Cartaz de propaganda criado por J. Howard Miller em 1943, que virou simbolo do feminismo. Mulher com blusa azul e laço vermelho na cabeça fazendo muque em fundo amarelo.

Mulheres podem e devem ocupar os espaços que quiserem, é o normal da vida.

J. Howard Miller

Muito se fala sobre a importância da quebra de estereótipos machistas e misóginos sobre as mulheres. Mas mais do que falar, é fundamental mostrar, na prática, que as mulheres, podem e devem ocupar os espaços que quiserem e o normal da vida é exaltar a diversidade, as diferenças.

Em Belo Horizonte, as gêmeas Eduarda e Clarisse, de apenas 11 anos, são um desses exemplos inspiradores. Apesar da pouca idade, ambas já são destaque no mundo esportivo: a primeira pratica ginástica artística e a segunda judô em um Centro de Treinamento em Belo Horizonte, o CT Amigos do Esporte, que desde 2016 dissemina as duas modalidades para crianças a partir dos 4 anos.

 

 

Selfie de mãe e filhas

Gêmeas Eduarda e Clarisse com a mãe Michele Nogueira

Arquivo pessoal
 


Segundo a mãe das meninas, Michele Nogueira, de 45 anos, Eduarda já nasceu com aptidão para a ginástica artística e começou as aulas aos 9 anos, já Clarisse se encantou pelo judô após a necessidade de começar uma nova atividade física por ordens médicas no período seguinte a pandemia. "A ideia era que a Clarisse começasse na ginástica junto da irmã, mas quando chegou no CT pediu para fazer uma aula de judô e se apaixonou pelo esporte", explica Michele.

 

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Clarisse treina com apenas mais uma menina em sua turma, de resto, todos são garotos. A mãe relata que sua filha já chegou a dizer que os meninos a trataram de forma diferente no começo, mas com o tempo passaram a respeitá-la. "Criança tem muito disso, mas a Clarisse nunca se deixou abalar, é uma menina muito focada e determinada, então sempre que começa uma luta, até mesmo contra um menino, ela quer vencer", afirma Michele.



Já Eduarda, apaixonada por ginástica, sempre mostrou muito apoio à irmã. "Até pensei que no começo poderia haver algum tipo de disputa sobre qual esporte seria melhor, mas muito pelo contrário, elas sempre estão se apoiando. A Duda uma vez chegou até a chorar depois de ver a Clarisse perder uma luta. Acho isso muito bonito, fico toda orgulhosa vendo as duas com tamanha cumplicidade. Elas são um exemplo de que não existe 'atividade para menino' ou 'para menina'. Quem pensa assim precisa rever os conceitos. E o mais legal é que são gêmeas, porém com gostos e aptidões pessoais e individuais. O importante é que independentemente das escolhas não deixam de ser futuras mulheres, fortes, destemidas e sonhadoras", conclui a mãe.

Casal rompe estereótipos


Outro exemplo que rompe com estereótipos no Centro de Treinamento no qual as gêmeas Eduarda e Clarissa fazem aula, vem do casal Bárbara Fernandes, de 27, e Luan Moreira da Silva, de 31. Ela, professora de judô. Ele, estagiário de ginástica artística. Os dois, que estão juntos há nove anos, também são a prova de que é extremamente retrógrado pensar em 'atividades para mulheres' ou 'atividades para homens'.

 

O casal Bárbara Fernandes, de 27, e Luan Moreira da Silva, de 31

O casal Bárbara Fernandes, de 27, e Luan Moreira da Silva, de 31, está junto há nove anos e são a prova de que é extremamente retrógrado pensar em 'atividades para mulheres' ou 'atividades para homens'

Arquivo pessoal


"As escolhas não dependem de gênero. Todos somos livres para fazer o que quisermos. Devemos, inclusive, sempre aproveitar datas como o Dia Internacional da Mulher para reforçar isso, afinal a informação é essencial para conscientizar e promover mudanças de mentalidade", afirma Bárbara acrescentando que, apesar das dificuldades, nunca desistiu de sua paixão pelo judô. "No início meus pais falavam que [o judô] era esporte pera menino, que eu deveria procurar outro, mas com o tempo foram vendo que isso não tem nada a ver e que não existe 'esporte para x ou y'. O que existe é só o esporte e as modalidades estão, sobretudo, em busca de talentos, independentemente se homens ou mulheres".

Hoje, inclusive, a atleta é referência para as meninas que sonham em seguir o mesmo caminho. "Comecei muito nova, aos 12 anos. Participava de um projeto social que englobava várias aulas, uma delas era o judô. Iniciei dentro desse projeto, fui gostando e me dedicando cada dia mais, até ser convidada para treinar na academia do meu Sensei, como bolsista" conta.

Professora de kimono branco e faixa preta ao lado de seus dois alunos de kimono azul e faixa branca

Professora de judô Bárbara junto de seus alunos

Arquivo pessoal


A professora, que tem como suas inspirações seu sensei Galvan Leal e a medalhista olímpica Rafaela Silva, lembra ainda que já sofreu preconceito por estar praticando judô, mas que isso nunca foi motivo para desistir. "Sempre tentei não me importar com as falas 'machistas', e toda vez que entrava no Dojo [local onde se treinam artes marciais] me desligava de tudo do lado de fora, desde problemas até preocupações da vida. O importante é a gente fazer o que gosta e ocuparmos todos os lugares deste Planeta."