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Estado de Minas Negacionista

A ida de Bolsonaro a ONU em meio à pandemia do Coronavírus

Presidente tende a enfrentar relatório com críticas à postura na pandemia e cobranças sobre a preservação da Amazônia. Discurso deve ignorar ataque e destacar 'avanços'


14/09/2020 04:00 - atualizado 14/09/2020 07:10

Líder brasileiro vai discursar na 75ª Assembleia Geral no dia 22 com participação virtual: foco no auxílio emergencial e no combate aos crimes ambientais (foto: Evaristo Sá/AFP %u2013 19/8/20)
Líder brasileiro vai discursar na 75ª Assembleia Geral no dia 22 com participação virtual: foco no auxílio emergencial e no combate aos crimes ambientais (foto: Evaristo Sá/AFP %u2013 19/8/20)

A Organização das Nações Unidas (ONU) dará início nesta semana à 75ª sessão da Assembleia Geral entre presidentes e chefes de Estado e a tendência é de um ambiente hostil para o presidente Jair Bolsonaro. Além da questão ambiental na Amazônia, com a pandemia da COVID-19 ainda sem controle no Brasil – os números da doença no país ficam atrás apenas dos registrados nos Estados Unidos e na Índia –, ele deve ser bastante cobrado diante dos mais de 4,2 milhões de brasileiros infectados e pelas mais de 130 mil pessoas que tiveram a vida interrompida por conta do novo coronavírus.
 
A forma como Bolsonaro se portou diante da crise de saúde, minimizando a importância das recomendações de autoridades sanitárias para conter a proliferação do vírus – como a utilização de máscaras faciais e o distanciamento social –,  influenciou um documento produzido pelo relator especial da ONU sobre direitos humanos e substâncias e resíduos tóxicos, Baskut Tuncak, que deve ser apresentado no decorrer das duas semanas de duração do evento.

 

Em vez de seguir os conselhos científicos para adotar medidas mais rigorosas de teste e contenção, certos líderes do governo apresentaram argumentos desonestos em apoio a suas abordagens, particularmente a justificação econômica de não impor um confinamento, sacrificando efetivamente a vida de seus cidadãos, em particular comunidades de baixa renda e minorias, trabalhadores e pessoas idosas

Baskut Tuncak, relator especial da ONU para Direitos Humanos e Resíduos Tóxicos



No texto, Tuncak não cita o nome do presidente do Brasil, mas condena que alguns líderes políticos “chegaram ao ponto de tratar o vírus como uma gripezinha” e critica que eles “rejeitaram publicamente recomendações de cientistas e da OMS (Organização Mundial da Saúde), espalharam informações errôneas e minimizaram o risco, contribuindo para a subestimação da pandemia”. O relator especial ainda reclama que alguns governos citaram “covardemente a incerteza científica e narrativas financeiras incompletas para atrasar a tomada de medidas que são desfavoráveis a interesses poderosos”.

 

O governo fez tudo para que os efeitos negativos da mesma fossem minimizados, quer seja com o auxílio emergencial que atingiu 65 milhões de pessoas no Brasil, quer seja com estímulos a pequenas e microempresas com créditos, investindo também massivamente na questão de meios e recursos para que governadores e prefeitos não faltassem junto à saúde como atender aos possíveis infectados

Jair Bolsonaro, presidente ao visitar obra na Bahia



“Em vez de seguir os conselhos científicos para adotar medidas mais rigorosas de teste e contenção, certos líderes do governo apresentaram argumentos desonestos em apoio a suas abordagens, particularmente a justificação econômica de não impor um confinamento, sacrificando efetivamente a vida de seus cidadãos, em particular comunidades de baixa renda e minorias, trabalhadores e pessoas idosas”, escreveu Tuncak no relatório, que teve trechos divulgados pelo portal UOL.

Resposta


A primeira ponderação de Bolsonaro na Assembleia Geral será no dia 22, uma semana após a solenidade de abertura do evento. Como manda o costume, o mandatário brasileiro vai abrir os discursos entre as autoridades internacionais. Por conta da pandemia, o chefe do Palácio do Planalto e outros presidentes vão participar do evento deste ano de forma virtual, e não na sede da ONU, que fica em Nova York. A possibilidade é de que apenas o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, compareça pessoalmente.
 
Assim como tem dito em transmissões ao vivo na internet pelas suas redes sociais e em alguns eventos públicos, o presidente deve se abster das colocações de Tuncak e repetir na ONU o discurso de que nenhum país no mundo enfrentou a pandemia da COVID-19 melhor que o Brasil.

O argumento do chefe do Executivo será o de que o governo federal criou uma grande camada de proteção social com o auxílio emergencial, que na visão do Planalto impediu a economia nacional de ser ainda mais fragilizada por conta do surto do novo coronavírus. Na última sexta-feira, por exemplo, Bolsonaro chegou a declarar que “estamos praticamente vencendo a pandemia”.
 
“O governo fez tudo para que os efeitos negativos da mesma fossem minimizados, quer seja com o auxílio emergencial que atingiu 65 milhões de pessoas no Brasil, quer seja com estímulos a pequeno e microempresas com créditos, investindo também massivamente na questão de meios e recursos para que governadores e prefeitos não faltassem junto à saúde como atender aos possíveis infectados”, afirmou, em visita a São Desidério (BA).

Amazônia


Outra parte do discurso de Bolsonaro vai focar na resposta às críticas que o governo tem sofrido por conta dos índices de queimadas na Floresta Amazônica. Segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do início de 2020 até 10 de setembro foram mapeados 57.823 focos de incêndio na região, 6% a mais do que o registrado no mesmo intervalo de 2019 (54.278). A estatística é a maior para o período desde 2010.
 
Organizações não-governamentais que defendem questões ambientais constantemente condenam o presidente, alegando descuido da sua gestão no combate à degradação da Amazônia. Recentemente, até foi lançada uma campanha mundial intitulada “Defund Bolsonaro”, que sugere o corte de financiamento ao presidente do Brasil.
 
Os idealizadores alertam para a destruição da Amazônia e tentam conscientizar empresas, investidores, consumidores e líderes globais a se afastar do governo brasileiro, que seria o principal responsável pela devastação da maior floresta tropical do mundo.
 
Bolsonaro planeja uma retaliação às ONGs internacionais que atacam o governo – em algumas oportunidades, o chefe do Executivo já as classificou como um “câncer que não consegue matar”. Na sua fala, o presidente deve dizer que tem tolerância zero com a ocorrência de crimes ambientais na Amazônia e afirmar que está comprometido com a sustentabilidade da floresta.

Visão positiva De acordo com alguns especialistas, o provável é que Bolsonaro tente “levantar a bola” da sua gestão, a despeito da imagem ruim que o Brasil tem atualmente no exterior, sobretudo por causa da Amazônia. “É na linha do que ele falou ano passado. Que entende a importância da Amazônia para o mundo e que toda ajuda e colaboração internacional são bem-vindas e deixar claro que seu governo está comprometido com a agenda ambiental internacional”, pontua a professora de direito internacional da Universidade de São Paulo (USP), Maristela Basso.
 
O analista político e especialista em relações exteriores Ricardo Mendes acrescenta que o discurso do presidente “estará alinhado com o que o vice-presidente Hamilton Mourão tem falado, de que o Brasil herdou um problema e que está fazendo o que pode, chamando embaixadores para conhecerem a Amazônia mais profundamente”. “Vai pegar os dados e transformar em um discurso positivo em relação a esse tema”, diz.

“Bolsonaro vai defender um pouco da narrativa que Mourão e Ricardo Salles (ministro do Meio Ambiente) vêm falando. Será uma contra narrativa de que o país tem dado exemplo do ponto de vista ambiental e que a mídia foca no negativo”, completa o consultor de análise política da BMJ, Lucas Fernandes.





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