André Naves*
São Paulo
"As necessidades humanas foram esquematizadas na famosa Pirâmide de Maslow, que vai da fisiologia à realização pessoal. Ela demonstra que as pessoas só atingem elevados patamares da criatividade e da realização pessoal depois de ter sido satisfeitos os requisitos básicos de sobrevivência, tais como alimentação, abrigo e repouso, entre outros.
Ou seja, as capacidades humanas voltadas para a inovação tecnológica, a criatividade artística, a eficiência no trabalho e o aproveitamento educacional só podem ser estimuladas por meio de uma rede articulada de iniciativas e políticas públicas que visem ao atendimento das necessidades mais essenciais
do ser humano.
A pena de Graciliano Ramos em 'Vidas secas' e as tintas de Cândido Portinari no quadro 'Retirantes' são ilustrações simbólicas dessas trevas desumanizantes, que tão mal fazem à sociedade. Personagens que de tão carentes de quaisquer elementos mais fundamentais a uma condição digna confundem-se com a paisagem agreste, com os animais esquálidos e com a vegetação inerte.
Nos centros urbanos, a miséria está estampada a cada esquina, nos sem teto que invadiram as ruas e, pedintes, desafiam a sensibilidade dos mais abastados. O único objetivo que os mantêm vivos é a luta pela sobrevivência. Buscam a superação, ainda que inconscientemente, dos primeiros degraus daquela pirâmide... E nessa jornada incessante, toda a energia criativa, inerente à condição humana, é desperdiçada.
Quantas ideias, quantas soluções, quantas inovações não se perderam, e ainda se perdem, nas brumas da exclusão social?"
* Defensor público federal, especialista em direitos humanos e sociais
