Jornal Estado de Minas

DENÚNCIA DE SENADOR

Bolsonaro pediu a Marcos do Val para gravar Moraes, diz revista

Uma série de mensagens do senador Marcos do Val (Podemos-ES) denuncia uma tentativa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de realizar um golpe de estado. De acordo com os relatos do parlamentar, no dia 9 de dezembro de 2022, Bolsonaro e alguns aliados participaram de uma reunião para planejar um golpe. O objetivo era anular o resultado das eleições e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 





Conforme o senador, além dele, o ex-deputado Daniel Silveira também estava presente na reunião. 

De acordo com as mensagens divulgados à revista Veja pelo senador Marcos do Val, o objetivo de Bolsonaro era usar alguém para se aproximar do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e gravar o magistrado, com o intuito de registrar algo "comprometedor" que servisse como argumento para prendê-lo. 

No dia 12 de dezembro, dia em que Lula foi diplomado pelo TSE e bolsonaristas depredaram Brasília em negação da vitória do petista, Marcos do Val mandou mensagens para Moraes. Seria o início da denúncia do plano de ação de Bolsonaro.

O senador pediu para falar pessoalmente com o ministro, diante da gravidade do ocorrido naquele dia - os ataques em Brasília. Em seguida, o senador disse que o encontro com Moraes era urgente, e dizia que Daniel Silveira e o então presidente da República o convidaram para uma "ação esdrúxula, imoral e até criminal".




 
Alguns dias antes, Val já tinha alertado o ministro sobre "algo estranho" que estava sendo tramado pelo ex-presidente. Eles se encontrariam dois dias depois.

O plano


O senador Marcos do Val alega que, de acordo com Bolsonaro, o intuito de prender Moraes era porque o ex-presidente acreditava que sua derrota nas eleições ocorreu devido às interferências do ministro do STF durante a campanha eleitoral.

Ainda segundo o relato, para Silveira o senador Marcos do Val era alguém de confiança e seria capaz de participar da ideia que "salvaria o Brasil", isso porque ele conhecia o ministro há mais de uma década. 

A ideia era se aproximar de Alexandre de Moraes e gravar um diálogo que sugerisse alguma interferência nas eleições por parte do ministro. 

Os detalhes do plano incluíam até mesmo o Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

De acordo com Do Val, Bolsonaro acertou com o GSI, que daria suporte técnico a ação fornecendo equipamento de "espionagem". Segundo o senador, apenas cinco pessoas ficaram sabendo do plano. 




 
"A ideia era que eu gravasse o ministro falando sobre as decisões dele, tentar fazer ele confidenciar que agia sem observar necessariamente a Constituição. Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República", detalhou o senador à Veja.  

Na época, Do Val pediu um tempo para pensar na proposta, mas Silveira ficou cobrando o senador e dizendo que a operação era "segura". O ex-deputado ainda ressaltou que a ação era tão discreta que nem o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sabia do que estava sendo planejado. 

Com a hesitação do senador, Silveira continuou pressionando Marcos do Val. "Não há riscos"; "Caso não extraia nada, é descartado o conteúdo e ninguém saberá"; "Não sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação"; "Se aceitar a missão, parafraseando o 01, salvamos o Brasil".

Encontro com o ministro


No dia 14 de dezembro, o ministro Alexandre de Moraes e o senador Marcos do Val se encontraram. Em uma conversa rápida, Do Val contou a Moraes sobre o encontro com o ex-presidente e o ex-deputado e todo o plano orquestrado. 





De acordo com o senador, Moraes fez apenas um único comentário em tom de espanto: "Não acredito".

Fim do plano


Após relatar o plano para o ministro, Do Val respondeu o ex-deputado dizendo que iria "declinar da missão", sem dar mais explicações. Silveira apenas respondeu de volta: "Entendo, obrigado".

Procurado pela assessoria, o ministro Alexandre de Moraes disse que não comentaria o caso. Já o ex-deputado Silveira (agora preso) está impedido pela Justiça de falar com jornalistas.
 

Bolsonaro x Moraes 

A relação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro Alexandre de Moraes passou por diversos atritos durante todo o mandato. 

 

Recorrentemente Bolsonaro fazia críticas ao modo de atuação do magistrado, além de disparar ofensas diretas a Moraes.  

 

Durante o período eleitoral, Bolsonaro questionou diversas vezes a segurança das urnas eletrônicas e demonstrou insatisfação com algumas decisões do ministro. 

 

Nas eleições de 2022, Moraes, diversas vezes, ordenou a remoção de conteúdos falsos que questionavam e colocavam em dúvida o processo eleitoral brasileiro, na maior parte das vezes publicados por aliados do ex-presidente.