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Estado de Minas

Alta de rejeição de candidatos faz campanha de rua virar desafio

A cinco dias do início do horário eleitoral no rádio e na TV, candidatos dedicam boa parte do tempo ao corpo-a-corpo com eleitores


postado em 27/08/2018 06:00 / atualizado em 27/08/2018 07:51

Fernando Haddad em campanha: substituição do nome do candidato do PT e início da propaganda eleitoral no rádio na TV podem dar novo rumo à disputa (foto: Ricardo Stuckert)
Fernando Haddad em campanha: substituição do nome do candidato do PT e início da propaganda eleitoral no rádio na TV podem dar novo rumo à disputa (foto: Ricardo Stuckert)

Salvador – Às 9h20 da última sexta-feira, Etelvino Neto, de 62 anos, organizava informalmente o trânsito de veículos na minúscula e principal rua de Periperi, um bairro sem maiores atrações na periferia da capital baiana.

Em mais alguns minutos, o candidato ao governo da Bahia Zé Ronaldo e o prefeito ACM Netto, ambos do DEM, chegariam para uma caminhada de pouco mais de 500 metros na região. Etelvino estava ali havia pelo três horas. Responsável pela segurança do evento daquela manhã de sol inclemente, ele trabalha com campanhas desde que se entende por gente.

“Você pode ter a melhor equipe na internet, mas é no corpo a corpo que a eleição ganha vida”, afirma o homem, que diz ser contrato pelo DEM para a tarefa de estudar as vias e fazer com que o cortejo tenha começo, meio e fim.

Na próxima sexta-feira, começa a campanha no rádio e televisão. Apesar da força das redes sociais, a eleição presidencial, que vinha se mantendo até aqui sem maiores novidades, tende a reviravoltas. Primeiro, pela força da política dos programas de TV, que passam a entrar nas casas das pessoas todos os dias.

Depois, porque será o período de definição do ex-prefeito Fernando Haddad como substituto de Luiz Inácio Lula da Silva na chapa petista. Uma ação de campanha, porém, não mudará: a peregrinação de candidatos atrás de votos, por mais que o período de rádio e televisão seja curto, pouco mais de um mês até o primeiro turno, em 7 de outubro.

“O jeito de fazer campanha é o mesmo há tempos e vai continuar assim. Ou o político olha no olho do eleitor ou está perdido, não tem marqueteiro que salve”, disse Zé Ronaldo, o candidato ao Palácio de Ondina, que tem todas as dificuldades no embate com o petista Rui Costa, governador da Bahia. As pesquisas até agora mostram que o político apoiado por Lula no estado pode levar a eleição ainda no primeiro turno.

A campanha de Ronaldo, entretanto, aposta na mudança de cenário a partir da entrada da TV na eleição. Enquanto isso, a equipe do político aproveita eventos como o da última sexta-feira para garantir imagens para exibir no programa eleitoral.

O mesmo vem sendo feito pelo outros candidatos ao governo e ao Palácio do Planalto. Haddad gravou cenas ao lado de militantes logo depois de registrar a candidatura de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

DESCRÉDITO

As campanhas nas ruas, na TV e nas redes sociais enfrentam um problema comum: o desgaste e a rejeição dos políticos em todos os estratos eleitorais. A solução é tão complexa que desbanca marqueteiros e assessores de campanha. É basta apenas dar uma rápida olhada na pesquisa do Instituto Opinião Política, encomendada com exclusividade pelo Correio Braziliense e publicada na semana passada.

O levantamento revela que todos os candidatos ao Palácio do Buriti têm percentual de rejeição acima de 50%. Os percentuais se repetem nas disputas pelo Planalto e no Congresso, neste caso agravada pela imagem negativa ao longo dos tempos – as duas casas legislativas apenas pioram em matéria de representação e pautas corporativas.

Os números de rejeição comprovam a dificuldade de engajamento de militantes, fechando portas para a mobilização em caminhadas e carreatas espontâneas a favor de candidatos. Isso sem contar com a viralização de vídeos fakes ou de imagens provocativas a partir das imagens de rua gravadas pelos políticos.

“A eleição mudou, os políticos estão desacreditados. Apesar da necessidade do corpo a corpo, tem muita gente que só faz as coisas em troca de alguma coisa”, avalia o segurança Neto, do alto das “não sei quantas” campanhas que participou.

Ainda na concentração do evento em Periperi, a dona de casa Ana Oliveira, de 31, puxa conversa com a reportagem. “Você conhece esse pessoal, não é? Meu marido está desempregado há três anos, e aí como faz?”.

Ao descobrir que o interlocutor é um repórter que não tem relação com a equipe dos políticos, ela dá de ombros e se perde em meio aos populares. Para uma sexta-feira de manhã, havia um número razoável de mulheres e homens – cerca de 300 pessoas – convocados por quatro candidatos a deputado federal e estadual.

Desgaste causado por escândalos


A partir da análise comparativa entre as eleições brasileiras e norte-americanas, o cientista político Lucas de Aragão avalia que artificialidade dos engajamentos daqui está ligada ao desgaste provocado pelos escândalos.

“Mas não dá para culpar todos os políticos e marqueteiros pela dificuldade de voos maiores do político. A rejeição da classe é geral”, afirma.

“O engajamento nos EUA tanto dos democratas quanto dos republicanos é algo que estamos distantes. Dificilmente, chegaremos a um envolvimento dos eleitores como o conquistado por Barack Obama nas redes sociais durante as duas campanhas do democrata.”

Segundo Aragão, a construção do político ocorre de maneira tradicional, a partir de boas avaliações da população e escolhas corretas dos partidos. Não é à toa que o índice de renovação do Congresso deve ser alto – há poucas opções para o eleitor.

A campanha fica tão manjada em determinados momentos que até parece fácil prever o próximo lance de um marqueteiro. Vide o caso do tucano Geraldo Alckmin, que passou a andar de mãos dadas com a mulher, dona Lu.

Ou mesmo a aposta de risco dos petistas em inflar a candidatura de Haddad com pouco mais de um mês de programa eleitoral no rádio e na TV. A única aposta dos políticos é que, com todas as novas regras eleitorais – incluindo a proibição de financiamento privado – alguma surpresa apareça no dia da contagem de votos.

É a estratégia de se agarrar ao imponderável.


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