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Estado de Minas ENTREVISTA ANDRÉ JANONES

Janones diz que paralisação de caminhoneiros no dia 7 foi de fanáticos

Parlamentar mineiro diz que não houve greve no dia 7, mas movimento de bolsonaristas que não representam a categoria


13/09/2021 04:00 - atualizado 13/09/2021 07:26

''Não houve greve de caminhoneiros em 2021. Houve greve de meia dúzia de fanáticos bolsonaristas. Não estavam ali em representação à categoria''
''Não houve greve de caminhoneiros em 2021. Houve greve de meia dúzia de fanáticos bolsonaristas. Não estavam ali em representação à categoria'' (foto: CÂMARA DOS DEPUTADOS)

Dentre as muitas revelações das manifestações de 7 de Setembro, está a de que o propalado apoio ao presidente Jair Bolsonaro entre caminhoneiros está mais para blefe do que para uma adesão orgânica da categoria. “Não houve greve de caminhoneiros em 2021. Nem início de greve. Houve greve de meia dúzia de fanáticos bolsonaristas. Não estavam ali em representação à categoria. Por acaso eram caminhoneiros, mas poderiam ser garçons, empresários. Não era um movimento dos caminhoneiros”, avalia o deputado federal André Janones (Avante-MG) – considerado fenômeno das redes sociais – liderança que alcançou visibilidade nacional com a greve dos caminhoneiros em 2018.

Janones adverte para pretensos “líderes” que tentam sequestrar essa representação: “Entre as lideranças com as quais tenho contato, ninguém no meio dos caminhoneiros sabe quem é Zé Trovão. Ninguém nunca ouviu falar nesse cara. Perguntei a vários. Ninguém sabe quem é ele, ninguém tem informação sobre ele. Não é uma liderança caminhoneira. É um bolsonarista que tem um caminhão. Ponto”, afirma o deputado.

Na avaliação do parlamentar, os caminhoneiros enfrentam condições desafiadoras em seu exercício profissional, como o preço da gasolina e do diesel e a tabela do frete, e não se mobilizariam por uma pauta política. “Acha que vão entrar num movimento assumidamente bolsonarista? Não vão. Não repetiremos outra greve daquela em nossa geração, com aquele grau de adesão. Foi momento único. Com várias coisas que convergiram para aquilo. Houve adesão popular, estava num governo com 97% de reprovação popular. Uma série de fatores que dificilmente acontecem de novo. E o principal: não ter conseguido, mesmo com aquela paralisação, conquistas que durassem, que permanecessem, vitórias pífias que duraram um ou dois meses, esse é fator principal para desestimular novas paralisações daquela dimensão”, avalia.

Mesmo com partidos de centro-direita e direita anunciando oposição ao governo federal, Janones acredita que o impeachment não vá prosperar na Câmara dos Deputados. “Bolsonaro blefa. Ele não tem prestígio em lugar nenhum, nem nas Forças Armadas. Ele está com um estilingue na mão ameaçando um golpe. É um fraco, sem comando, perdeu, se é que já teve comando”, diz. “Apesar disso, o Centrão não vai aderir, porque já tem a chave do cofre, administra o país, já tem tudo, não tem o que tirar mais. Sobrou pra ele a faixa da Presidência e o palácio para morar”, afirma André Janones nesta entrevista ao Estado de Minas.

Foi na greve dos caminhoneiros de 2018 que o sr. alcançou visibilidade nacional. Qual foi a adesão dos caminhoneiros às manifestações de 7 de Setembro?
Convivi muito de perto e aprendi como funciona os movimentos, as associações dos caminhoneiros com a greve de 2018. Os caminhoneiros têm muitas dissensões internas, são inúmeras associações, sindicatos, não têm um movimento unificado. Em 2018, a mobilização foi alcançada porque a pauta era corporativa: melhorar as condições da categoria. Depois as pautas que foram se ampliando e somadas ao movimento viraram um grande manifesto. Desta vez, não era pauta para a categoria. Não houve greve de caminhoneiros em 2021. Nem início de greve. Houve greve de meia dúzia de fanáticos bolsonaristas. Não estavam ali em representação à categoria. Por acaso eram caminhoneiros, mas poderiam ser garçons, empresários. Não era um movimento dos caminhoneiros.

Mas esses mobilizados falaram em nome da categoria...
Mas não foram autorizados por nenhuma associação, entidade ou liderança dos caminhoneiros. Entre as lideranças com as quais tenho contato, ninguém no meio dos caminhoneiros sabe quem é Zé Trovão. Ninguém nunca ouviu falar nesse cara. Perguntei a vários. Ninguém sabe quem é ele, ninguém tem informação sobre ele. Não é uma liderança caminhoneira. Ele tem um caminhão. Ponto. Então é um bolsonarista, que tem um caminhão. E se ele tem um canal de YouTube com seguidores, são seguidores bolsonaristas.

Qual é a força de Bolsonaro entre os caminhoneiros?
É do mesmo tamanho que tem no eleitorado brasileiro. Não há identificação específica com a categoria. Em todo lugar terão esses extremistas.

Como foi a preparação dos caminhoneiros para o 7 de Setembro?
Até 5 ou 6 de setembro, houve tentativa de mobilização. Mas as informações que tive foram de que não tinham força para iniciar uma mobilização. Até surpreendeu, porque conseguiram iniciar, mas o resultado final não surpreendeu, foi um fracasso, como todo mundo previa que ia ser. Não foi um movimento da categoria, com pauta da categoria, dos caminhoneiros autônomos. Foi um movimento bolsonarista dentro da categoria. A adesão foi muito baixa, não teve mobilização unificada, não houve movimento central de onde partia. Agora, foi financiado, não sei detalhar, mas sabemos que no inquérito dos atos antidemocráticos está sendo investigado.

Os caminhoneiros bolsonaristas estavam impedindo os outros caminhoneiros de circular?
Estavam impedindo. Os caminhoneiros que não atendiam eram hostilizados, alguns chegaram a receber ameaças de agressão e danos nos caminhões.

Como reagiram os caminhoneiros bolsonaristas com a capitulação da suposta tentativa de golpe frustrado?
Temos de separar o ''bolsominion'' do eleitor bolsonarista comum. Ele perde pouco no núcleo duro, porque esse pessoal vive em outra dimensão, lambe o chão pra ele. Então, vai se isolando cada vez mais dentro desse bolsonarismo raiz. Já no conjunto dos apoiadores, acho que ele teve queda vertiginosa. Agora, em se tratando dos caminhoneiros, acho que o pouco que perdeu no núcleo duro, foi justamente entre os caminhoneiros. Ele convocou o pessoal para as ruas. A maioria foi para a rua no dia 7 e voltou no mesmo dia para casa. Mas os caminhoneiros, não. Teve gente com caminhão guinchado, teve confronto em Brasília entre policiais e caminhoneiros. A pessoa olha para aquilo e se sente um idiota. O segundo fator que agrava é a questão da imagem. Vi muito caminhoneiro pelo Brasil fazendo vídeo falando: “Esse movimento não é dos caminhoneiros. Estou aqui com o preço do frete, do diesel e da gasolina, nenhuma dessas pautas está sendo considerada”.

Como os caminhoneiros reagem à narrativa de Bolsonaro, que joga a culpa do preço da gasolina e do diesel sobre os governadores, culpando o ICMS?
Os fanáticos do núcleo duro compram qualquer coisa. Não interessa o que Bolsonaro faz. O fanatismo cega. Eles mergulham nessa realidade paralela. Mas a maioria não se deixa ser usada como massa de manobra.

Como o sr. avalia a movimentação de Bolsonaro para de 7 de setembro?
Foram atos preparatórios para o golpe. Ele vem tentando num crescente. Começou no dia da posse e a cada dia deu um passo. Dia 7 seria o grande dia, ele pretendia migrar dos atos preparatórios para o golpe. A faixa que a gente mais lia em Brasília: “Eu autorizo”. Dia 7 ele ia pegara autorização para o golpe. Mostrou que não tem força nem apoio popular. Teve dinheiro envolvido nessa mobilização, e muito dinheiro. Em Ituiutaba no Triângulo Mineiro vieram dois ónibus lotados. A pessoa que fretou não tinha dinheiro para fazer isso. Estavam pagando as pessoas pra vir. Foi uma mobilização que se iniciou em junho. Ele imaginava que teria dois milhões na Paulista, um milhão na Esplanada. Pretendia assustar deputados e senadores, achou que haveria movimento interno, com convocação do Conselho da República, e a partir dali iria costurar um formato diferente, submetendo os outros poderes. Só que ninguém se sentiu intimidado com a mobilização. Do outro lado não houve recuo. Agora, Bolsonaro blefa. Ele não tem prestígio em lugar nenhum, nem nas Forças Armadas. Ele está com um estilingue na mão ameaçando um golpe. É um fraco, sem comando, perdeu, se é que já teve comando. Não sei dizer se ele sabe que não tem força e blefa, para ver se o outro recua, ou se ele é otário que não percebeu que não tem comando. O dia 7 escancarou. Eu tinha dúvida. Mas será que ele tem o comando das Forças Armadas, será que elas embarcam nessa aventura? Esse é o grande prejuízo para o bolsonarismo. Ele não consegue mais blefar, não consegue mais mostrar força que não tem. Sete de setembro foi o extrato bancário que caiu na rua.

Parece-lhe provável o caminhoheiro entrar numa mobilização sem nenhuma pauta da categoria?
Nunca não vão entrar nisso. Quando participei da paralisação dos caminhoneiros, nunca mencionei política lá. Fui convidado, estava como cidadão. Quando descobriram que eu fora filiado ao PT, já perdi a legitimidade para falar em nome deles. Agora, acha que vão entrar num movimento assumidamente bolsonarista? Não vão. Não repetiremos outra greve daquela em nossa geração, com aquele grau de adesão. Foi momento único. Com várias coisas que convergiram para aquilo. Houve adesão popular, estava num governo com 97% de reprovação popular. Uma série de fatores que dificilmente acontecem de novo. E o principal: não ter conseguido, mesmo com aquela paralisação conquistas que durassem, que permanecessem, vitórias pífias que duraram um ou dois meses, esse é fator principal para desestimular novas paralisações daquela dimensão.

Como é hoje a condição do caminhoneiro?
Péssima, não melhorou em nada. São as mesmas condições que eram antes de 2018. As principais pautas de 2018 que ainda permanecem, a defasagem do valor frete, a questão do pedágio pesa um pouco mesmo, mas não deixa de ser também, e o preço do diesel.

Bolsonaro prometeu resolver essas coisas?
Prometeu, se colocou ao lado da mobilização. Apoiou, fez compromisso com a categoria e no fim se mostrou o cara do sistema que sempre foi.

Após 7 de Setembro, o sr. acredita que há chance de um processo de impeachment seguir na Câmara dos Deputados?
Pelas informações que me foram repassadas por líderes do Centrão, já, em 7 de julho, por ocasião da troca de farpas entre o senador Omar Aziz (PSD-SM) e o ministro da Defesa, numa reunião que terminou às 3h da manhã no Palácio do Planalto, com a presença do presidente da República, o presidente discutiu abertamente a possibilidade de um golpe, o que fez com que os parlamentares presentes, que antes tratavam como chacota as ameaças do presidente, pela primeira vez levassem a sério a possibilidade e estavam muito preocupados. Isso está relacionado ao 7 de Setembro. Então essa ameaça, está pairando. E o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional estão juntos para evitar isso. Mesmo Arthur Lira (PP-AL), que não se posiciona com firmeza para rechaçar os ataques de Bolsonaro, não apoiaria o golpe. Qual é a dúvida, por que ninguém parou Bolsonaro? Porque a dúvida sempre esteve pairando em relação à posição das Forças Armadas. O dia 7 de Setembro escancarou que Bolsonaro sacou arma sem munição. Ficou claro que ele não tem as Forças Armadas, o STF e o Congresso foram para cima dele.

Então, em sua avaliação, o Centrão não discute o impeachment porque está com a chave do cofre?
Uma liderança do Centrão me disse que Bolsonaro já entregou o governo para o Centrão, não há mais o que tirar. Sobrou a faixa da Presidência e o palácio para morar. Então, o Centrão já tem tudo, não tem o que tirar mais, o Centrão administra.

O sr. transita muito bem nas redes sociais e alguns de seus vídeos já alcançaram dezenas de milhões de compartilhamentos. Em sua avaliação, como anda a popularidade digital do presidente nas redes após o recuo aos atos antidemocráticos de 7 de Setembro?
Desde o dia em que ele assumiu que é candidato à reeleição, o número de seguidores dele cresce todos os dias. Em todo esse período, foram dois momentos de queda. O primeiro quando Sergio Moro saiu do governo. E o segundo foi agora, após 7 de Setembro. No episódio Moro, ele tinha um ano de governo, Bolsonaro ressurge com convicção. Mas, desta vez, o cenário é muito diferente, o preço dos alimentos, da gasolina nas alturas, ele não consegue se recuperar e acho que não estará no segundo turno das eleições de 2022.




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