e pessoas pelo toque, perfume, barulho dos passos, barulho do vento. “Ele vive estas situações de sonhar só que percebendo o ambiente da forma como ocorre quando estava acordado”, explica.

Desafio
Segundo ela, o desafio do profissional é delimitar o que é esta percepção ‘visual’ do cego e diferenciá-la da manifestação e do olhar do inconsciente. E também entender o significado das coisas para o paciente. “Uma pessoa cega que eu conheço sempre achou que o prédio em que estudava era um caixote. Porque ela identifica o ambiente andando dentro dele, identificando pelos passos. Mas na verdade é um prédio moderno, cheio de curvas e ela não tinha a menor idéia. Só daria para ela perceber uma coisa muito grande quando toca numa maquete”, diz.

A psicóloga entrevistou cegos de nascimento, pessoas que perderam a visão ao longo da vida e pessoas que estão em processo de cegueira. A construção da tese durou cerca de 3 anos. Segundo ela, as mesmas estranhezas às quais qualquer um está sujeito nos sonhos ocorre com os cegos.

Cegueira branca

Em um dos capítulos da dissertação, Liliane estabelece contato com a produção literária acerca da cegueira. Um texto analisado é “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, transformado em filme pelo cineasta Fernando Meirelles. A obra de Saramago trata de uma hipotética epidemia de cegueira que assola um país, com o detalhe de que a cegueira é branca e não escura, mais comum.
Assista ao trailer
“Quando eu li o livro, achei estranho uma cegueira branca, mas parece que o Saramago não estava falando de uma cegueira pela ausência, e sim pelo excesso”, relata Liliane. Ela afirma que o excesso de estímulos visuais caracteriza a sociedade contemporânea, como se o ser humano não tivesse mais censura ou recalque. Assim como na obra de Saramago, o excesso de luz e de estímulos caracteriza a cegueira coletiva, que resulta no caos.


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