(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Formação e liberdade de expressão

Secretário de Cultura de BH discute a necessidade da educação e da prática da leitura para o desenvolvimento crítico e o pleno exercício da cultura e da cidadania


postado em 07/12/2018 05:06

(foto: Quinho)
(foto: Quinho)

 

A língua é matéria-prima para a comunicação, para as artes, para as ciências, atividades profissionais, etc. Em última instância, língua é tecnologia, emprego e oportunidade.

Sem o domínio do idioma, não é possível abrir as portas para o conhecimento e assegurar aos brasileiros a plena realização da condição humana. Ao contrário, reduzimos a níveis absurdos nossa capacidade de interpretar o mundo e de entender nosso tempo, e de com ele interagir de igual para igual.

Uma sociedade só se desenvolve e cresce pela crítica, pelo exercício do contraditório; depende da qualificação cultural de todos os cidadãos, indistintamente.

Somente pelo exercício da crítica poderemos formar uma sociedade de cidadãos capazes de processar e lidar com as informações que lhes rodeiam no mundo contemporâneo, cidadãos habilitados a ir além do contexto em que vivem e que possam ser tradutores dos desafios que o século 21 nos impõe.

Sem uma política estruturante voltada para formação educacional e intelectual de todo o povo brasileiro, não possibilitaremos reflexões e formulações de subjetividades complexas capazes de enfrentar os desafios da contemporaneidade. Este é o caminho mais curto para a sociedade justa, democrática e sustentável que desejamos.

E, isso não acontece sem uma política arrojada de estímulo à leitura e à escrita. Temos que tratar este assunto com a seriedade que ele merece.

Lamentavelmente, como é do conhecimento de todos, tem sido baixíssimo o nível de leitura e de escrita entre nós. É gigantesco o analfabetismo funcional em todo o país. Três quartos de nossa população não possuem ferramentas que lhes permitam ler e interpretar o mundo à sua volta. E, apenas 8% da população brasileira tem plenas condições de compreender um texto e se expressar sobre ele. Este quadro de exclusão tem permanecido assim há décadas.

Continuamos atrás de nações muito pobres e em condições sociais bem inferiores às nossas. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Brasil está atrás de vizinhos sul-americanos como Equador, Venezuela, Peru, Colômbia e Paraguai, e de países como a Jordânia, a Líbia e o Vietnã, só para ilustrar.

No centro de todo este debate está o domínio da língua, não apenas como expressão de uma cultura e de uma identidade.
Onde estamos errando?

Como acontece no aprendizado de qualquer idioma, dominá-lo exige o desenvolvimento das quatro habilidades básicas: aprender a ler, a interpretar o que se leu, a verbalizar o conteúdo lido e, por fim, escrever sobre o que se leu de maneira crítica, emitindo opinião e exercitando a capacidade de reflexão. Essas, aliás, são as habilidades requeridas em qualquer exame de proficiência de um idioma.

A ausência do domínio dessas quatro habilidades mencionadas acima – praticadas em Portugal com o nome de “literacia” – é o que explica, em grande parte, o nosso alto grau de analfabetismo funcional. O foco no desenvolvimento dessas quatro habilidades, associado a todo um conjunto de políticas que as fortalecem e as retroalimentam, foi o caminho encontrado por Portugal para superar, em duas décadas, seu alto índice de analfabetismo. Nos anos 70, um em cada quatro portugueses não sabia ler. Hoje, são menos de 5%. Em sua maioria, são idosos que vivem em zonas do interior.

Tornar o desenvolvimento dessas habilidades uma prática cotidiana no ambiente escolar, nas bibliotecas, centros culturais e outros equipamentos culturais, e junto às famílias, não apenas nos fará superar o alto índice de analfabetismo funcional, nos afirmará globalmente. Por este meio, poderemos não só dar um salto quantitativo e qualitativo no desenvolvimento do país, assim como na nossa produção literária e também ampliar o acesso ao conhecimento e ao mundo das artes.

O domínio do idioma favorece não apenas a produção da chamada escrita criativa, ou seja, da literatura romanceada, de contos, crônicas e poesias ou a literatura socioantropológica e científica. Ele também é indispensável a todos que da língua fazem uso profissionalmente, ou não; comercialmente, ou não; seja ele artístico ou não; na música, no teatro, no cinema, nos quadrinhos, no rádio, no jornalismo, na TV, na internet, na publicidade, na produção e aplicação de tecnologias etc.

É inegável que quanto mais leitores, mais demanda haverá por escritores. Uma coisa está intimamente ligada à outra. Dito de outra maneira: leia para eu escrever, escreva para eu ler.

Belo Horizonte tem tudo para pôr em prática uma ação exemplar para todo o Brasil. Para operacionalizar um plano como este. Temos recursos humanos e materiais invejáveis à maioria dos municípios brasileiros; são 188 escolas voltadas à formação de nível fundamental, em tempo integral e para o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) no turno da noite, espalhadas por todos os territórios do município, além de 131 Unidades Municipais de Educação Infantil (Umeis); e também 32 equipamentos culturais da Secretaria Municipal de Cultura, entre eles, 17 centros culturais nas nove regiões administrativas do município. Além de museus, escolas de artes, centros de referência, arquivo público etc.

Não temos tempo a perder. O século 21 não apenas nos obriga a nos reinventar. Exige que ampliemos o conceito de leitura. Assim como tudo o que nos rodeia, também as bibliotecas, os centros culturais e as escolas não poderiam passar incólumes às grandes transformações de nosso tempo.

Para produzir os efeitos a que se destinam, eles devem estar em permanente transformação, não apenas em termos tecnológicos, estrito senso, mas também quanto à tecnologia de sua ação, em sua práxis, em suas técnicas de sedução, envolvimento, e no diálogo que consegue estabelecer com a população.

Nenhuma instituição, nenhuma política pública, ninguém, pode ficar indiferente ao cenário de grandes transformações que vivemos no mundo contemporâneo. Informações em profusão nunca estiveram tão acessíveis a grandes parcelas da população.

Em outras palavras, carecemos de uma atualização histórica neste campo. As bibliotecas e centros culturais que estão conseguindo se atualizar historicamente são espaços idealizados, ou adaptados, não apenas para garantir livre acesso à informação, para se ler, pesquisar e realizar deveres escolares, mas espaços que também sejam polos de atividades culturais, informações e lazer, ambientes de convivência e convergência, que fomentem o desenvolvimento de linguagens e promovam a produção de conteúdos e técnicas em base multimídia, impressa, audiovisual e digital, além de serem lócus para encontros e desenvolvimento de atividades conjuntas, ofertando diariamente diversas modalidades de oficinas, cursos, seminários, workshops de formação e capacitação; cursos livres (abertos a todos) de curta e média duração, voltados a ampliar o escopo da leitura e da escrita, da literatura, do conhecimento e da produção de conteúdos.

*Juca Ferreira é sociólogo, ex-ministro de Estado da Cultura, atual secretário de Cultura de Belo Horizonte.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)