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Estado de Minas Entrevista/Rodrigo Maia

Entrevista exclusiva: 'Chegou a hora de modernizar o Estado', afirma Rodrigo Maia

Próximo de encerrar o mandato como presidente da Câmara, Rodrigo Maia faz um balanço do trabalho à frente do Parlamento e nega a intenção de se candidatar


30/08/2020 04:00 - atualizado 30/08/2020 07:19

'Tenho o maior orgulho de presidir a Câmara. Mas entendo, também, que a alternância de poder, mudança de ciclos, de nomes, também ajuda a atrair, a agregar novas ideias, nova forma de pensar e de liderar a Câmara' (foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)
'Tenho o maior orgulho de presidir a Câmara. Mas entendo, também, que a alternância de poder, mudança de ciclos, de nomes, também ajuda a atrair, a agregar novas ideias, nova forma de pensar e de liderar a Câmara' (foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)
Nos últimos meses como presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) trabalha para deixar a função maior do que quando a assumiu. E as circunstâncias têm colaborado. O governo federal tentou dobrá-lo e diminuí-lo ao fechar acordo com o Centrão, rachar o bloco e debater uma candidatura adiantada. Não conseguiu.

Pouco depois, ainda precisou de Maia para mobilizar a Câmara e manter o Veto Número 17 de 2020, sobre o trecho da Lei Complementar 173/2020. Ao defender a manutenção na tribuna, ele fez questão de lembrar os ataques que sofreu da equipe econômica pela postura no combate à pandemia de coronavírus.

Maia nega que pretenda se candidatar uma quarta vez, e afirma que os nomes que tem em mente são os já aventados. Entre eles, Baleia Rossi (MDB-SP) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Em entrevista exclusiva aos Diários Associados, o parlamentar falou dos planos futuros, de como trabalhará a partir de fevereiro e, também, da situação do Rio de Janeiro, cujo governador, Wilson Witzel, foi afastado pelo STJ por suspeita de envolvimento em um esquema de desvio de verba na saúde em plena pandemia.

“Acho que a questão do Rio é grave. Chegou em um ponto em que a gente deveria unir esforços pela recuperação do Rio. É uma região com muitas riquezas e belezas e acho que estava na hora de aqueles que têm responsabilidade, no setor público e no setor privado, unirem esforços pra gente construir uma saída para o nosso estado”, afirmou.

O que quer Rodrigo Maia?
(Risos) Eu cheguei à conclusão de que nós temos a obrigação de reformar e de modernizar aquilo que foi construído com muita boa intenção de todos, mas que, infelizmente, se revelou depois de 30 anos da nova Constituição um Estado que acabou atendendo apenas, ou priorizando, concentrando força, poder e recursos em uma elite. Na elite do poder público, na elite do setor privado, e acho que chegou a hora da gente conseguir modernizar o Estado. Criar um Estado que preste serviços de qualidade. Não estou discutindo se pequeno ou grande. Estou discutindo serviços de qualidade, e quem decide o tamanho do Estado é a sociedade.

O que incluiria essas reformas para construir um Estado eficiente e moderno?
Nós aprovamos o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), foi uma decisão de priorizar a educação pública. Então, temos que conseguir recurso para isso. É um exemplo. E modernizar e melhorar a qualidade do ensino público, para que não fique essa diferença tão grande entre o público e o privado. Então, eu acho que o grande desafio é, respeitando aquilo que foi construído, claro que essas peças foram construídas com boa intenção, mas, infelizmente, nós hoje temos um sistema tributário que beneficia quem tem mais. Tínhamos uma Previdência que beneficiava quem tinha mais. Temos uma administração pública que beneficia uma elite do serviço público, concentrando renda nos três poderes. Temos um comércio fechado, que beneficia empresas, muitas vezes, ineficientes. E R$ 350 bilhões de subsídios, muitas vezes para setores que não merecem e não precisam desses recursos. Deveriam estar indo para a melhoria da qualidade do serviço público. O que eu quero é poder colaborar com essas mudanças, com essas reformas, que vão levar a um Estado moderno, que de fato tem o objetivo de reduzir desigualdade. Hoje, a gente vê, olhando os números, vemos que impostos mais transferências na União Europeia reduzem as desigualdades em 40%. Dados do BID. Na América Latina, 4%. No Brasil, 8%. Então, mostra a desigualdade que é o Estado. E o Estado existe exatamente para gerar o mínimo de equilíbrio nas relações e igualdade de oportunidade para todos os brasileiros. Acho que esse é grande o desafio. É disso que eu quero participar.

O senhor não sente uma certa pena de pensar que, talvez, deixando a presidência da Câmara, essas ideias possam ganhar uma prioridade diferente com um próximo presidente?
Acho que não. Acho que o Parlamento, que representa a sociedade brasileira, de forma majoritária defende essa minha visão de um Estado moderno, que reduz a desigualdade, que garanta serviços de qualidade e que garanta segurança jurídica e competitividade para o setor privado voltar a investir e gerar emprego no Brasil. Tenho certeza de que, se a sociedade pensa majoritariamente assim, e isso está representado no Parlamento, o próximo presidente eu tenho convicção de que, independentemente de quem seja, vai manter essa pauta de modernização do Estado brasileiro.

O senhor falaria em nomes?
Não tem muitos nomes. Acho que todos os nomes colocados são ótimos nomes. E o importante é construir um que possa unificar a Câmara como de alguma forma eu consegui nos últimos anos.

Quais são seus planos após a presidência da Câmara?
Por enquanto, meus planos são conseguir aprovar projetos relevantes até o fim do ano para que a gente ajude o Brasil neste momento pós-pandemia que é depois da minha presidência. Então, é importante que a gente fique focado nisso, e a partir de 2 de fevereiro, a gente pense em como atuar na Câmara.

O senhor pensa em seguir atuando em pautas econômicas?
Acho que é aproveitar a experiência que eu acumulei esses anos para ajudar na continuação dessa pauta de modernização do Estado brasileiro.

O senhor vem sendo importunado há alguns meses com perguntas sobre a reeleição à presidência da Câmara. Como o senhor vê essa questão?
Tenho o maior orgulho de presidir a Câmara. Mas entendo, também, que a alternância de poder, mudança de ciclos, de nomes, também ajuda a atrair, a agregar novas ideias, nova forma de pensar e de liderar a Câmara. Acho que tenho cumprido bem o meu papel, de forma republicana, defendendo o que eu acredito. Aliás, já venho fazendo isso há muito tempo. No governo Dilma, o DEM, às vezes, brigava comigo porque eu votava junto com o governo matérias econômicas que considerava importantes para o Brasil, e mantive a mesma postura à frente da presidência da Câmara e a partir de fevereiro, eu, fora da presidência, vou continuar a defender aquilo que acredito, que eu defendo. É assim que eu acho que colaboro com o Parlamento e com o país. Acredito que eu já passei um bom período dentro da presidência. Acho que está na hora de escolher um novo nome, que possa agregar novas ideias e um novo debate para a Câmara dos Deputados.

O senhor tem uma trajetória que começa cedo na política. Veio para a Câmara em 1999. Posteriormente, o senhor se torna o presidente da Câmara, o único no país a presidir a Câmara três vezes seguidas, sendo a primeira no fim do mandato de Eduardo Cunha (MDB-RJ).
O primeiro na história não. O primeiro desde a redemocratização. A reeleição foi proibida em 1968 ou 1969, quando o Zezinho Andrada, avô do Lafayette Andrada, foi eleito como candidato avulso da Arena e a ditadura proibiu a eleição. Dali pra frente, é a primeira vez que alguém tenha presidido por três mandatos, mesmo que o primeiro tenha sido menor.

Queria que o senhor resumisse quais são os pontos na sua vida que o senhor acredita que o levaram à presidência da Câmara e essa trajetória que o senhor vem construindo como presidente.
Acho que foi a construção de um perfil de ouvir muito, de dialogar, e tentar construir consensos, desde lá de trás, na liderança do partido, depois na presidência. Acho que esse perfil fui construindo e, quando assumi a presidência, ele se mostrou, pra esse momento, adequado para presidir a Câmara dos Deputados.

Seus colegas dizem que o senhor passou a ler muito nos últimos tempos. O que o senhor tem lido?
Leio muita coisa. Muitos textos. Estou lendo o livro que a deputada Fernanda (Melchionna) do Psol me emprestou, Sobre a China, do Henry Kissinger. Retomei a leitura de um livro sobre a dona Leopoldina, que é uma grande mulher. E também tenho na minha cabeceira um livro do Benjamin Constant, o franco-suíço. São os princípios para todos os tipos de governo que é um clássico liberal, que é muito importante inclusive nesse momento, que traz princípios muito importantes para o sistema democrático, para a democracia. O que, como um clássico, nos ajuda a refletir sobre tudo que viemos passando no Brasil nos últimos anos.

O senhor é deputado pelo Rio de Janeiro. Como vê a situação do estado? Como acha que esse imbróglio deveria se desenrolar?
Acho que a questão do Rio é grave. Chegou em um ponto em que a gente deveria unir esforços pela recuperação do Rio. O Rio tem uma importância enorme para o Brasil. Para nossa economia. Para a cultura do Brasil. O Rio é muito importante e essas sequências de crise tiram a autoestima do carioca, tiram o interesse do investidor no Rio, na cidade e no estado. É uma região com muitas riquezas e belezas e acho que estava na hora de aqueles que têm responsabilidade, no setor público e no setor privado, unirem esforços pra gente construir uma saída para o nosso estado.

Como o senhor vê o período que vivemos, talvez o mais conturbado politicamente desde a redemocratização?
É uma mudança de ciclo para a sociedade em 2018, rejeitando a política. Elegeu um político, mas que representava essa crítica da sociedade. Esse ciclo trouxe, revelou, devolveu espaço para um grupo que é minoritário dentro dos que acompanharam o presidente (da República), mas que é muito forte nas redes sociais, que é esse o grupo mais de extrema-direita, que acabou gerando, mais no ano passado e no início da pandemia, muita instabilidade política. Mas acho que nos últimos meses, tanto pelas decisões do Congresso, do Supremo e da própria postura do presidente, eles foram perdendo espaço e a gente voltou a ter as condições, através do diálogo, de tentar construir os caminhos daqui pra frente, para esse final de pandemia e para o pós-pandemia, que vamos ter ainda muitos desafios. O número de desempregados vai crescer muito, o de desalentados também, e a economia brasileira já com muita dificuldade. Então, essa retomada de um ambiente de diálogo vai ser um momento importante para que a gente possa reconstruir os caminhos da retomada no pós-pandemia, e principalmente de uma retomada de um crescimento mais sustentável que possa reduzir desigualdades e voltar a gerar empregos no país.



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