Pessoa costurando

Pessoa costurando

Cookie Studio


Quando se atribui a característica terapêutica à costura, está aí uma afirmação de que nessa atividade estão contidas propriedades curativas que podem ajudar na saúde de quem costura. Não se trata de curas milagrosas, claro. Cada caso tem suas particularidades e, quando a questão de saúde é mais grave, obviamente a orientação médica é imprescindível. Os efeitos terapêuticos da costura podem ajudar no enfrentamento de doenças e servir como um  suporte emocional em momentos difíceis.
 
costura aguça a memória afetiva. Remete à infância, às mães e avós, que se sentavam à máquina para costurar, cerzir, remendar, consertar e criar, restaurando um brinquedo, a roupa preferida ou fazendo nascer um artigo único. E lembrar do tempo de criança promove a sensação de segurança e pertencimento.
 

"Cresci mergulhada entre linhas, agulhas e tecidos coloridos. Fui me afeiçoando à costura e aprendendo com a curiosidade de uma criança a dar os meus primeiros pontos"

Eula Teixeira, artista plástica

 
 
Costurar também tece a amizade. A cultura criativa e relaxante dos trabalhos manuais e artesanais, quando exercida em conjunto, pode ser um momento de encontro, troca, comunhão e interação.



É da infância em São João Evangelista, cidade no Vale do Rio Doce, interior de Minas Gerais, a referência que a funcionária pública aposentada Celia Evangelina Gonçalves Hilário, de 71 anos, tem com a costura. Cresceu observando a mãe e a tia sentadas à máquina, produzindo roupas para vender. Celia é autodidata - tudo o que aprendeu foi prestando atenção em como elas faziam.

BONECAS Primeiramente como uma forma de brincadeira, por volta dos 13 anos, as experiências iniciais com o universo das linhas e agulhas foram na produção de roupas para bonecas. Lembra quando foi a uma loja que comercializava as bonecas e ganhou do dono o tecido para criar sua roupinha.
 

Quando se mudou para Belo Horizonte, começou a fazer com a tia aulas de corte e costura e foi se aperfeiçoando. Mais tarde, quando tinha vontade de ter uma roupa nova para sair para se divertir no fim de semana, comprava o tecido e fazia. Depois, para os filhos, também criava roupas, além dos uniformes da escola e até as mochilas. Recentemente, com a pandemia, produziu máscaras para distribuir para as pessoas conhecidas.
 
Celia conta que gosta do desafio, de criar e aprender coisas novas, e fica satisfeita em se perceber capaz de realizar aquilo a que se propôs, muitas vezes superando dificuldades na hora da produção. Da vivência como desenhista projetista na área da arquitetura, gosta, por exemplo, de produzir moldes em um programa específico de computador, e transportar para a peça real. "Também é uma maneira de me distrair, de amenizar a ansiedade e afastar as preocupações", diz.

ARTE Foi percebendo a avó e a mãe criando histórias que partiam da máquina de costurar, espécie de religião que não pede obrigações, que a então menina viu nascer o fazer que daria sentido a uma vida inteira. A artista plástica Eula Teixeira, amante dos armarinhos, viu nas composições têxteis o caminho para sua expressão criativa. Chamada à criação pelos botões que a convidavam, foi como costureira que se moldou na arte.
 
O universo da costura e do bordado sempre fez parte da vida de Eula, desde menina. A mãe trabalhava fora e costurava nas horas vagas, e a avó também era uma costureira de mão cheia. "Cresci mergulhada entre linhas, agulhas e tecidos coloridos. Fui me afeiçoando à costura e aprendendo com a curiosidade de uma criança a dar os meus primeiros pontos. Tinha minha caixinha de costura que era um verdadeiro tesouro, guardado a sete chaves. Ali estavam linhas, agulhas, tesourinhas, paninhos, botões, e tudo isso me encantava", rememora. Para Eula, aquilo sempre soou como brincadeira. "Até hoje, quando começo a fazer um trabalho, é como se estivesse falando para mim mesma, pequena: Eula, vamos brincar?", diz.
 
Aos 12 anos, se sentou à máquina para costurar. O aprendizado sempre dentro de casa mesmo. "Passei minha infância e adolescência ligada a essa tradição. Um fazer para mim fundamental até hoje", conta.
 
A artista é formada pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), pela Escola Guignard, com habilitação em desenho e escultura. Quando ingressou no ensino superior, já era professora de costura e bordado. Lembra que, à época, não tinha a intenção de se tornar artista. Conta que era mais uma curiosidade, um desejo de conhecer outras formas, outros materiais, outras possibilidades. A vontade era explorar a pintura, o papel e o desenho. "A princípio, não disse para ninguém que era costureira. Para mim, aquele era um ofício tão simples e corriqueiro que não valia a pena falar, não tinha novidade".
 
Pode ser que Eula não percebesse no início, mas a costura lhe daria, logo depois, sua personalidade na arte. "Durante a faculdade fui conhecendo artistas que trabalhavam com bordado e costura. E aí eu senti que também poderia utilizar essas técnicas nos meus trabalhos, e isso  me possibilitou criar uma identidade muito forte", diz. "Foi no momento em que introduzi a costura nas minhas obras que me encontrei como artista. E é muito prazeroso, até hoje. Não me vejo fazendo arte se não tiver uns pontinhos", brinca.

TERAPIA Eula conta que percebe nas pessoas uma necessidade muito forte de fazer alguma coisa manual. E aí entra a costura com todas as suas possibilidades, abre um campo enorme, é uma prática milenar. "Você pode fazer uma bolsa, uma almofada, uma boneca, uma peça de roupa ou para o enxoval. E ainda há o momento do encontro no ateliê. As pessoas vêm aqui, trocam ideias, riscos, conversam, aprendem uns com os outros."
 
Para Eula, a costura significa sua vida inteira. "É meu mundo, meu universo, minhas memórias afetivas, um revisitar daquilo que tenho saudade. É um encontro comigo mesma, o que me faz feliz". 

Benefícios da costura

» REDUÇÃO NO NÍVEL DE ESTRESSE

Ao costurar, a mente se desliga, ainda que momentaneamente, dos assuntos que causam preocupação e angústia. Esse desligar, ainda que breve, é capaz de reduzir significativamente o nível de estresse. Quando esse tipo de atividade é praticada de forma regular, seus benefícios são ainda mais acentuados.

» MELHORA NA CONCENTRAÇÃO

Costurar é uma atividade que requer foco e atenção. Com o tempo, portanto, é
 natural que ocorra uma melhora na capacidade de concentração do indivíduo

» AUMENTO DA CAPACIDADE DE ABSTRAÇÃO

Costurar pode ser visto como uma forma de comunicação não-verbal. Por conta disso, 
pode ser considerado uma excelente forma de dar vazão a imaginação e aumentar gradualmente a capacidade de abstração

» MAIOR DESTREZA

A costura é particularmente boa para idosos, já que melhora consideravelmente a destreza psicomotora, ajudando-os a ficar com os movimentos mais firmes e precisos.

Fonte: Máquinas União, empresa especializada em máquinas de costura