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Estado de Minas

Orçamento deixa 51% de cidades sem verba de emenda parlamentar

Se o Orçamento impositivo estivesse valendo, mais da metade das cidades ficariam sem os recursos das emendas parlamentares


postado em 09/09/2013 08:31 / atualizado em 09/09/2013 08:43

São Paulo - As cidades de Frei Paulo e Campo do Britto, interior de Sergipe, ficam a menos de 30 km uma da outra. Ambas têm 15 mil habitantes e economia baseada na agricultura, na pecuária e no comércio. A primeira exibe em suas ruas várias placas de investimentos federais. Já a segunda comemora quando consegue pagar os funcionários em dia.

A distorção tem explicação. Nos últimos três anos, Frei Paulo foi alvo de 20 emendas parlamentares federais. Campo do Britto, de nenhuma. Essa distorção seria maior ainda se todos os recursos fossem de fato liberados pelo governo, algo que poderá ocorrer caso o projeto de Orçamento impositivo, que torna obrigatório o pagamento das emendas parlamentares, seja provado e passe a valer em 2014.

Levantamento do Estadão Dados com todas as 24.448 emendas apresentadas por deputados e senadores nos últimos três anos mostra que, se o Orçamento impositivo estivesse em vigor desde então, a totalidade dos repasses via emenda seria embolsada por menos da metade das prefeituras do País.

Dos 5.570 municípios brasileiros, 2.719 (49%) aparecem como beneficiários de emendas nos Orçamentos de 2011, 2012 e 2013. Os demais 2.851 (51%), sem “padrinhos” e com baixa influência política, foram desconsiderados pelos parlamentares.

Ou seja, se o Orçamento impositivo estivesse valendo, mais da metade das cidades ficariam sem os recursos das emendas, que nos últimos três anos totalizaram R$ 25,5 bilhões, sendo R$ 6,4 bilhões reservados para municípios e o restantes para programas nacionais, governos estaduais e organizações não-governamentais (ONGs).

O volume de recursos que os parlamentares vão controlar com o Orçamento impositivo não será nada desprezível. O valor do conjunto de suas emendas, segundo a proposta de emenda à Constituição que tramita no Congresso, será equivalente a 1% da receita corrente líquida da União (o total de impostos arrecadados menos as transferências obrigatórias) registrada no ano anterior.

Em 2013, a previsão do governo é que a receita líquida chegue a R$ 700 bilhões. Com isso, no ano eleitoral de 2014, o Congresso terá R$ 7 bilhões em emendas para liberar, caso o orçamento impositivo seja liberado. Cada deputado e senador contará com um “cheque” de R$ 12 milhões para atender a seus redutos eleitorais.

Distritalização

Em termos políticos, o Orçamento impositivo vai reforçar a tendência de distritalização do voto - eleitores apoiam o candidato de sua região na expectativa de que isso traga benefícios localizados.

Para alguns cientistas políticos, esse é um fator positivo, pois reforça os vínculos entre representante e representado. Para outros, existe o risco de que os deputados se transformem em “vereadores federais” ao priorizar seus redutos, deixando em segundo plano as questões nacionais e as que transcendem fronteiras.

Outro possível efeito será o aumento da taxa de reeleição dos parlamentares - os R$ 50 milhões para bancar obras ao longo de quatro anos funcionarão como financiamento público de campanha permanente.

As relações entre Executivo e Congresso também serão afetadas. É comum a liberação de recursos de emendas como moeda de troca por apoio político.

O governo costuma abrir os cofres quando precisa arregimentar votos para projetos que considera importantes. É comum que os parlamentares mais fiéis aos interesses do Palácio do Planalto tenham mais dinheiro de emendas liberado para a execução de obras.

Redistribuição

Em termos econômicos, o orçamento impositivo terá efeito redistributivo em nível nacional, ao mandar mais recursos para Estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Isso acontecerá porque estas regiões são superrepresentadas no Congresso - têm mais deputados e senadores por habitante que as mais ricas regiões Sudeste e Sul.

Em nível local, porém, o efeito será concentrador. As cidades maiores, que em geral são também as mais ricas, elegem mais representantes e são beneficiárias de mais emendas. As menores e mais pobres tendem a ficar em segundo plano.

Se o orçamento impositivo estivesse em vigor nos últimos três anos, o ranking de repasses, em valores absolutos, seria encabeçado por capitais e outros municípios com grande peso populacional e econômico.

Nas 100 primeiras posições, as cidades teriam população média de 680 mil habitantes. Na posição número 63, a sergipana Frei Paulo seria um dos raros “grotões” na lista dos 100 maiores beneficiários, com R$ 16 milhões em três anos.

Levando-se em conta os repasses per capita, cada habitante da cidade teria recebido o equivalente a R$ 1.150, o que a colocaria no topo do ranking. Não porque sua população seja mais necessitada de recursos federais, mas porque ela conta com bons padrinhos políticos.


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