João Baptista Herkenhoff
Vitória – ES
“O presidente da República informou que não vai assinar o diploma que confere a Chico Buarque o Prêmio Camões. Ao saber dessa decisão do presidente da República, Chico Buarque ironizou que a ausência da assinatura do presidente valoriza o prêmio. Traduzindo sua ironia: a assinatura do presidente mancharia a láurea. Daqui a 50 anos, o nome do atual presidente figurará apenas na lista dos ex-presidentes, porque uma lista dessa natureza não pode omitir nenhum nome. Daqui a mil anos, as melodias de Chico Buarque ainda serão cantadas e ele será celebrado como um dos maiores compositores do Brasil. O poder político é passageiro.O poder das ideias é eterno. Somente quando o titular de poder político é também portador de ideias – um verdadeiro estadista – sua herança é preservada. Quando o titular do poder político é vazio de pensamento, sua lembrança dura o tempo do seu mandato. Como muito bem escreveu Joaquim Ferreira dos Santos, ‘Chico Buarque é a voz que nos resta, a veia que salta, aquele que torna suportável essa noite de mascarados e pigmeus do bulevar’. Sempre que tira o violão da capa e pega o dicionário de rimas, o país melhora. Poucos sabem que Chico Buarque viveu, por algum tempo, em Cachoeiro de Itapemirim. Seu pai foi promotor de Justiça e atuou, por algum tempo, na comarca de Cachoeiro. Consta que, no processo do qual resultou a aposentadoria compulsória de Vinicius de Moraes, foi escrito, como conclusão: ‘Vá trabalhar, vagabundo’. Chico Buarque, valendo-se do episódio, aproveitou a frase, que transformou em verso, numa de suas mais inspiradas composições.”