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Estado de Minas IMPLANTANDO CONFUSÃO

Comando da CPI da COVID desconfia que PM tenta atrapalhar as investigações

Luiz Paulo Dominguetti que denunciou suposta propina sobre vacina apresenta áudio para tentar comprometer deputado Luis Miranda


02/07/2021 04:00 - atualizado 02/07/2021 09:12

Luiz Paulo Dominguetti (E), que disse ter recebido proposta de propina do então diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, foi repreendido pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (D)(foto: WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO)
Luiz Paulo Dominguetti (E), que disse ter recebido proposta de propina do então diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, foi repreendido pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (D) (foto: WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO)
Brasília – Um áudio apresentado pelo policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se diz vendedor de vacinas autônomo da empresa Davati Medical Supply, provocou confusão, nesta quinta-feira (1º/7), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID.

A mensagem de áudio implicaria o deputado Luis Miranda (DEM-DF), que, com o irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda, denunciou suposto esquema de compra superfaturada da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que há movimentos suspeitos por parte do governo para atrapalhar os trabalhos da CPI da COVID.

Dominguetti diz que recebeu oferta de propina do então diretor de Logística do ministério Roberto Ferreria Dias quando ofereceu 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca/Oxford ao governo brasileiro. Seria US$ 1 para cada vacina negociada a US$ 3,5. Senadores desconfiaram da mensagem apresentada pelo policial, que, explicitamente, não diz nada comprometedor nem tem a palavra “vacina” em seu conteúdo, embora não possa ser de pronto descartada.

O vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pediu a apreensão do celular do depoente para que seja periciado. Para parlamentares da comissão, Dominguetti pode ser um depoente falso, que teria surgido para atrapalhar as investigações. Nas palavras do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), ele seria uma “testemunha plantada”. Ainda não existem provas disso. O vendedor de vacinas disse que recebeu a mensagem que mostrou aos parlamentares do representante da empresa Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho, após o depoimento de Luis Miranda na última sexta-feira.

Cristiano afirmou ao jornal O Globo, contudo, que o áudio nada tem a ver com negociação de vacina. “Vou falar direto com o cara, o cara vai pedir toda a documentação do comprador. Meu comprador já está de saco cheio disso. Vai pedir a prova de vida antes, e a gente não vai fazer negócio”, afirma o deputado Miranda na mensagem.

“Então, a gente nem perde tempo. Você sabe que eu tenho um comprador com potencial de pagamento instantâneo. Para que ele compre o tempo todo lá, em quantidades menores, obviamente. Se o seu produto estiver no chão, o cara fizer um vídeo, o nome, Luis Miranda, tenho aqui o produto, o meu comprador entende que é fato, ok? E encaminha toda a doc necessária. Amarra, faz as travas, contratos todos, e bola para frente. Não vou perder mais tempo com esse comprador, que desgastou muito, meu irmão, nos últimos 70 dias. Tem muita conversa fiada no mercado”, disse também o deputado também, que voltará a depor na próxima terça-feira (06/7).

Logo em seguida, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), demonstrou irritação. “Na nossa região, chapéu de otário é marreta. E jabuti não sobe em árvore. O senhor está sob juramento. Não venha achar que todo mundo aqui é otário. Veja bem qual o seu papel aqui”, criticou. “Do nada surge um áudio do deputado Luis Miranda. Chapéu de otário é marreta, irmão”, voltou a disparar contra Dominguetti.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES) afirmou que a CPI deveria avaliar a prisão de Dominguetti por falso testemunho. “Isso aqui não é lugar para moleque, não é lugar para molecagem”, disse ele. “No momento mais grave no país, as pessoas (do Ministério da Saúde) estavam negociando dinheiro por insumos. Isso é de uma gravidade absurda. Temos um presidente que não tem a capacidade de desmentir a denúncia. Isso é o nível em que o Brasil chegou. Eu lamento. Peço à presidência que avalie a prisão em flagrante”, completou Alessandro.

FAMÍLIA

Omar Aziz disse que não aceitaria o pedido de prisão. “O senhor tem família? É casado?”, questionou Aziz. “Sou casado”, responde Dominguetti. “Tem filhos?”, pergunta o presidente da CPI. “Três filhos”, diz o policial militar. “Eu não tenho intenção, peço até desculpa ao senador Alessandro, de te prender. Porque imagino seus filhos, filhas e esposa te vendo nesse momento. O que a gente não quer para a gente, a gente não deseja para os outros”, disse o senador.

Renan Calheiros levantou a suspeita: “Na semana passada, esse proprietário (o empresário bolsonarista Francisco Maximiniano) da Precisa entrou com o pedido de habeas corpus para o gabinete de um ministro, tentando burlar o STF ao despachar sem submeter ao sorteio eletrônico. O senhor Maximiniano teve investigação aberta pela PF”, disse. Com a investigação, o Supremo liberou o empresário suspeito de integrar as negociações superfaturadas da Covaxin de falar no colegiado. Os senadores também pediram quebra de sigilo telefônico, telemático e fiscal do bolsonarista.

“Surpreendentemente, recebemos um depoente com um áudio contando algumas mazelas que porventura poderiam envolver o deputado Luis Miranda, que esteve aqui na passada. Em nome de quê? Em nome da investigação da Polícia Federal de ontem? Em nome do mesmo propósito que o proprietário da Precisa tentou burlar o sistema do STF? Em nome de quê? Estamos aqui para investigar. Esses genocidas que causaram tanta dor ao país vão ser punidos”, afirmou Calheiros, sob protestos de governistas.


Governistas acusam Aziz

Brasília – Senadores governistas manifestaram interesse na mensagem de aúdio apresentada pelo policial militar Luiz Paulo Dominguetti a respeito do deputado Luis MIranda. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente da República, questionou se o presidente da CPI, Omar Aziz, estaria defendendo Miranda. O presidente da CPI negou. “Não estou defendendo o deputado Luis Miranda, sugeri que convocasse para ele voltar. Porque ele fala uma coisa aqui, outra ali, fala um vídeo e desdiz. Ele está convocado para estar terça-feira aqui. Isso é problema dele. Não é meu. Não tem que proteger ninguém. Terça-feira da semana que vem, o deputado Luis Miranda volta aqui”, afirmou.

Senadores pediram a presença de Cristiano Alberto Carvalho, mas a convocação dele também já foi aprovada. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), destacou que há movimentos suspeitos por parte do governo, para atrapalhar os trabalhos da CPI. Dominghetti revelou ao jornal Folha de S.Paulo um suposto esquema de propina na compra de doses da vacina AstraZeneca feito pelo ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias. O depoente também disse que Miranda teria tentado intermediar a compra de vacinas.

Após a confissão, Luis Miranda foi até a CPI e Aziz se reuniu rapidamente com ele. Após Randolfe Rodrigues pedir a apreensão do celular do depoente Dominghetti, governistas pediram que apreendessem também o do deputado, que, porém, já havia deixado o local. Miranda afirmou a Aziz que o áudio é uma mensagem de 2020 e nada tem a ver com as vacinas. “O que ele diz é que esse áudio é de 2020, que é uma negociação nos Estados Unidos, não tem nada a ver com o Brasil, é um áudio em que nem se falava em vacinas ainda, e que está editado aqui para prejudicá-lo. Ele foi agora à polícia levar o áudio completo, fazer uma denúncia crime e irá dispor para a gente a edição do áudio. Está certo? Que ele, a testemunha aqui neste momento, fala até no irmão. Ele é que fala no irmão. Quer dizer, Vossa Excelência foi induzido a falar até no irmão do deputado”, afirmou o presidente da comissão.
 
Luiz Paulo Dominguetti é cabo da Polícia Militar de Minas Gerais em Alfenas, no Sul do estado(foto: EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO)
Luiz Paulo Dominguetti é cabo da Polícia Militar de Minas Gerais em Alfenas, no Sul do estado (foto: EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO)
 

PM investiga conduta de cabo

Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que prestou depoimento à CPI da COVID, é cabo da Polícia Militar de Minas Gerais em Alfenas, no Sul do estado. O nome dele aparece em 37 processos judiciais, segundo o site G1, e, após uma passagem por Belo Horizonte, ele teria se mudado devendo quatro meses de aluguel. A PMMG divulgou nota confirmando que ele Dominguetti está na ativa no 64º Batalhão da cidade mineira e que a conduta dele será investigada.

“A PMMG esclarece que instaurou Relatório de Investigação Preliminar em desfavor do policial militar, para apurar possíveis condutas que ferem o Código de Ética e Disciplina dos Militares do estado de Minas Gerais e o Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais. Cabe destacar que a Lei 14310/2002, que dispõe sobre o Código de Ética e Disciplina dos Militares do Estado de Minas Gerais, considera como transgressão disciplinar o militar da ativa que participe de firma comercial ou de empresa industrial de qualquer natureza, ou nelas exerça função ou emprego remunerado."

Ouvido ontem na CPI da COVID no Senado, Dominguetti se apresenta como representante da Davati Medical Supply, que afirma ter recebido um pedido de propina de pessoas ligadas ao governo federal para venda da vacina contra a COVID-19 produzida pela AstraZeneca. A empresa Davati Medical Supply teria buscado o Ministério da Saúde para negociar 400 milhões de doses do imunizante com proposta inicial de US$ 3,5 por cada uma – depois disso, passou para US$ 15,5. O encontro para as negociações ocorreu em um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, Região Central da capital federal, em 25 de fevereiro.

Dominguetti disse que o diretor de Logística do Ministério, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina durante o jantar. “O caminho do que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias foi uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa”, disse Dominguetti. Ferreira Dias foi exonerado do ministério depois da denúncia.


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