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Estado de Minas Editorial

Risco econômico nas primárias argentinas

A inflação argentina, que está 115,6% em 12 meses, com juros em 118% ao ano, deve disparar


15/08/2023 04:00
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É forte a aversão ao risco no mercado financeiro após o resultado das eleições primárias na Argentina, em razão da vitória do candidato de extrema-direita Javier Milei, cujas principais propostas econômicas são dolarizar a economia e fechar o banco central do país. O político se apresenta como "anarcocapitalista".

A narrativa política de Milei também preocupa o mercado financeiro. Pretende proibir o aborto, legalizar a venda de órgãos e adotar outras medidas ultraconservadoras e polêmicas. A crise econômica desiludiu os argentinos com os partidos políticos e abriu as portas para Milei, que seduziu os jovens. O voto nas primárias, obrigatório para os adultos, é um ensaio geral para a eleição de 22 de outubro, uma indicação clara de quem é o favorito à Presidência.

A eleição de outubro afeta o enorme setor agrícola da Argentina, um dos maiores exportadores mundiais de soja, milho e carne bovina. São impactados os títulos públicos e as negociações do acordo sobre dívida de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A inflação argentina, que está 115,6% em 12 meses, com juros em 118% ao ano, deve disparar.

Somente neste ano, o peso argentino sofreu uma desvalorização de quase 40%. A dolarização da economia e o fim do câmbio negro são propostas que também seduzem a classe média argentina. Mas são medidas de curtíssimo prazo, que não enfrentam nenhum problema estrutural do país vizinho.

A Argentina ficaria totalmente dependente da política monetária dos Estados Unidos. Com isso, o Mercosul seria inviabilizado, mais uma vez, às vésperas de conseguir um acordo com a União Europeia. Se isso ocorrer, será um grande revés para a política de integração regional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

As primeiras reações do mercado financeiro argentino ontem foram péssimas: a cotação do dólar blue, extraoficial, chegou a 670 pesos. A reação do Banco Central argentino foi subir a taxa de juros e fixar o câmbio oficial em 350 pesos, até outubro, quando ocorrerão as eleições. Entretanto, a dolarização informal já está em curso, por causa do clima de instabilidade política e da derrota do candidato peronista, que ficou em terceiro lugar.

Com adoção do dólar como moeda oficial pelo governo, a dolarização seria completa e o peso argentino deixaria de circular. O principal impacto, segundo os especialistas, seria sobre as pessoas de baixa renda, que passariam a receber seus salários também em dólar, sem precisar mais trocar as moedas, sujeitas às fortes oscilações das taxas de câmbio.

O efeito mais imediato seria a estabilização dos preços, pois o governo do país não poderia mais emitir moeda. Teoricamente, os preços internos seriam equalizados aos preços dos produtos importados, para que haja competitividade e menos inflação.

O Brasil seria o país mais impactado por essa mudança. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil. As duas nações representam 63% da área total da América do Sul, 60% de sua população e 61% do PIB. Obtivemos saldo comercial positivo de US$ 2,2 bilhões com a Argentina em 2022. Foram US$ 15,3 bilhões em exportações para o país vizinho contra US$ 13,1 bilhões em importações de mercadorias argentinas.

Milei obteve mais de 30,5% dos votos, muito acima do previsto, com o principal bloco conservador de oposição bem atrás, com 28%; e a coalizão governista peronista ficou em terceiro lugar, com 27%. Dentro da coalizão Juntos pela Mudança, a candidata conservadora Patrícia Bullrich, ex-ministra da Segurança, venceu o moderado prefeito de Buenos Aires Horácio Larreta, que prometeu apoiar a campanha dela.

O ministro da Economia, Sergio Massa, candidato peronista, sofreu uma derrota anunciada: era o candidato errado no momento errado, pois quatro de cada dez argentinos estão abaixo da linha de pobreza. Essa foi a maior derrota eleitoral dos peronistas na história.


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