Pesquisadores de Israel e do Reino Unido conduziram uma pesquisa com oito pacientes hipotéticos para identificar se o Chat GPT é capaz de conduzir e orientar uma pessoa com depressão, assim como os médicos da atenção primária. O novo estudo foi publicado na última segunda (16/10), na revista científica Family Medicine and Community Health, do grupo British Medical Journal (BMJ). Segundo os autores, um dos diferenciais entre o atendimento médico e a inteligência artificial (AI) foi que o segundo não apresentou preconceitos de gênero ou classe social - ação observada entre os médicos analisados no estudo.




 
Cada “paciente” realizou a mesma pergunta ao Chat GPT: “O que você acha que um médico de cuidados primários deveria sugerir nesta situação?”. As possíveis respostas eram: encaminhamento para psicoterapia; prescrição de tratamento farmacológico (não incluindo psicoterapia); encaminhamento para psicoterapia e prescrição de tratamento farmacológico; e nenhum desses tratamentos.
 
 
 
Caso a inteligência artificial escolhesse o tratamento farmacológico, ele era levado a selecionar uma das seguintes opções: antidepressivo; ansiolítico/hipnótico; antidepressivo e ansiolítico/hipnótico; e nenhuma dessas drogas.
 
Outra discrepância entre as abordagens terapêuticas foi em relação ao tratamento. Entre os médicos da atenção primária, apenas 4,3% recomendaram exclusivamente o encaminhamento para psicoterapia para casos leves. Já o Chat GPT 3.5 e Chat GPT 4 (versão mais atual), por outro lado, recomendaram exclusivamente o encaminhamento para psicoterapia em 95% e 97,5% dos casos, respectivamente. 



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Já nos casos graves, a maioria dos médicos da atenção primária propôs encaminhamento para psicoterapia e prescrição de tratamento farmacológico (44,4%). No entanto, a inteligência artificial propôs isso com mais frequência do que os médicos de cuidados primários: Chat GPT 3.5 (72%) e Chat GPT 4 (100%). Além disso, 40% dos médicos da atenção primária indicaram exclusivamente a prescrição de tratamento farmacológico, recomendação que não foi feita pelo Chat GPT 3.5 e Chat GPT 4.
 

MEDICAÇÃO 

Nos casos em que médicos de cuidados primários ou Chat GPT propuseram psicofarmacologia (exclusivamente ou juntamente com psicoterapia), foi feita uma pergunta de acompanhamento sobre os medicamentos específicos recomendados. Os resultados indicam que os médicos da atenção primária recomendam uma combinação de antidepressivos e medicamentos ansiolíticos/hipnóticos em 67,4% dos casos, uso exclusivo de antidepressivos em 17,7% dos casos e uso exclusivo de medicamentos ansiolíticos/hipnóticos em 14,0% dos casos.
 
Em contraste, as recomendações das duas últimas versões do Chat GPT apresentaram variações significativas. Sendo que ambos propuseram o uso exclusivo de medicamentos ansiolíticos/hipnóticos, em contraste com as recomendações dos médicos da atenção primária, como aponta a pesquisa: " A proporção de casos em que o tratamento antidepressivo exclusivo é recomendado é maior tanto para Chat GPT 3.5 (74%) quanto para Chat GPT 4 (68%) do que para as recomendações dos médicos de atenção primária.




 
Além disso, Chat GPT 3.5 (26%) e Chat GPT 4 (32%) “sugeriram o uso de uma combinação de antidepressivos e medicamentos ansiolíticos/hipnóticos com mais frequência do que os médicos de cuidados primários". 
 
As duas versões do Chat GPT exibiram desempenho bastante semelhante na maioria dos casos. Uma exceção importante foi observada nos casos de depressão grave. Chat GPT-3.5 recomendou uma combinação de tratamento farmacológico e psicoterapia em apenas 72% dos casos, recomendando psicoterapia isoladamente sem tratamento farmacológico nos restantes 28%. Em contrapartida, a versão mais avançada do Chat GPT-4 recomendava uma combinação de tratamento farmacológico e psicoterapia em 100% dos casos. 
 
As observações revelaram diferenças entre o Chat GPT e as normas utilizadas pelos médicos de cuidados primários na identificação da gravidade da depressão e na determinação de como o distúrbio deve ser tratado. Especificamente, o Chat GPT  4 demonstrou maior precisão no ajuste do tratamento para cumprir as diretrizes clínicas. 
 
“O estudo sugere que o Chat GPT, com o seu compromisso com protocolos de tratamento e ausência de preconceitos, tem potencial para melhorar a tomada de decisões nos cuidados de saúde primários. No entanto, sublinha a necessidade de investigação contínua para verificar a fiabilidade das suas sugestões. A implementação de tais sistemas de AI poderia reforçar a qualidade e a imparcialidade dos serviços de saúde mental." 

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie

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