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Estado de Minas

Reunião do G20 termina com saldo positivo para Bolsonaro

Encontro começou com o presidente irritado com prisão de militar e acabou com ele festejando acerto com a UE


postado em 30/06/2019 07:00 / atualizado em 30/06/2019 07:39

Na foto oficial, Bolsonaro ficou entre Macron e Merkel, com os quais se reuniu (foto: Dominique Jacovides/AFP)
Na foto oficial, Bolsonaro ficou entre Macron e Merkel, com os quais se reuniu (foto: Dominique Jacovides/AFP)
Osaka – Um encontro que, para o governo brasileiro, começou de maneira constrangedora terminou com o sucesso do acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. O anúncio das negociações entre os dois grupos interferiu no humor do presidente Jair Bolsonaro, que, na quinta-feira, chegou à cúpula do G20, no Japão, irritado com a imprensa e, ontem, embarcou de volta para Brasília com um trunfo reconhecido até mesmo por autoridades internacionais.

O motivo da irritação no início da viagem de Bolsonaro tinha nome e sobrenome: Manoel Rodrigues, segundo sargento da Aeronáutica, preso com 39  quilos de cocaína apreendidos dentro de um avião de apoio à comitiva do presidente. O mau humor do presidente se refletiu na primeira coletiva em solo japonês, armada no lobby do hotel onde ele ficou hospedado. Três dias depois, Bolsonaro, diante do resultado do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, era outro personagem, talvez mais próximo do piadista descompromissado com o politicamente correto.

O papel de Bolsonaro foi elogiado por Cecilia Malmström, comissária europeia para o Comércio. Segundo ela, as negociações – que duraram 20 anos e foram iniciadas no Rio de Janeiro –, ganharam outro ritmo depois da posse presidencial, em janeiro deste ano. Não é que o acordo estivesse travado durante todo esse tempo, até pela complexidade dos temas e dos produtos envolvidos. Mas é inquestionável a velocidade da amarração das pontas ao longo dos últimos meses, considerando o pacote apresentado em Bruxelas e comemorado em Osaka por latino-americanos e europeus.

Eleições O presidente argentino, Mauricio Macri, durante o pronunciamento conjunto dos líderes dos dois blocos e do presidente, Jean-Claude Juncker, ressaltou o comprometimento dos atuais chefes de governo com o acordo. “São líderes com boa vontade para as transformações”, disse ele na madrugada de ontem (horário de Brasília). Macri, ao citar o Brasil, disse que as negociações facilitam a atuação de empresas e a vinda de investimentos para a região, considerando desafios como o fluxo migratório e a pobreza. “No atual momento de tão poucas boas notícias, temos algo para apresentar.”

Se para Macri – candidato à reeleição em outubro numa disputa dura com o grupo de Cristina Kirchener – o acordo Mercosul e União Europeia é uma “boa notícia”, o mesmo pode ser dito em relação a Bolsonaro. Logo que as negociações foram fechadas, o presidente brasileiro correu para o Twitter e marcou posição: “Prometi que faria comércio com todo o mundo, sem viés ideológico. Não foi retórica vazia de campanha, típica da velha política. É pra valer! Estou cumprindo mais essa promessa, que renderá frutos num futuro próximo. Vamos abrir nossa economia e mudar o Brasil pra melhor”.

Com a economia travada e a alta resistência das taxas de desemprego, o governo Bolsonaro tem de certa maneira vivido das expectativas do mercado com a virtual aprovação da reforma da Previdência. Os resultados positivos na bolsa de valores são a parte evidente das apostas quase certas na vitória do texto com a mudança nas regras de aposentadoria, mesmo que a economia de R$ 1 trilhão esteja longe de se confirmar. Entre as pastas do governo, a mais efetiva até agora é a da Infraestrutura, comandada por Tarcísio Gomes de Freitas. Outras são colocadas em xeque, como a da Educação, chefiada por Abraham Weintraub, e das Relações Exteriores, de Ernesto Araújo.

Cotações Bolsonaro percebeu a necessidade de reforçar a equipe de governo e fez questão, tanto nas redes sociais como na entrevista coletiva à imprensa no sábado, de citar os ministros mais envolvidos no acordo, entre eles Ernesto Araújo. “Parabenizo também os ministros Paulo Guedes e Tereza Cristina (Agricultura)”, escreveu ele, no Twitter. Depois, aos jornalistas, lembrou o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que, segundo o presidente, foi responsável pelas negociações envolvendo vinho e produtos derivados do leite. Lorenzoni está sob fogo cruzado nas negociações da reforma da Previdência e, de certa forma, tem visto o poder esvaziado nos últimos tempos.

Para além do acordo Mercosul e União Europeia, a participação de Bolsonaro no G20 teve um momento importante representado pelo encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O brasileiro fez mais uma vez uma ponte direta com o republicano, rasgando elogios ao norte-americano e acabou recebendo afagos. Bolsonaro foi o porta-voz de uma possível visita de Trump à Argentina no próximo mês, o que pode representar uma reunião com os chefes latinos de centro-direita. “Graças a Deus a América Latina está deixando de ser de esquerda para ser de centro-direita e até mesmo de direita.”

A ponte com a China, por sua vez, acabou interrompida nos minutos finais do G20, depois do cancelamento do encontro bilateral com Xi Jinping. Um atraso na agenda do líder chinês acabou inviabilizando a reunião, desmarcada pelo governo brasileiro. Com integrantes do governo divididos sobre o avanço dos negócios com o país asiático, a ausência da conversa foi pelo menos simbólica, considerando a antipatia dos gurus palacianos do escritor Olavo de Carvalho com o regime de Jinping. O problema é que o próprio Trump, espelho da ala conservadora, fez um movimento forte com a China ao longo da cúpula, retomando as negociações comerciais.

O saldo para Bolsonaro, porém, foi positivo. O presidente saiu bem maior do que entrou na cúpula de Osaka. A ponto de falar com tranquilidade sobre o episódio da apreensão de drogas no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) na Espanha, algo que havia se recusado a comentar na terça-feira ao desembarcar. “Aquele elemento ali traiu a confiança dos demais. Traiu a confiança, sim. Olha, pena que não foi na Indonésia. Eu queria que tivesse sido na Indonésia, tá ok? Ele ia ter o destino que o Archer teve no passado.” Em 2015, o brasileiro Marco Acher foi executado na Indonésia por tráfico de drogas. Bolsonaro estava tão mais tranquilo que voltou a desempenhar o papel de Bolsonaro.


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