Trema micrantha Blume

'Trema micrantha Blume' produz canabidiol e suas folhas também são popularmente conhecidas por propriedades analgésicas no tratamento de erupções cutâneas

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Estudiosos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificaram a presença de canabidiol (CBD) nos frutos e flores da planta nativa brasileira Trema micrantha Blume. Essa descoberta traz à tona o potencial de utilização legal do CBD para fins terapêuticos no Brasil, uma vez que a legislação atual proíbe o cultivo e o consumo de plantas que possam ser usadas na produção de substâncias alucinógenas.

Diferentemente da Cannabis sativa, a espécie brasileira não tem tetrahidrocanabinol (THC) entre seus componentes químicos, o que elimina o efeito psicoativo.

Em países como Estados Unidos, Canadá e Portugal, a Cannabis já é autorizada para uso medicinal e industrial. No entanto, no Brasil, o cultivo dessa planta ainda está em discussão no Congresso. Por meio de ações judiciais e liminares, alguns indivíduos têm garantido o cultivo de Cannabis ou a importação de canabidiol em casos específicos.

Em 2020, o Conselho Federal de Medicina (CFM) definiu que os médicos só podem prescrever CBD para tratar epilepsias na infância e na adolescência, incluindo a síndrome de Dravet, a síndrome de Lennox-Gastaut e a esclerose tuberosa.
Rodrigo Soares Moura Neto, professor do Instituto de Biologia da UFRJ e coordenador da pesquisa, esclarece que a planta nativa brasileira poderia contornar as restrições legais atuais impostas à Cannabis. Segundo ele, a Trema micrantha Blume poderia ser uma fonte mais fácil e barata de obter o canabidiol, já que não possui THC e não há restrições jurídicas para seu cultivo.

Espécie costuma ser empregada em projetos de reflorestamento 

Essa espécie costuma ser empregada em projetos de reflorestamento devido ao seu rápido crescimento. Suas folhas também são popularmente conhecidas por suas propriedades analgésicas no tratamento de erupções cutâneas. Cientistas internacionais já haviam encontrado CBD em uma planta da mesma família, a Trema orientale Blume, que não é nativa do Brasil. A pesquisa da UFRJ utilizou esse conhecimento como base para suas investigações.
O estudo recebeu R$ 500 mil em recursos por meio do edital de Ciências Agrárias da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa, vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do governo do Rio de Janeiro. Atualmente, cerca de dez pesquisadores, incluindo químicos, biólogos, geneticistas e botânicos, estão trabalhando para mapear os métodos mais eficientes para análise e extração do CBD da planta. Em seis meses, espera-se concluir a primeira fase e iniciar os processos in vitro, analisando se o componente possui a mesma atividade que o canabidiol extraído da Cannabis sativa.

O canabidiol tem sido apontado por cientistas como benéfico no alívio da dor neuropática, no tratamento de distúrbios psiquiátricos e neurodegenerativos e como analgésico adjuvante em casos de câncer avançado. O biólogo Rodrigo Moura Neto afirma que o objetivo da pesquisa com a planta brasileira é levar esses benefícios a todos que necessitem do tratamento com a substância, possivelmente alcançando a rede pública de saúde.