João Baptista Herkenhoff
VItória
“Dois modelos de educação podem ser concebidos. Um que se opõe a todas as mudanças estruturais porque defende a imobilidade social. ‘Que fique tudo como dantes no quartel de Abrantes’, como se dizia antigamente. Outro que pretende desnudar a realidade, denunciar a injustiça do sistema, negar a ideia de que alguns nascem para dominar e outros para ser dominados. Segundo o dito popular, ‘quem nasce para boi nunca chega a ferrão.’ Discorda também de uma mudança de papéis entre opressores e oprimidos, conforme retratado com sutileza pelos versos de João Mulato e Douradinho: ‘Na boiada já fui boi, o carreiro me bateu, o carreiro virou boi, o ferrão agora é meu’. O mundo pretendido pela educação libertadora é um mundo de fraternidade, sem espada e sem ferrão, sem coronéis que ordenam e boiada que obedece. Não foi, por mero acaso, que Paulo Freire foi preso pela ditadura de 1964, nem foi sem motivo que o emérito educador foi obrigado a exilar-se durante aquele sombrio tempo no Brasil.”