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Estado de Minas

Hegemonia partidária na direção da UNE está na corda bamba

Apesar de mais de duas décadas de domínio absoluto, PCdoB vem, ao longo do tempo, perdendo representatividade na União Nacional dos Estudantes, que tem sido alvo de constantes críticas


postado em 22/07/2013 00:12 / atualizado em 22/07/2013 07:23

"A entidade não pertence, nem é comandada por nenhum partido e, sim, pelo conjunto dos estudantes universitários brasileiros", afirma a presidente da UNE, Virgínia Barros

 O PCdoB pode não ser o maior partido de esquerda no Brasil, mas dirige desde 1991 a principal entidade estudantil do Brasil, a União Nacional dos Estudantes (UNE). A pernambucana Virginia Barros, 27 anos, eleita em junho para a Presidência da UNE para o período de 2013 a 215, é a 10ª presidente consecutiva da entidade filiada ao PCdoB. Desde 1979, quando a UNE saiu da ilegalidade em que foi colocada pelo regime militar, o partido só não esteve no mais alto posto da organização estudantil entre 1987 e 1991, período em que foi comandada pelo PT. De lá para cá são mais de duas décadas de hegemonia absoluta.
Tanto tempo no poder não é sinônimo de unanimidade dentro do movimento estudantil. Pelo contrário. A UNE tem sido alvo de críticas constantes de juventudes partidárias das mais diversas correntes, da esquerda radical aos liberais. Até mesmo dentro do PT, segunda maior força no movimento estudantil, não faltam reclamações contra a gestão comunista.


A oposição ao campo que hoje dirige a UNE vem ganhando espaço nas últimas disputas e por pouco não conquistou na eleição de junho o segundo cargo mais importante na hierarquia da entidade, a tesouraria. O apoio ao PCdoB na entidade estudantil também caiu em relação à disputa anterior. Na eleição deste ano Virgínia Barros conquistou 68,3% dos votos dos delegados, proporção menor em relação a 2011, quando o também comunista Daniel Iliescu teve quase 76% de aprovação.
Um dos principais problemas apontados é a falta de democracia na gestão da entidade e o processo eleitoral. As eleições são feitas de maneira indireta. Os diretórios estudantis das universidades organizam as eleições para a escolha dos delegados, na proporção de um para cada mil votos, que terão direito a escolher a direção durante congresso.


“O modelo é bom, mas não é executado de maneira democrática. Dominada pelos integrantes do campo majoritário, a junta eleitoral aceita ou não os delegados que quiser e os critérios não são claros”, reclama Adriele Marlene Manjabosco, 20 anos, aluna do curso de serviço social da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e que compõe a atual diretoria da UNE. Ela fez parte do Campo Popular, uma das duas chapas de oposição que participaram da última disputa da entidade. “A UNE esteve presente de forma decisiva em lutas históricas brasileiras, mas hoje enfrenta uma crise de representatividade por causa de seu atrelamento ao governo federal e por causa do centralismo de sua gestão”, critica Adriele, filiada ao PT e integrante de um movimento chamado “Reconquistar a UNE”.


As eleições também são motivo de reclamação por parte do estudante Yuri Pires Rodrigues, 26 anos, aluno do curso de letras da Universidade de São Paulo. Filiado ao Partido Comunista Revolucionário (PCR), que tem forte presença no meio estudantil, ele afirma que na última disputa a data das eleições foi antecipada pela direção da UNE para dificultar a formação de chapas. “As eleições tradicionalmente são na segunda quinzena de julho, mas com a desculpa da Copa das Confederações elas foram adiantadas para o fim de maio, atrapalhando a eleição de delegados pelas chapas de oposição”, afirma Yuri, primeiro vice-presidente na atual gestão.


Segundo ele, a mudança do calendário foi votada em uma reunião da entidade, mas antes do resultado a direção já tinha confeccionado panfletos com a nova data. Para Yuri, a única forma de se contrapor ao poder do PCdoB seria a união em uma só chapa de todos os campos de oposição. “A gente até conseguiu superar algumas divergências e se unir na última disputa, por isso mesmo aumentamos nosso espaço na direção, mas ainda não foi suficiente”, destaca.


A disputa entre o campo de esquerda, segundo ele, tem enfraquecido a entidade e aberto brecha para partidos conservadores ocuparem espaços importantes dentro do movimento estudantil, principalmente nos diretórios centrais. “O que queremos é que a UNE faça mais enfrentamento para garantir conquistas para os estudantes. Não pode o governo federal dizer sim e a UNE, sim, senhor”, defende.


Questionada sobre a hegemonia do PCdoB no comando da UNE, Virgínia Barros afirmou, em entrevista por e-mail, que quem elege “a diretoria da UNE não é a força política A ou B, mas os estudantes” e que a entidade “não pertence, nem é comandada por nenhum partido e, sim, pelo conjunto dos estudantes universitários brasileiros”. Segundo ela, a atual diretoria reúne estudantes de diversos partidos e também sem filiação partidária. Em relação ao processo eleitoral, a presidente disse considerá-lo “o mais democrático entre o conjunto das entidades do movimento social brasileiro”. O regimento, de acordo com ela, é formulado e aprovado em um fórum da UNE composto por centenas de diretórios centrais dos estudantes, executivas de curso e uniões estaduais dos estudantes.


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