Brasília – Na festa marcada para recondução de Michel Temer à presidência do PMDB, a presidente Dilma Rousseff, convidada especial, foi ao limite do que poderia ir a 18 meses das eleições. Ao ressaltar a importância e lealdade do partido ao longo de seu primeiro mandato como presidente, ela praticamente selou a parceria PT e PMDB no ano que vem. “Encerro o meu discurso desejando vida longa a esta aliança”, declarou, após 45 minutos interrompidos por claques peemedebistas e gritos de ordem da militância. Em nenhum momento, entretanto, confirmou Temer como vice.
Antes mesmo do fim da convenção nacional, os peemedebistas repetiram o discurso que, naquele momento, seria impossível Dilma confirmar o nome do atual companheiro de chapa, inclusive por imposições da legislação eleitoral. “Mais seria impossível, seria quase uma indelicadeza, até porque ela não é candidata a presidente. Ela será candidata a presidente no ano que vem, a chapa se formará no ano que vem”, disse o próprio Temer. Para o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), a petista adotou uma prudência legal. “Seria um crime eleitoral se a presidente ou alguém citasse uma chapa para 2014. Falta um ano e meio ainda para as convenções partidárias”, afirmou.
A medida foi enxergada como uma forma de a cúpula peemedebista deixar as lideranças livres para as composições políticas que julgarem mais convenientes. O caso do Rio continua sendo o mais emblemático. Para tentar amenizar as divergências, a presidente afagou o governador Sérgio Cabral e o vice-governador Luiz Fernando Pezão, presentes ao evento. Pezão será o candidato do PMDB ao governo estadual e enfrentará, provavelmente, o petista Lindbergh Farias (PT-RJ), eleito senador há dois anos. Quando citou nominalmente a dupla de peemedebistas, a claque fluminense da legenda gritou, entusiasmada. “É união, é união. Com Dilma, Cabral e Pezão.”
Mesmo assim, foi lida na convenção a nota oficial do PMDB do Rio, assinada pelo presidente estadual, Jorge Picciani, e com ataques duros ao PT. “Todas as nossas lideranças e, sobretudo, nossa militância, apoiam Pezão. Sua candidatura é inegociável – não há hipótese de ele não ser candidato. Cabe ao PT que a desejada aliança se mantenha coesa, forte e uníssona. O PMDB não tem um projeto de poder, mas um projeto de Estado”, afirma o documento, lido pelo deputado federal Leonardo Picciani.
Coalizão
No plano federal, a lua de mel é inequívoca, embora o partido tenha anunciado a intenção de lançar candidatura própria em 2018. Dilma mostrou a importância, com exemplos nacionais e internacionais, da formação de coalizões para governar o país. “Vemos agora a situação da Itália, que não conseguiu formar uma coalizão de governo e enfrenta problemas e riscos de estabilidade política e institucional em um cenário econômico grave.” Recordou que, no Brasil, quase todos os governos eleitos após a redemocratização ampararam-se em coalizões partidárias. “O único presidente que não fez isso não conseguiu terminar o mandato”, afirmou, sem citar nominalmente o senador Fernando Collor (PTB-AL).
Para Temer, Dilma fez as referências elogiosas. “Ele é um político competente, sério e excelente negociador”. Disse ainda que o PMDB jamais faltou ao seu governo. “Ele não me ofereceu apenas apoio parlamentar. O PMDB me ajuda a governar, me deu o vice-presidente, Michel Temer, que divide comigo a responsabilidade pela condução do Brasil. Fazemos uma dobradinha que se completa e se complementa”, disse a presidente.
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Um dia depois do anúncio do pior resultado do Produto Interno Bruto (PIB) desde 2009 – 0,9% em 2012 – a presidente Dilma aproveitou a convenção do PMDB para atacar a oposição e assegurar que o governo não perdeu as rédeas da economia. Chamou os críticos de sua gestão de “mercadores do pessimismo” e ressaltou dados econômicos de seu governo, como a inflação sob controle e a queda na taxa de juros. “Torcer contra é o único recurso daqueles que não sabem agir a favor do Brasil”, atacou a presidente.