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Estado de Minas artigo

As duas Palestinas

Palestinos intensificaram o terrorismo, para viabilizar sua coalizão política, Netanyahu elevou como ministros militantes, cujos valores agridem a ética judaica


21/10/2023 04:00
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Zevi Ghivelder

Jornalista




Um suposto consenso internacional atribui o atual conflito em Gaza à estagnação da causa palestina. A frustração por não obter um estado independente teria motivado a carnificina de mais de mil cidadãos israelenses, perpetrada pelo partido fundamentalista islâmico Hamas que exerce poder ditatorial na Faixa de Gaza.
 
A dita causa é rigorosamente alheia à agenda do Hamas, cujo artigo número um em sua Carta de Constituição explicita a obrigação de seus fiéis de destruir Israel. Na verdade, a guerra agora em curso se deve justamente à oposição do Hamas à implantação de um estado palestino na Cisjordânia porque isso implicaria numa situação que considera inaceitável: a legitimação da existência de Israel.
 
A causa palestina foi deflagrada por Yasser Arafat ao criar a OLP, Organização de Libertação da Palestina, quando nada havia de palestino para ser liberado. A OLP data de 1964, três anos antes da Guerra dos Seis Dias, cuja consequência foi a ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza por parte de Israel. A ideologia da OLP era tão somente a prática do terrorismo. Não havia, então, sequer um centímetro quadrado de território ocupado.
 
A situação na Cisjordânia parecia alcançar uma condição favorável quando os acordos de Oslo, em 1993, deram origem à Autoridade Nacional Palestina, que tinha como braço político o partido Fatah e obteve autonomia administrativa na área ocupada. Os acordos fracassaram porque a OLP não abdicou de promover ações terroristas.
 
A Faixa de Gaza pertencia ao Egito até 1967, quando Israel a ocupou e dela se retirou, na esperança que aquele pequeno pedaço de terra viesse a ser o embrião de um estado palestino soberano. Mas o Hamas, poder dominante em Gaza, optou pelo terrorismo contra civis, além de disparar mísseis letais sobre Israel ano após ano.
 
Ao mesmo tempo, outro suposto consenso internacional ganhou curso: Gaza tinha se tornado uma prisão a céu aberto. De fato, Israel bloqueou os acessos a Gaza para impedir que terroristas entrassem em seu território. É algo similar ao que hoje é feito pelos Estados Unidos na fronteira com o México para impedir o ingresso de pacíficos imigrantes ilegais. Até a véspera do ataque terrorista do dia 7 de outubro, saíam diariamente da prisão a céu aberto 12 mil pessoas para trabalhar em Israel, o mesmo acontecendo com os palestinos da Cisjordânia, em número ainda maior.
 
A Partilha da Palestina Otomana, em 1947, contemplou um estado palestino, então recusado pelas lideranças árabes. A solução da questão palestina teve um ápice em 2000, numa cúpula mediada por Clinton, quando o governo trabalhista de Israel formulou uma proposta de paz com concessões que pareciam irrecusáveis. Arafat a refutou, justificando: “Se eu aceitasse a paz, seria assassinado pela Irmandade Muçulmana conforme aconteceu com Sadat”.
 
Desde a primeira vez em que assumiu o poder em Israel, em 2009, Benjamin Netanyahu não colocou em seu radar os conflitos com as duas Palestinas, a do Fatah e a do Hamas. Permaneceu fiel à antiga doutrina sionista revisionista, que pretendia uma pátria judaica estendida desde o Rio Jordão até o Mar Mediterrâneo, um desejo abolido na Partilha. Netanyahu, porém, sempre insistiu no expansionismo, incentivando a criação de assentamentos na Cisjordânia.
Os palestinos do Fatah e do Hamas intensificaram o terrorismo neste ano em que, para viabilizar sua coalizão política, Netanyahu elevou como ministros os militantes radicais Bem Gvir e Smotrich, figuras execráveis na vida pública de Israel, cujos valores agridem a ética judaica de justiça e tolerância formatada ao longo de milênios.
Há 50 anos, as falhas de segurança ocorridas na guerra do Yom Kippur (cuja cobertura fiz para a revista Manchete como enviado especial) determinaram o fim das carreiras políticas de duas personalidades icônicas, Golda Meir e Moshe Dayan. Ao cabo do atual conflito, o mesmo destino está reservado para Benjamin Netanyahu. 




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