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Estado de Minas

Especialistas: crise, violência e corrupção abastecem onda conservadora

Pontos negativos fortalecem sentimento de mudança radical no país e abrem espaço a candidatos de frentes como a evangélica, a da bala e a rural


postado em 05/06/2018 09:34

Manifestações em vários pontos do país, durante paralisação de caminhoneiros, pediam intervenção militar para estancar os problemas (foto: Luis Nova/Esp. CB/D.A Press)
Manifestações em vários pontos do país, durante paralisação de caminhoneiros, pediam intervenção militar para estancar os problemas (foto: Luis Nova/Esp. CB/D.A Press)

O pensamento conservador ganha força no Brasil. A onda está se disseminando pelas ruas e ganhou eco em manifestações de apoio à intervenção militar. Embora a defesa de um regime liderado pelas Forças Armadas não encontre respaldo na própria cúpula do poder militar, especialistas avaliam que a tendência é de que o movimento fortaleça frentes parlamentares que atualmente dominam o Congresso Nacional, como a evangélica, a da segurança pública e da agropecuária, também conhecidas como bancadas da bala e ruralista. Atualmente, os integrantes das três respondem por cerca de 70% dos 513 deputados da Câmara.

A greve dos caminhoneiros foi o empurrão que faltava para levar brasileiros defensores do regime militar às ruas. Faixas com frases como “intervenção militar, buzine” foram estampadas em veículos parados no estacionamento do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, e nas estradas, durante os dias de paralisação. Para o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esse movimento está associado ao desejo de ter problemas facilmente resolvidos. Essas pessoas acreditam que a presença dos militares seria capaz de melhorar educação, saúde, segurança pública no país, além de garantir o combate à corrupção.

“Eles (intervencionistas) têm a ideia mágica, pelo que eu já pude conversar com alguns deles, de que a intervenção militar resolve tudo. Eles não têm um projeto, mas consideram que uma base militar seria capaz de amenizar a angústia que sentiram nos últimos dias”, disse Baía. O que começou com uma greve por redução de impostos e do preço do óleo diesel, encontrou ressonância no desejo de mudança radical de alguns grupos, e o discurso contra corrupção voltou ao centro dos discursos.

Embora o professor da UFRJ avalie os pedidos por intervenção militar como uma onda com ideologias mais restritas que o movimento conservador, ele não descarta que os anseios de intervencionistas desaguarão em votos para candidatos conservadores, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pré-candidato à Presidência da República. O apelo pelo ex-militar também tende a favorecer candidaturas de aliados do parlamentar, em um efeito cascata. “As bancadas da bala, ruralista e evangélica têm um lastro social e certamente vão crescer em outubro, com esses votos e outros”, ponderou.

O crescimento da onda conservadora não é um fenômeno recente, mas ganhou força desde o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e dos escândalos de corrupção desbaratados pela Operação Lava-Jato, avalia o sociólogo e cientista político Alessandro Farage, coordenador da Instituto RioTech. “O brasileiro teve várias experiências traumáticas nos últimos anos. Uma crise econômica que elevou o desemprego e intensificou problemas de segurança pública, com ampliação de violência e crimes. Tudo isso em um cenário em que a esquerda ficou muito queimada pela forma como o PT saiu do poder, mas também pelo descrédito dos demais partidos”, analisou.

Posição privilegiada

 
A defesa da segurança e o discurso contra a corrupção ganharam o centro das atenções no discurso conservador. Por esse motivo, militares da reserva, policiais militares e trabalhadores ligados a essas categorias ganham posição privilegiada na pauta eleitoral, sobretudo candidatos mais personalistas, que apoiam agendas próprias, e não do partido. “Ficou mais fácil para um político que não é identificado com uma legenda passar a ideia e imagem de honestidade”, ponderou o sociólogo e cientista político Fábio Metzger, professor da Uniesp.

Os evangélicos ganham eco em aspectos semelhantes, principalmente em eleitores que identificam a necessidade de defender assuntos ligados a questões morais e costumes, pondera o especialista.

Para o coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, deputado Alberto Fraga (DEM-DF),  houve um enfraquecimento da esquerda. “A esquerda mergulhou o país na insegurança pública, na desmoralização e na inversão total dos valores. Tudo isso serve de bandeira para o crescimento de outras bancadas”, avaliou.


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